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Jamais esqueci o seu nome.
Eu, menina, no Liceu, passava toda senhora de mim,
e olhava sempre em frente.
Parecia que o mundo era meu e tudo o que gravitava
à minha volta não tinha importância alguma.
Ele andava alguns passos atrás, nos intervalos,
e fazia tudo para se fazer notado.
Um dia fez chegar até mim um papel todo dobradinho.
O meu primeiro impulso foi deitá-lo fora. Contudo,
a minha curiosidade foi mais forte.
A principio não percebi bem do que se tratava, mas
por fim consegui ver além do óbvio.
Era o meu nome ao contrário, em acróstico,
num poema singelo e belo.
Impressionou-me.
Emocionei-me.
Tentei agradecer a sua delicadeza e quase devoção.
Debalde.
Ele tinha seguido viagem com outros da sua idade,
para continuar os estudos.
Percebi que o seu gesto tinha sido uma despedida.
Conservei a sua dádiva.
Por vezes, uso o nome que ele inverteu e escreveu
no papelinho.
E jamais esqueci o dele.
De coração de pedra, aparentemente, passei a
assumir o meu verdadeiro eu.
Aprendi a lição...
Olinda
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Tema desta semana:
Coração de Pedra
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Imagem: pixabay
"Quem tem um coração que atire a primeira pedra."
ResponderEliminarQuerida amiga Olinda, nem sei o que dizer. Que prosa poética linda!
Você escreve muito bem e precisa poetar mais... agora que aprendeu a lição, rs, como disse no final.
Muito bonito seu gesto de falar na primeira pessoa, altruísta testemunho (verdadeiro ou fictício não importa). O que conta é a eficiência do seu relato.
Confesso que nunca me fiz de rogada na adolescência, não podia me dar ao luxo de namorar, só estudar e, na juventude, não me fiz, deveria me ter feito, ao contrário de você (do seu conto) , não perdi um bom partido... porque não o achei, rs. Atualmente, me faço de rogada sim, por proteção pessoal, é preciso. O mundo anda perigoso demais.
Testemunhos a parte, você participou magnificamente bem, com muita beleza e naturalidade. Aplausos!
Bem dizem que quem ri por último ri melhor...
Ou que os últimos serão os primeiros...
Ou ainda, no final da festa vem outro vinho bom ainda...
Em suma, quero agradecer por ter nos enriquecido uma vez mais, Amiga.
Que tenhamos coragem de sair do buraco da indiferença e valorizemos a quem nos ama de verdade!
E viva o Amor legítimo, despetrificado!
Tenha uma nova semana abençoada e feliz!
Beijinhos fraternos
💙🧡💛💚💜
*à parte
EliminarAchei muito terno este poema. Tudo começa com um papelinho dobrado, sei que foi assim comigo.
ResponderEliminarUm abraço.
Lindo poema. Te mando un beso
ResponderEliminarOlá, amiga Olinda,
ResponderEliminarTempos bonitos esses, onde os papelinhos dobrados eram usados para as conquistas amorosas. Curiosamente, quase sempre funcionavam bem, para aqueles corações mais petrificados. Às vezes demorava um pouco, mas lá conseguiam levar a água ao seu moinho...
Excelente poema, com uma linda história.
Muito original e bela participação.
Gostei bastante.
Beijinhos e boa semana, com tudo de bom.
Mário Margaride