Foi-se tudo
como areia fina escoada pelos dedos.
Mãe! aqui me tens,
metade de mim,
sem saber que metade me pertence.
Aqui me tens,
de gestos saqueados,
onde resta a saudade de ti
e do teu mundo de medos.
Meus braços, vê-os, estão gastos
de pedir luz
e de roubar distâncias.
Meus braços
cruzados
em cruz de calvário dos meus degredos.
Ai que isto de correr pela vida,
dissipando a riqueza que me deste,
de levar em cada beijo
a pureza que pariste e embalaste,
ai, mãe, só um louco ou um Messias
estendendo a face de justo
só um louco, ou um poeta ou um Cristo
poderá beijar as rosas que os espinhos sangram
e, embora rasgado, beber o perfume
e continuar cantando.
Mãe! tu nunca previste
as geadas e os bichos
roendo os campos adubados
e o vizinho largando a fúria dos rebanhos
pela flor menina dos meus prados.
E assim, geraste-me despido
como as ervas,
e não olhaste os pegos nem as cobras,
verdes, viscosas, espreitando dos nichos.
De mão nua, entregaste-me ao destino.
Os anjos ficaram lá em cima, cobardes, ansiosos.
E sem elmos ou gibões,
nem lutei nem vivi:
fiquei quieto, absorto, em lágrimas
— e lá ao fundo esperavam-me valados
e chacais rancorosos.
restos de mim.
Guarda-me contigo agora,
que és tu a minha justiça e o exílio
do perdido e do achado.
Guarda-me contigo agora
e adormece-me as feridas
com as guitarras do fado.
Mas caberá no teu regaço
Mas caberá no teu regaço
o fantasma do perdido?
in "Mar de Sargaços"
(1919-1989)
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Em 9/05/2017
Meus amigos:
Já me encontro em solo pátrio, sã e salva. :)
Muito obrigada pelas vossas visitas.
Tenham uma óptima semana.
Abraço
Olinda
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Em 9/05/2017
Meus amigos:
Já me encontro em solo pátrio, sã e salva. :)
Muito obrigada pelas vossas visitas.
Tenham uma óptima semana.
Abraço
Olinda
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Poema e imagens: Internet
Um poema doloroso, realista e franco,
ResponderEliminarde uma qualidade literária notável.
Nem para todos este dia é feliz, a
maioria vive-o entre a nostalgia e
o carinho dos presentes.
Grande abraço, Amiga.
~~~~~~~~~
É um poema lindo. De Namora só conheço a prosa.
ResponderEliminarObrigada pela partilha
Um abraço
"O bom filho a casa torna" - uma síntese do poema, sendo a casa a significância da semântica de mãe, o ser de acolhimento, por natureza e excelência.
ResponderEliminarBelíssima partilha, Olinda.
(De volta e bem. Que bom!)
Bjinho
Meu Deus, que poema mais lindo!
ResponderEliminarDesconhecia a veia poética de Fernando Namora. Obrigada, Olinda, por me abrires os olhos.
Que nunca te canses de partilhar coisas lindas.
Beijo.
Senti cada palavra deste poema de Fernando Namora como se fosse meu... Maravilhoso!
ResponderEliminarUma boa semana, Olinda.
Um beijo.
"Foi-se tudo", que frase tão contundente!
ResponderEliminarHá dias em que tudo se esvai, como se a vida não passasse de um punhado de grão de areia.
Beijo, amiga Olinda.
Querida Olinda
ResponderEliminarFernando Namora, sempre! Para mim... um dos melhores.
Este poema é espectacular, bem diferente dos habituais poemas dirigidos às mães.
Obrigada pela muito feliz escolha e partilha.
Fico contente por te encontrares em "solo pátrio" e, acima de tudo, "sã e salva" :)
Votos de uma semana muito feliz.
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS
E, como diz a nossa amiga, Majo, nem sempre o dia dedicado às mães é de alegria; passei-o já em " solo pátrio " com a casa cheia, mas o coração partido; tinha acabdo de deixar um mãe abalada e um pai já bastante ausente da realidade e uma melancolia tem-me acompanhado desde que cheguei. Mas as opções foram feitas e não há como voltae atrás; a vida segue, feito " trem bala" e não devemos desperdiçar um minuto sequer com lamentos; as tristezas são inevitáveis e portanto também devemos permitir que nos acompanhem neste trem. Olinda, adorei este poema que desconhecia e agradeço-te imenso a partilha. Deixo-te um beijinho muito especial e o meu muito obrigada por te teres lembrado de mim neste tempo de ausência. Até sempre, querida amiga.
ResponderEliminarEmilia
Uma excelente escolha, gosto imenso de ler Fernando Namora, em prosa e em poesia.
ResponderEliminarBeijinhos
Maria
Um data que deveria trazer alegria mas nem sempre é assim.
ResponderEliminarHá tantas lacunas nessa relação mãe x filho
Filhos que já perderam suas mães, mães que puderam ficar com seus filhos, filhos órfãos de mães viva. O poeta delineou com maestria essa relação
Uma belíssima escolha e uma partilha incrível Olinda
Beijos
Tudo é miseravelmente pouco quando a palavra é MÃE.
ResponderEliminarE como que finalizando esta comemoração, quero agradecer , querida Olinda, as suas palavras, elo que nos une quânticamente.
Beijinho! :) **