sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Os ministros de pena

Eu não sei como não treme a mão a todos os ministros de pena, e muito mais àqueles que sobre um joelho aos pés do rei recebem os seus oráculos, e os interpretam e estendem. Eles são os que com um advérbio podem limitar ou ampliar as fortunas; eles os que com uma cifra podem adiantar direitos, e atrasar preferências; eles os que com uma palavra podem dar ou tirar peso à balança da justiça; eles os que com uma cláusula equívoca ou menos clara, podem deixar duvidoso, e em questão, o que havia de ser certo e efectivo; eles os que com meter ou não meter um papel, podem chegar a introduzir a quem quiserem, e desviar e excluir a quem não quiserem; eles, finalmente, os que dão a última forma às resoluções soberanas, de que depende o ser ou não ser de tudo. Todas as penas, como as ervas, têm a sua virtude; mas as que estão mais chegadas à fonte do poder são as que prevalecem sempre a todas as outras. São por ofício, ou artifício, como as penas da águia, das quais dizem os naturais, que postas entre as penas das outras aves, a todas comem e desfazem. 




Foi concluída a edição da Obra Completa de Padre António Vieira num total de 30 volumes, e celebrada no passado dia 3, em Lisboa. A conclusão da publicação contou com a participação dos professores e ensaístas Eduardo Lourenço, Carlos Reis e Viriato Soromenho-Marques. 

A Obra Completa do Padre António Vieira, num total de 15.000 páginas, começou a ser publicada em abril de 2013 e foi considerada pelo historiador José Eduardo Franco, um dos seus coordenadores, “o maior projeto da história editorial portuguesa”. O historiador realçou que, “destas 15.000 páginas, cerca de um quarto são de inéditos ou textos parcialmente inéditos, nomeadamente teatro e poesia, da autoria de Vieira, que até os investigadores desconheciam”. ver aqui


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Excerto trazido de O Citador. Inclusivamente o título.
Imagem - daqui

11 comentários:

  1. Aos actuais, nem a mão, nem a consciência...
    Beijinhos :)

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  2. Texto fantástico do Padre António Vieira e também muito actual, porque esses " ministros de pena " são uma " fartura nos tempos de hoje e no nosso país parece que aumentam, a cada dia.Não sabia desse acontecimento em Lisboa no passado dia 3, Olinda, o que mostra a mentalidade cada vez mais pobre dos nossos governantes no que concerne à cultura.Mesmo os meios de comunicação parecem começar a dar cada vez menos importância à cultura e agora, numa altura em que se fala tanto de pobreza material não poderiam deixar de assinalar esta data. Mas houve quem o fizeste que foste tu, Olinda. Obrigada pela informação. Sabia que o Padre António Vieira era um Grande escritor, mas não imaginava que fosse tão Grande. Beijinho e um bom fim de semana
    Emília

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  3. Tenho pena de quem pena pena de quem penas tem
    tenho pena de mim mesmo
    que peno mais que ninguém

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  4. Certamente, uma rica obra. E com textos inéditos! A sabedoria e o talento do Padre Antonio Vieira são inegáveis. O texto que transcreveu, há tanto tempo escrito, nunca perderá a propriedade, eis que esse poder, usado para o mal, não finda. Bjs.

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  5. Boa noite Olinda,
    É de mim, ou esse trecho do texto que transcreveu, parece obra atual, destes nossos dias ...?
    Fica-me a dúvida rrrrsssss

    bj amg

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  6. ~ ~ Sabia do testemunho de uma personagem inteligente, íntegra, altruísta e eloquente.

    ~ ~ Não imaginava o alcance da sua prolificidade...

    ~ ~ ~ Dias agradáveis e bem soalheiros. ~ ~ ~

    ~ ~ ~ ~ Abraço amigo, ~ ~ ~ ~
    ~

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  7. Muitos escritores no passado escreveram e reclamaram por mais e melhor justiça . Estavam cansados de ver as mordomias e muitas outras benesses concedidas a uns e negadas aos outros - a maioria.
    Este texto parece contemporâneo.

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  8. Não tremem, fazem-nos é tremer!!!
    Beijinhos, bom sábado :)

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  9. |^‿^|❀

    Un petit bonjour amical chez toi ce dimanche !!

    J'adore venir flâner sur ton blog.

    GROSSES BISES d'Asie ! Bon week-end Olinda !

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  10. Aplica-se perfeitamente aos nossos dias.
    Bom domingo
    Beijinhos
    Maria

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  11. Confesso que do (muito pouco) que li, não fiquei suficientemente 'preso' para voltar a ler. Provavelmente, admito-o, porque me perco por outros universos.
    Sem, claro, lhe retirar ou beliscar a sua importância na nossa Língua.
    Abraço.

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