E as varandas, que nos abrem uma
fresta para a vida, requerem aqui a palavra poética de
Teresa Subtil
Vão de infinitos
É a varanda de grades da cor do tempo
que me leva em breve enleio e receio de entardecer.
É na varanda solta no descampado do olhar
que me debruço e me encontro na árvore onde me fiz
É o toque na parreira de pele retesada
e rasgada que me diz da erupção que sentia
e das escadas que subia e descia,
querendo entender-me no emaranhado da vida.
Era em vão de infinitos que a varanda se espraiava.
E eu, debruçada, a sentir-me nada, não cabia em mim.
E eu, num chão de inquietudes a agigantar-me
para as dúvidas que nunca resolvi.
Aninhada em ti,
parecia que a aldeia ao longe era igual à minha,
embora a raia nos falasse de outra língua
e de outro país. Na minha varanda percebia a raia
e adivinhava que nem a vinha, nem a aldeia que avistava,
encobriam o reboliço do rio
que bem fundo cavava o fragaredo.
Nem eu nem o rio conhecíamos limites
e apesar do aperto e da inquietude,
saltávamos e corríamos
na pressa dum tempo a descobrir.
E também na doce língua mirandesa. Debrucemo-nos e, juntamente com o rio, saltemos e corramos na pressa de um tempo a descobrir, através da nossa imaginação.
Preça d'anfenitos
Ye la baranda de grades de la quedor de l tiempo
que me lhieba an brebe anleio i arrecelo d'entardecer.
Ye na baranda suolta ne l çcampado de l mirar
que m'astribo i m'antronco n'arble adonde me fiç.
Y l toque na parreia de piel retesada
i resgada que me diç de l manantial que sentie
i de las scaleiras que chubie i abaixaba,
querendo antender-me ne l eimaranhado de la bida.
Era an preça d'anfenitos que la baranda se spraiaba.
I you, debruçada, a sentir-me nada, num cabie an mi.
I you, nun suolo d'anquietudes a agigantar-me
pa las dúbedas que nunca resolbi.
Arrimada a ti,
parecie que l'aldé al loinge era eigual a la mie,
anque la raia mos falasse d'outra lhéngua
e d'outro paiç. Na mie baranda percebie la raia
i çcunfiaba que nien la binha, nien l'aldé q'abistaba,
tapában l reboliço de l riu
que bien fondo scababa l fragaredo.
Nien you nien l riu coinciemos lhemites
i indas que l aperto i l'anquietude,
saltábamos i corríemos
na priessa d'un tiempo a çcubrir.
=====
Poema: Teresa Subtil - Rio de Infinitos/Riu d'Anfenitos - pgs 14/15
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As varandas - nossas aliadas
Imagem: pixabay
Bom dia:- Que agradável deve ser morar numa casa assim à beira rio. O poema é a perfeição poética. Gostei muito de ler
ResponderEliminar.
Uma Sexta Feira feliz
Linda poesia e das varandas ,tanto podemos ver...Feliz primavera! Saúde! bjs, chica
ResponderEliminarQuerida Olinda!
ResponderEliminarTer a honra de Ella Fitzgerald a acompanhar o meu poema e senti-lo no seu espaço é algo que me faz abrir as portadas, encostar-me ao gradeado da varanda e elevar os braços ao céu.
As varandas- nossas alianças.
E essa foto é um poema tocante.
Bem haja!
Abraço imenso.
míticas varandas.
ResponderEliminare vãos de infinitos que são pórticos.
ou arcos a ligar os tempos. e as cumplicidades
abraço arrotchado (para ambas)
Soltem os pássaros
ResponderEliminarBj
Boa noite de paz e saúde, querida amiga Olinda!
ResponderEliminarQue vídeo suave na hora da tardinha aqui e num doce momento meu ele veio!
Estou bem assim como na varanda na tardinha outonal... Leve e feliz.
Desejo-lhe o mesmo, minha querida.
Justamente aninhada do meu "ti" ... Seu post me encontrou.
Beleza de poesia e postagem como um todo.
Relaxei mais, muito obrigada.
Tenha dias abençoados na proteção contra o vírus malvado!
Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem
Que as varandas não nos assustem.
ResponderEliminarElas são os nossos nosso escudo.
Poema de tamanha beleza.
Trocando v por b.
Adorei ler e até me ri um pouco a ouvir - me.
Ler mirandês é engraçado.
Paz no seu coração.💐
Megy Maia
Só uma palavra: lindíssimo este «post», estas escolhas! Tão adequado ao momento, mas de uma visão poética tão bela...
ResponderEliminarBeijo
Na pressa dum tempo a descobrir, descubro sempre uma enorme sensibilidade poética na Poesia da Teresa. O poema é muito belo e a fotografia, uma varanda sobre o rio, é muito sugestiva. E foi um prazer ouvir a Ella Fitzgerald.
ResponderEliminarViva a Poesia!
Um beijo, minha Amiga Olinda.
Delícia de Poema!
ResponderEliminarMágica a imagem que induz Miranda debruçada sobre o País.
Sem outras palavras, porque seriam empobrecedoras do ouro que aqui nos é dado.
Parabéns á Teresa pelo Poema e á Olinda pelo destaque.
Beijo a ambas
SOL
Linda postagem, Olinda, com o belo poema da Teresa e o vídeo com a música da grande Ella Fitzgerald, cantora tão especial e talentosa.
ResponderEliminar"... e me encontro na árvore onde me fiz". Hoje, além de ser o Dia Mundial da Poesia, é, também, o Dia Mundial da Árvore.
Espero que tu estejas bem e tomando cuidado neste momento estranho da nossa história, um abraço.
Caro Ulisses
EliminarGrata por assinalar aqui o dia Mundial da Poesia e, coincidentemente, o Dia Mundial da Árvore. O poema da nossa querida Teresa Subtil presta-se a essa tua leitura, atenta e sensível. E leitura nossa.
Festejemos sim essas duas vertentes da vida, oxigénio tão necessário à nossa sobrevivência, espiritual e material.
Por cá, lidando com esse inimigo invisível e cruel. Espero que também estejas bem assim como todos os que rodeiam. "Navegar é preciso".
Abraço.
Olinda
Ficamos a contemplar a beleza do poema, de todas as nossas varandas possíveis.
ResponderEliminarbeijos, querida Olinda.
:)
Deixo beijos e abraços de gratidão e cumplicidade.
ResponderEliminarQue viva a vida! E que a saibamos festejar!