Anteontem, no banquete oferecido em Santarém aos republicanos de Lisboa, deu-se um episódio ao qual tive a boa fortuna de assistir.
Ao terminar um brinde, um republicano da região ergueu um viva à República a que todos os assistentes se associaram. Mas, neste momento, o Sr José Relvas, que assistia ao banquete, levantou-se do seu lugar e considerou um momento com serenidade a sala agitada da festa, como parecendo pedir silêncio, que de resto, logo se fez. No meio do silêncio, então, o Sr Relvas, com a serenidade que é própria do seu porte e das suas palavras, disse:
_Mais alto! Mais alto para que se ouça em Lisboa!
E, levantando a voz, bradou por sua vez:
_Viva a República!
(...)
João Chagas, 1908, in diário da Liberdade, de Aniceto Afonso, pgs 356/357
João Chagas
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Estamos em 1908, ano em que se deu o regicídio. O rei D.Carlos I e o príncipe herdeiro Luís Filipe foram assassinados, marcando um ponto de viragem na história política portuguesa.
Desde 1876 que o Partido Republicano vinha fazendo história ganhando ainda mais proeminência com o Ultimato Inglês, que exigia que Portugal retirasse as suas tropas dos territórios entre angola e Moçambique, hoje Zimbabwe e Malawi.
O partido propunha a substituição da monarquia constitucional por uma república liberal parlamentar e vai beber os seus fundamentos na Revolução Francesa, 1789, defendendo os valores da liberdade, igualdade, fraternidade. Não esquecer que a Revolução Francesa foi inspirada pela Revolução Americana, 1776, que defendia a participação dos cidadão nas decisões governamentais.
Entre os vários seguidores de ideais republicanos temos João Pinheiro Chagas, (1863-1925), homem multifacetado, jornalista, escritor, crítico literário, político, diplomata e conspirador, republicano liberal que, por via disso, foi por variadas vezes preso e degredado para a colónia penal de Angola, por um período de 6 anos, donde fugiu.
A 1 de Novembro de 1891, foi enviado de novo para Angola, fugindo de novo, desta feita para o Brasil, sua terra natal, donde depois regressou tendo fundado a Marselhesa e continuando a sua acção em prol de regime republicano.
Do seu curriculum consta que deixou uma das obras mais importantes, e por isso mesmo mais injustamente esquecida, do jornalismo político, de ideias e de doutrinação democrática publicadas em Portugal, sendo autor de alguns dos textos basilares para a compreensão do processo formativo, evolução e parâmetros ideológicos do republicanismo português e continuou a lutar pela causa republicana.
Da sua experiência do degredo escreveu Trabalhos Forçados (1900) e Diário de um Condenado Político (1913).
Na altura da sua morte, Carlos Olavo expressou no Diário de Notícias (1 de Junho de 1925) a devoção inteira a essa causa: "A figura de João Chagas implica uma página das mais sugestivas da história da República. Direi melhor da pré-história porque a sua acção começa vinte anos antes da implantação do regime. (...) Traçar o perfil político de João Chagas é escrever a história desse período imediatamente anterior à implantação da República no que ela tem de mais emocionante de mais agitado e de mais febril. Em todos os acontecimentos que nele se desenrolaram João Chagas teve sempre um papel dominante." aqui
No passado dia 5 de Outubro homenageou-se a data da Implantação da República. Todos os anos faço menção a essa data, não me esquecendo, normalmente, dos três conspiradores Miguel Augusto Bombarda, Cândido dos Reis e António Machado Santos.
Se lhe interessar, veja aqui um dos meus textos, escrito em 18 de Janeiro de 2019, com o título, Heróis Trágicos da República.
Bom fim de semana, amigos.
Abraços.
Olinda
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*daqui - biografia no Público
Siempre es bueno aprender. te mando un beso.
ResponderEliminarQue texto tão interessante 📰 adorei conhecer mais sobre João Chagas e a forma como descreveste o seu papel como jornalista panfletário. Uma leitura rica e bem construída 🌿✨
ResponderEliminarCom carinho,
Daniela Silva 💗
alma-leveblog.blogspot.com – espero pela tua visita no meu blog 🌸
Quando aqui venho, querida Olinda, constato que sei muito pouco da história do nosso país. Mas, uma das vantagens dos blogues é esta troca de conhecimentos, de experiências do nosso quotidiano, de textos que nos levam a grandes reflexões e, aqui temos o Xaile de Seda, sempre com temas que nos enriquecem. Obrigada, querida Amiga, por mais uma parte da nossa história que desconhecia. Deixo -te um beijinhos e votos de que estejam todos bem.
ResponderEliminarEmília 🌻 🌻
Viva a República.......... Sempre.
ResponderEliminar.
Votos de Paz e Amor. Feliz domingo..
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Poema: “ És a flor mais bonita da natureza “ .
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Querida Olinda,
ResponderEliminarque texto admirável informativo, envolvente e escrito com a elegância de quem domina o tema e tem verdadeiro apreço pela história. Você consegue unir rigor histórico e sensibilidade narrativa, conduzindo o leitor por um período intenso de transformações políticas sem jamais perder o fio humano dos acontecimentos. A forma como retrata João Chagas é notável: um homem de ideias e coragem, lembrado não apenas como político, mas como espírito inquieto e fiel à causa republicana. É um texto que honra a memória e, ao mesmo tempo, desperta o desejo de revisitar essa parte tão vibrante da história portuguesa.
Um domingo bem alegre para ti!
Beijinho
Fernanda
Bom dia, minha amiga Olinda,
ResponderEliminarGosto de abrir as cortinas da sua casa, uma intimidade permitida, desde que eu não cometa abusos, eu sei, risos. Uma vez abertas as cortinas, pequenas e intensas lições emergem desde que tenhamos o olhar atento e disposição para aprender, para conhecer, para descobrir.
Hoje, por exemplo, conhecemos a história de João Chagas, o “jornalista, panfletário”.
Nada sabia até a leitura do seu texto e dos subsequentes para os quais você remete o leitor, seu amigo, incluindo um texto da sua lavra publicado aqui, no seu blog em 18 de janeiro de 2019.
Andei cavando a partir do seu veio e encontrei um texto de Noêmia Novais, além das referências bibliográficas, quem sabe?, talvez você se interesse. Eis o link https://www.e-publicacoes.uerj.br/intellectus/article/view/27683/19867
Um domingo de muito sol e cuidados com o netinho,
Afetuosos abraços,
José Carlos
P.S.:
Sem descuidar-me dos compromissos assumidos, busco esta conciliação.