sexta-feira, 9 de março de 2018

Momento

Em repouso, em ensimesmada indolência
cai a folha. A mão nupcial
desliza no ócio azul em ágeis graças
ou lentas cortesias. Um desenlace de matizes
no fundo da água e no fundo da retina.
Tantos tesouros líquidos, tanta minúcia imensa!
Tudo aqui nega o caos desde as raízes à cúpula
em transparência de clara primavera.
O ar é a ligeireza de um animal
que refresca os mais íntimos bosques
com a diafaneidade alegre das suas veias.

António Ramos Rosa
   (1924-2013)

in: Facilidade do Ar
pg
.42




(...)

Estamos, portanto, em presença de um autor que persegue palavras sempre ditas pela primeira vez, palavras inaugurais, que nos são oferecidas como uma espécie de promessa que permanece suspensa no limiar de si mesma e no horizonte de sentido que nos comunica. (...)

Fernando Pinto do Amaral


====

Imagem: Desenho de António Ramos - aqui 

15 comentários:

  1. Gostei de ler. Não conheço muito da sua obra, mas o que conheci até agora agrada-me.
    Um abraço e bom fim de semana, se S. Pedro deixar. Por aqui está um vento que anda tudo pelos ares.

    ResponderEliminar
  2. Tendo lido as partilhas poéticas de António Ramos Rosa e a excelente análise de Fernando Pinto do Amaral, apenas me atrevo a dizer: lemos e penetramos em outra dimensão pela sublime linguística do poeta.
    Bjinhos, Olinda

    ResponderEliminar
  3. https://poemasdaminhalma.blogspot.pt/
    Olá Olinda, belo poema...Momento em repouso", de António Ramos Rosa. Gostei, apesar de não conhecer o autor.
    beijinho e bom fim de semana.
    Luisa fernandes

    ResponderEliminar
  4. Com palavras comuns, uma forma tão peculiar de tratar a beleza e que passa pela cumplicidade que A. Ramos Rosa alberga no seu vocabulário poético.
    Óptima escolha, Olinda
    Beijinho

    ResponderEliminar

  5. "Tudo aqui nega o caos desde as raízes à cúpula"

    o poeta, demiurgo, organizador de acasos!

    abraço, Olinda

    ResponderEliminar
  6. Poema e Prefácio, DIVINAIS!
    Não há palavras para dizer do sentir de tais palavras.
    Escolha feliz.


    Beijo
    SOL

    ResponderEliminar
  7. Olinda que bom foi ler e ver António Ramos Rosa!
    Obrigada, amiga!
    (Hoje dei por mim a pensar no nome do teu blogue: é LINDO,LINDO!)
    Beijo e bom fim-de-semana.

    ResponderEliminar
  8. Boa noite Olinda!
    Embora não conhecer o trabalho do poeta, gostei muito.
    Obrigada pela partilha!
    Um ótimo fim de semana!
    Um abraço!
    (Tem atualização por lá.)
    Escrevinhados da Vida

    ResponderEliminar
  9. OI OLINDA!
    NÃO CONHECIA O TRABALHO DO POETA QUE NOS TRAZES, MAS VALEU MUITO A PARTILHA, O POEMA É LINDO.
    ABRÇS
    https://zilanicelia.blogspot.com.br/

    ResponderEliminar
  10. Palavras de Ramos Rosa. E está tudo dito. É um poeta que nunca nos canso de ler e sempre descubro algo em que não tinha reparado.
    Uma boa semana, Olinda.
    Um beijo.

    ResponderEliminar
  11. O belo equilíbrio na assimetria
    das palavras
    que nos interrogam

    ResponderEliminar
  12. Um olhar que aflora os sentidos do bosque. Parece ter, na palavra, o poder de refrescar o momento para nos oferecer um mundo novo.

    Beijinho, Olinda.

    ResponderEliminar
  13. Um momento tocante..

    Obrigada pela visita

    ResponderEliminar
  14. Um belo poema, uma linguagem encantadora
    e desenhos curiosos e especiais.
    ~~~ Beijinhos, Amiga ~~~

    ResponderEliminar
  15. ... e, claro, o traço minimalista, mas simultaneamente cheio, também agrada aos sentidos.
    abraço.
    jorge

    ResponderEliminar