Quando um ramo de doze badaladas
se espalhava nos móveis e tu vinhas
solstício de mel pelas escadas
de um sentimento com nozes e com pinhas,
menino eras de lenha e crepitavas
porque do fogo o nome antigo tinhas
e em sua eternidade colocavas
o que a infância pedia às andorinhas.
Depois nas folhas secas te envolvias
de trezentos e muitos lerdos dias
e eras um sol na sombra flagelado.
O fel que por nós bebes te liberta
e no manso natal que te conserta
só tu ficaste a ti acostumado.
Natália Correia,
de um sentimento com nozes e com pinhas,
menino eras de lenha e crepitavas
porque do fogo o nome antigo tinhas
e em sua eternidade colocavas
o que a infância pedia às andorinhas.
Depois nas folhas secas te envolvias
de trezentos e muitos lerdos dias
e eras um sol na sombra flagelado.
O fel que por nós bebes te liberta
e no manso natal que te conserta
só tu ficaste a ti acostumado.
Natália Correia,
in 'O Dilúvio e a Pomba'
Natália de Oliveira Correia (1923 -1993) foi uma escritora e poeta portuguesa, nascida nos Açores.
A obra de Natália Correia estende-se por géneros variados, desde a poesia ao romance, teatro e ensaio. Durante as décadas de 1950 e 1960, na sua casa reunia-se uma das mais vibrantes tertúlias de Lisboa, onde compareciam as mais destacadas figuras das artes, das letras e da política (oposicionista) portuguesas e também internacionais. A partir de 1971, essas reuniões passaram a ter lugar no bar Botequim. Ficou conhecida pela sua personalidade livre de convenções sociais, vigorosa e polémica, que se reflecte na sua escrita. A sua obra está traduzida em várias línguas.
Ver mais aqui
Medley músicas de Natal nos
Açores
Abraços, amigos.
Olinda
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Imagem: pixabay
Poema _ citador
Veja Natália Correia aqui, no Xaile de Seda
Boa tardinha de paz, querida amiga Olinda!
ResponderEliminarLindo o vídeo, estou ouvindo.
Quando temos quem nos fale de amor, tudo é diferente e o perfume do mel inebria nosso olfato de forma afetiva.
Um belo poema nos oferece e a autora é muito inspirada.
A ocasião nos favorece a sensibilidade.
Tenha dias de dezembro abençoados!
Beijinhos fraternos
Querida Rosélia
EliminarÉ bem verdade.
"A ocasião nos favorece a sensibilidade".
Um tempo que nos fala de amor e nós seguimos na esteira desse sentimento que nos preenche.
Tudo parece mais brilhante, mesmo que, por cá, os dias tenham estado cinzentos. :)
Beijinhos, minha amiga.
Olinda
Lindo poema de Natália e gostei de ouvir o vídeo com as músicas daí! Muito legal ! Bela partilha natalina!
ResponderEliminarbeijos, tuuuuuuuuuudo de bom,chica
Olá, querida Chica
EliminarMuito obrigada por ter vindo e gostado do poema de Natália Correia. É uma das autoras mais renomadas da literatura portuguesa.
Beijinhos
Olinda
Profundo poema. Te mando un beso.
ResponderEliminarMuito obrigada, J. P. Alexander.
EliminarBeijinhos
Olinda
Gostei.
ResponderEliminarUm abraço.
Muito obrigada pelo seu comentário.
EliminarAbraço
Olinda
Minha amiga Olinda, que presente você dá aos seus leitores: trazer à roda, à ciranda, Natália de Oliveira Correia. Gosto demais da sua obra, sobretudo das Cantigas de amigo. Gosto do seu jeito de mesclar o gênero cultivado nos primórdios da poesia portuguesa com os acontecimentos políticos, ou de como ela atua de maneira decisiva no contexto da cultura portuguesa da segunda metade do século XX, ou de como ela se opunha ao regime opressor de António Oliveira Salazar, ou ainda da sua chancela à publicação das Novas Cartas Portuguesas (1972) escrita pelas três Marias: Maria Teresa Horta, Maria Velho da Costa e Maria Isabel Barreno.
