domingo, 13 de fevereiro de 2011

DANÇAS DE ACASALAMENTO

Era meio-dia e tal, talvez, de hoje. Eu estava entretida a temperar a carne para assar na panela ou no tacho à moda da minha mãe, ou quase, tendo em conta que aldrabo sempre nos temperos. Tinha o televisor ligado e sabia que estava a decorrer a transmissão de um programa sobre pássaros, mostrando as características e técnicas do seu acasalamento. Ia pondo no almofariz três dentes de alho, um pouco de sal, um caldo knorr (inovação minha) quando, olhando de soslaio, vi um pássaro pendurado num ramo, de cabeça para baixo, executando a arte de sedução mais surpreendente que eu já vira. Tinha posicionado as penas azuis em leque de uma forma etérea, uma parte no meio tinha um tom avermelhado de contornos bem definidos e alguns tons de castanho-claro ou bege assim mais para o lado. Nessa posição ia executando um bailado rítmico e emitindo um som pouco audível para o ouvido humano mas que a tecnologia apanhava. Nesta altura eu já estava completamente rendida, pondo em risco o cozinhado para o almoço que a família aguardava já com ansiedade. Eu não via a destinatária destas atenções e parece que o pássaro também chegou à conclusão de que se não mudasse de sítio e não se chegasse para mais perto todo o seu trabalho estaria perdido. Em dois saltos colocou-se uns ramos abaixo mesmo por baixo da fêmea que não tinha nada de especial, digo eu, penas acastanhadas ou por aí. Mas o nosso amigo não achava a mesma coisa.Pendurou-se de cabeça para baixo e recomeçou o bailado com todo o afinco de uma forma belíssima. A fêmea pôs-se a olhar atentamente, virando o pescoço para um lado e olhava, olhava, punha o pescoço para o outro lado e olhava, olhava, alongava o pescoço para a frente olhava, olhava, tudo com uma atenção desmedida e de uma forma calculista, diria eu. Entretanto a voz off surgiu a dizer que o passáro estava a expor a sua intimidade e aquele era um momento mesmo muito íntimo. A pássara deu mais uma ou duas olhadelas, por fim, virou as costas desinteressada e foi-se embora. O pássaro descoroçoado saiu da posição e foi a voar aos saltinhos e piando sem forças. A voz off fez-se ouvir de novo:A fêmea é quem decide, como sempre. 


Sábios irmãos pássaros...
  

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