segunda-feira, 9 de julho de 2012

A origem do mundo

A primeira vez que li um poema de Nuno Júdice foi no blogue da minha amiga Isabel, Luz de África. Fiquei tão apaixonada pela sua maneira de escrever que o li várias vezes e trouxe-o comigo. O título do poema: Metamorfose. Tornei-me numa admiradora fervorosa do poeta.

O poema que hoje aqui trago, A origem do mundo, não poderia vir mais a propósito para o tema mundo, aqui em vigor por estes dias e, não há dúvida, Nuno Júdice sabe destas coisas. O nascer do dia, a alvorada e a estrela d' alva a anunciarem um novo dia, o cheirinho de ervas molhadas pelo orvalho, a terra macia a convidar-nos acordar para a vida, tornando-se as nossas raízes mais resistentes às intempéries que, porventura, nos balancem.

Tomemos uma chávena de café na companhia do poeta e apreciemos todo o manancial de luz que as suas palavras nos transmite: 


A origem do mundo

De manhã, apanho as ervas do quintal. A terra, 
ainda fresca, sai com as raízes; e mistura-se com 
a névoa da madrugada. O mundo, então, 
fica ao contrário: o céu, que não vejo, está 
por baixo da terra; e as raízes sobem 
numa direcção invisível. De dentro 
de casa, porém, um cheiro a café chama 
por mim: como se alguém me dissesse 
que é preciso acordar, uma segunda vez, 
para que as raízes cresçam por dentro da 
terra e a névoa, dissipando-se, deixe ver o azul.


Nuno Júdice, in Meditação sobre Ruínas


E eu que sou uma criatura matinal, vejo que o Sol entra pelas frinchas do estore da minha janela, avisando-me que se faz tarde, porque é que hoje me deixei ficar, que lá fora está estuante de vida, bora tomar o café,  o pequeno-almoço, o petit déjeuner, o mata-bicho, o breakfast, o café da manhã, onde quer que eu esteja agora, não interessa...  


Poema de Nuno Júdice retirado do Citador
Imagem da chávena de café retirada da Internet
Foto janela: minha
 




22 comentários:

  1. Gosto de Nuno Júdice...o que não é muito comum,
    a avaliar pelos Posts por mim editados...??!!!!
    Beijo

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    1. Olá, Andradarte

      :)

      Obrigada.

      Bom fim de semana.

      Abraço

      Olinda

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  2. Que bonita a poesia! E eu que não costumo gostar dela...

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    1. Olá, PauloSilva

      Eu então tanto gosto de poesia como de prosa. :)

      Obrigada.

      Abraço

      Olinda

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  3. Muito linda esta poesia.
    Só mesmo a mente de um poeta consegue traduzir em palavras este momento mágico!

    Bjussss

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    1. Sem dúvida, marciagrega. E envolver-nos na sua forma de ver o mundo...

      Bjs

      Olinda

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  4. Minha querida

    Que bela escolha...adoro a poesia de Nuno Júdice e estes poemas são lindos.


    Um beijinho com carinho
    Sonhadora

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    1. querida Sonhadora

      É sempre um prazer a sua visita.

      Obrigada-

      Bjs

      Olinda

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  5. Eu acredito que a melhor leitura que fazemos é aquela que se descobre um mundo em nós, e foi o que o Nuno fez contigo. E é o que os seus textos fazem conosco, cada vez que viemos aqui lê-la!

    Além do meu beijo grande, do meu carinho e da minha admiração, vim deixar um agradecimento pela sua companhia que me é tão valorosa e querida, durante sempre, por não me teres abandonado quando eu própria me abandonei, obrigada, viu Olinda?

    Um beijão minha queridona!

    ;)

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    1. Minha querida amiga

      Fiquei feliz com a tua visita e com as palavras carinhosas e cheias de apreço que me trouxeste.

      Quanto ao poema, de Nuno Júdice, que me serviu de mote neste post, sabes como é, o poeta depois de largar os seus poemas nas bocas do mundo já não os controla. E, então, lemo-los de conformidade com o que sentimos, adaptando-os muitas vezes à nossa próprias necessidades...

      Também fiquei feliz com o teu regresso que foi em grande, com o teu poema 'efêmero' e o texto 'inquietude'. Ler-te é um privilégio, amiga, e eu é que tenho a agradecer-te a generosidade em nos disponibilizares os teus escritos.

      :)

      Outro beijão

      Olinda

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  6. Estupenda maneira de começar o dia, obrigada.