ResponderEliminarGosto do duelo que se trava nas suas cantigas: a guerra e o amor. E tanto mais, o que daria um belo artigo por aqui.
Fiquemos com uma dessas cantigas (em outra oportunidade vamos ler os Sonetos românticos).
I
Nesta praia, amigas, de onde p’rás cruzadas
Foram matar mouros nossos lidadores
Com cantares de amigo chamemos as barcas
Que à lide levaram os nossos amores.
Vão e vêm as ondas. Pelas mesmas águas
Discorrem idades. Não mudam as dores.
Com velhos cantares que por estas matas
Fizemos quando eles inda eram pastores,
Chamemos as naus, pois que ora são nautas
Que à Índia levaram os nossos amores.
Mudadas em naus as lenhas das matas
Mudaram o mundo. Não mudam as dores.
Neste cais de prantos de onde eles em armas
Foram matar pretos pelos seus senhores
Com cantares chamemos as frotas iradas
Que à guerra levaram os nossos amores.
Vêm os soldados e foram-se as Áfricas,
São outras as guerras. Não mudam as dores.
Com cantares que cheguem às nuvens mais altas
De onde lançam bombas os aviadores
Chamemos as barcas que ganhando asas
Pro inferno levam os nossos amores.
Mudaram-se as armas que em ímpias fornalhas
Mudam as cidades. Não mudam as dores.
(CORREIA, 1999, p. 620)
Eis o gênero longínquo recriado, este é um deles. Aí está a voz feminina que se dirige às amigas e nos encanta com a sua arte.
Obrigado por levar-me a reler Natália que me bisbilhotava na minha estante com um olhar comprido.
Beijinhos, amiga Olinda!
Um quarta-feira de muita paz!
Caro José Carlos
EliminarÉ sempre um prazer imenso recebê-lo aqui no Xaile de Seda,
porque me traz bordados finíssimos, prestigiando-o e
enriquecendo-o.
Natália Correia tem uma obra que abarca vários géneros, além do seu carácter batalhador em áreas que muitas pessoas não experimentariam, como no sistema político do Estado Novo, como
muito bem refere.
Muito obrigada por me trazer esse lindo poema, um dos sinais do
seu imenso talento, recriando e trazendo para o presente os ecos das
dores de antanho.
Sobre os sonetos românticos aguardá-lo-ei. :)
Continuação de boa semana.
Beijinhos
Olinda
Escritora, política e poeta, de muita valia .Humaniza ao seu redor, naturalmente. É conhecida pela sua ousadia verbal e eu gosto disso, Olinda.
ResponderEliminarMúsica de Natal cria um clima nostálgico, embora festivo. Gostei de ouvir.
Beijinhos ,querida amiga.
É mesmo É assim a Natália Correia ousada e humana.
EliminarMarcou a sua época com tertúlias, em que figuras
representativas da literatura e da política debatiam o que
se passava no país.
Achei amoroso essa interpretação das músicas de Natal,
com vozes tão cristalinas.
Beijinhos, querida Lis.
Olinda
Olinda lindo o poema da Natália simplesmente encantador, passando pra desejar uma feliz quinta-feira bjs.
ResponderEliminarOlá, Lucimar
EliminarAinda bem que gostou, amiga.
Desejo-lhe uma bom fim de semana.
Beijinhos
Olinda
Fico sempre seduzida pela poesia de Natália Correia.
ResponderEliminarCheguei aqui, querida Olinda, cheia de saudades. Num xaile de Seda, protetor, belo e desafiante deixo uma mensagem de amor. Amor pelo mundo, pela humanidade e por nós. E escrevo nas palavras que me são melodia.
Feliz Natal, amiga.
Beijos.
Querida Teresa
EliminarSaudades suas também temos. E tantas!
Recebo a sua mensagem de amor com grande prazer
e dela faremos uma onda imensa que possa abranger
todos.
E essa melodia chega-me até aqui com toda a força,
plena de sons e harmonia.
Feliz Natal, querida amiga.
Beijinhos
Olinda