sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Oh mundo, oh sombra, oh zombaria, oh nada!




À variedade do mundo

Este nasce, outro morre, acolá soa
Um ribeiro que corre, aqui suave,
Um rouxinol se queixa brando e grave,
Um leão c'o rugido o monte atroa.

Aqui corre uma fera, acolá voa
C'o grãozinho na boca ao ninho üa ave,
Um demba o edifício, outro ergue a trave,
Um caça, outro pesca, outro enferoa.

Um nas armas se alista, outro as pendura
An soberbo Ministro aquele adora,
Outro segue do Paço a sombra amada,

Este muda de amor, aquele atura.
Do bem, de que um se alegra, o outro chora...
Oh mundo, oh sombra, oh zombaria, oh nada!

      (1610-1663)

Poeta, magistrado. Alguns dos seus poemas foram reunidos na Fénix Renascida.
A maior parte da sua obra, em verso e em prosa, nunca veio a lume.

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Poema: in Projecto Vercial
Imagem: Pixabay

4 comentários:

  1. Sábios homens do Barroco! O ser e o parecer...

    Sábia a tua escolha.

    Beijo amigo

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  2. sábios os homens que não se levam a sério.

    nem se inflamam com os ventos.

    abraço

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  3. A variedade do mundo deste escritor barroco não é nada diferente da de agora... "Oh mundo, oh sombra, oh zombaria, oh nada!"
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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