    E, agora por isso, vou beber café, rrss

    Um abraço, amiga

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    1. E creia, São, que eu gosto de toda aquela ambiência que o poema contém... e também de um bom café. :)

      Bjs

      Olinda

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  7. Uma escolha belíssima...cujo conteúdo poderia dar "pano para mangas"!
    Hoje faço bodas de prata! Sim, 25 aninhos de casamento...
    Ontem a minha irmã fez anos...
    Hoje sou eu que tenho de dar um presente ao Zé por me aturar há meio século...

    BJUSSSSSSSSSS

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    1. Querida BlueShell

      Muitos parabéns pelo aniversário da tua irmã e pelos teus 25 aninhos de casamento. :) Parabéns extensivos ao teu marido.
      Já fui ao teu blog.

      Beijinhos

      Olinda

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  8. Olá, Olindinha!
    ;)
    Olh. Li o poema que não conhecia; Julgando que Judice nos dizia; Ser a origem do mundo, quando o dia nascia; Ou, quando conseguiamos ver, aquilo que se não via.
    Mas não.
    A origem do mundo, não é essa. É; Quando de manhã, depois de nos pormos a pé; Sentimos, vindo de dentro, o cheirinho apetitoso, de uma chávena de café; Percebemos então que o mundo nasce para nós, como o dó nasceu para o mi, o fá para o lá e para o si e o sol nasceu para o ré.
    ;))))
    Um beijinho, minha amiga!!!

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    1. :)

      Ah! meu amigo Bartolomeu, como percebeste tudo tão bem! :))

      Pois, nesta correlação de forças entre uma chaveninha de café e as notas musicais com todas as suas variações, bemois, sustenidos, pausas, colcheias, semi-colcheias, com a clave de sol e o ‘Sole mio’ a marcar o compasso, é que, verdadeiramente, nos sentimos realizados. :)))

      E como não podia deixar de ser, não dispenso o poema de Nuno Júdice neste grandioso concerto do mundo.

      :)

      Grande abraço.

      Olinda

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  9. a origem do mundo
    eu acho que o mundo teve origem no dia anterior a ter nascido...

    jajaja

    abrazo serrano

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    1. nem mais, caro mixtu...e se virmos bem as coisas a origem do mundo até pode ser, mesmo mesmo, no momento em que nascemos.

      :)

      abraço.

      Olinda

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  10. Amiga Olinda não conhecia o Nuno.
    Porém vejo que suas letras são temperos para a alma.
    Elas são acalentadoras, balsâmicas e leves.
    Como sempre, passar por aqui é degustar com o coração para alimentar a alma.
    Um abração, um beijo.

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    1. Caro Antônio

      Palavras saborosas que me trouxe, na apreciação deste poema. Concordo consigo, a alma precisa ser temperada com carinho e com momentos que nos mostrem como é bom tudo o que há na terra, no céu, no mar e em todos os recantos. Depois da criação do mundo,ao sétimo dia Deus parou para descansar e admirar a sua obra... e gostou. A citação não fará jus ao que vem na Bíblia, mas é mais ou menos isto... :)

      Abraço.

      Olinda

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  11. É quase madrugada mas, mesmo assim, tomei o cafezinho, para ficar alerta e ler as três excelentes postagens.Todas referentes à nossa imensa habitada, por grandes poetas, desde sempre. Nada mudou tanto, já estamos chegando à partícula de Deus...Quantas descobertas, neste maravilhoso planeta....

    Tenho Os Lusíadas, não conhecia Nuno Judice. Conheci Drummond, pessoalmente, no Ministério da Educação. Sou tão apaixonada por ele, que tirei fotos junto à sua estátua, sentados num banco, na praia de Copacabana, no Rio.

    Saio mais rica hoje: sei mais de Mundo, de poetas e de vida...

    Beijinhos, Olinda,
    da Lúcia

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  12. Querida amiga Lúcia

    Um cafezinho que considero tomado e saboreado na sua companhia, conversando sobre temas variados e, acima de tudo, admirando a perfeição do universo, o nascer do Sol que nos anuncia magias, mistérios e um concerto de que fazemos parte, no qual temos um papel preponderante. Aliás, somos ou não somos a perfeita imagem dos dons de Deus, criados à sua semelhança, uma das suas partículas? :) É muito bom pensarmos assim...

    Minha querida, muito obrigada pelas suas palavras, a sua visita que me dá sempre um grande prazer.

    Beijinhos

    Olinda

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