quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

Amei-te sem saberes





No avesso das palavras
na contrária face
da minha solidão
eu te amei
e acariciei
o teu imperceptível crescer
como carne da lua
nos nocturnos lábios entreabertos

E amei-te sem saberes
amei-te sem o saber
amando de te procurar
amando de te inventar

No contorno do fogo
desenhei o teu rosto
e para te reconhecer
mudei de corpo
troquei de noites
juntei crepúsculo e alvorada

Para me acostumar
à tua intermitente ausência
ensinei às timbilas
a espera do silêncio

in 'Raiz de Orvalho'



E as timbilas obedeceram à voz de quem sabe das coisas.





Mia Couto e Joe Dassin iniciam esta Quinzena do Amor. Se tudo correr bem aqui para as minhas bandas, publicarei um poema ou dois todos os dias. O que quer dizer, meus queridos amigos: aprestem-se a ler, preparem os olhos, assestem os óculos ou monóculos que esta quinzena vai ser de muita leitura, e de que maneira!


Abraços

Olinda


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Mia Couto, pseudónimo de António Emílio Leite Couto (Beira, 5 de julho de 1955), é um escritor e biólogo moçambicano. Dentre os muitos prémios literários com os quais foi galardoado está o Prémio Neustadt, tido como o Nobel Americano. Couto e João Cabral de Melo Neto são os únicos escritores de língua portuguesa que receberam esta honraria. daqui

25 comentários:

  1. Bom início da sempre esperada Quinzena de Amor, querida amiga Olinda!
    Estou ouvindo o vídeo, tão lindo!
    "Na minha solidão eu te amei"
    Que profunda afirmação de Amor!
    Só os que amam conseguem guardar o silêncio no coração suficientes a eternizar um amor sublime.
    A última esperança do poema é belissima.
    Tenha (mos) uma Quinzena abençoada, minha Amifa!
    Beijinhos festivos e fraternos

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    1. Mia Couto tem essa veia especialíssima para a poesia. Apesar de se dedicar à prosa com o jeito que lhe imprimiu, ele tem poemas belíssimos de uma sensibilidade extraordinária.
      Muito obrigada pelo seu belo comentário.
      Beijinhos
      Olinda

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  2. Lindo, lindo, lindo! Olinda!
    Mia Couto me encanta em cada verso e António Emílio foi uma grata surpresa conhecer!

    Gratidão pela linda partilha!
    Um abraço fraterno e saudoso! <3

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    1. Olá, Vanessa
      Gostei muito que tenha regressado, com o seu dinamismo e vontade de nos transmitir as suas ideias.
      Já fui ao seu blog ver o que nos trouxe. Ouvi com muito prazer o video com o seu poema que é belíssimo.
      Beijinhos
      Olinda

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  3. Beleza de partilha da arquitetura da amada no poetizar fantástico de Mia. Bela idéia de trazer o amor puro amor na mais linda tradução.
    Grato Olinda.
    Abraços e paz amiga.

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    1. Olá, caro Toninho
      Uma arquitectura poética muito bem alicerçada.
      Mia Couto faz tudo com coração e talento.
      Eu é que agradeço a sua vinda.
      Abraço
      Olinda

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  4. Simplesmente uma abertura triunfal por aqui nessa quinzena que promete desfilar lindezas e muito amor!
    Lindo fevereiro, tudo de bom! beijos, chica

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    1. Olá, Chica
      Espero saber apresentar os autores da forma merecida.
      E que o desfile agrade aos leitores :)
      Beijinhos
      Olinda

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  5. Lindíssimo poema de Mia Couto para começar a quinzena do amor.
    Beijinhos

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    1. Neste ano, Mia Couto abriu a "Quinzena do Amor", com um poema
      de que gosto muito, é verdade.
      Beijinhos
      Olinda

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  6. Eis a minha participação, querida Olinda

    Soneto de fidelidade

    De tudo, ao meu amor serei atento
    Antes, e com tal zelo. e sempre, e tanto
    Que mesmo em face de maior encanto
    Dele se encante mais meu pensamento

    Quero vivê-lo em cada vão momento
    E em louvor hei de espalhar meu canto
    E rir meu riso e derramar meu pranto
    Ao seu pesar ou seu contentamento

    E assim, quando mais tarde me procure
    Quem sabe a morte, angústia de quem vive
    Quem sabe a solidão, fim de quem ama

    Eu possa me dizer do amor ( que tive ):
    Que não seja imortal, posto que é chama
    Mas que seja infinito enquanto dure

    Vinicius de Moraes

    Escrito no Estoril (em Portugal), em outubro de 1939, e publicado em 1946 (no livro Poemas, Sonetos e Baladas),

    Emília

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    1. Querida Emília

      Um soneto que nos leva em direcção ao amor terno e dedicado.
      Vinicius de Moraes tem essa sensibilidade à flor da pele
      e mostra-a nos seus poemas e na sua música.
      Muito obrigada.
      Beijinhos
      Olinda

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  7. Lindo!
    É uma pena não podermos introduzir aqui uma canção, eu também iria para uma francesa de Gilbert Bécaud " Je reviens te chercher" !

    Abraço

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    1. Também gosto muito de Gilbert Bécaud e desta canção: "Je reviens te chercher". Ela ainda há-de aparecer um dia destes por aqui...
      Abraço
      Olinda

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  8. Falar de amor é a melhor maneira de amar, Olinda
    E se trazes o assunto à baila teremos novamente uma quinzena linda, certamente. Mia Couto dá início de forma magistral:
    'Para me acostumar /à tua intermitente ausência/ ensinei às timbilas/ a espera do silêncio'. E é assim vamos, sibilando ...
    Um abraço grande, Olívia
    Estarei lendo os amigos porque o amor é para ser declarado _ venho declarar assim que estiver inspirada, ok?
    Beijinhos

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    1. Tem razão, Lis. Ao falar de amor vamos fazendo
      com que ele se propague e leve alguma paz aos
      corações.
      Cá a espero, minha amiga :)
      Beijinhos
      Olinda

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  9. Uma música inesquecível por muitos anos que passem.
    Um abraço.

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    1. Confesso que gosto muito de Joe Dassin e esta é uma das
      suas canções que não me canso de ouvir.
      Um abraço
      Olinda

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  10. Não sou muito destas coisas de quinzenas e de dias mas o poema do Mia Couto é muito bonito.

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    1. Sim, Mia Couto não nos deixa indiferentes tanto na poesia como na prosa.
      Um abraço
      Olinda

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  11. Que me perdoe o Mia Couto mas primeiro deliciei-me com a poesia de Joe Dassin porque afinal "Si tu n´existais pas?"A música não nos estremeceria tanto talvez, assim como outras artes.
    Mia Couto é um icon incontornável que nos maravilha com a sua poética e não só e partilha uma poesia belíssima
    Parabéns, Olinda.
    Beijinho

    Por falar em Amor... estou a postar no reflexõesfloridas ( incrível mas não sei fazer o link para la chegar...) um texto onde divago sobre amor . O de um merlo. Ou a leitura que faço deste galã...

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    1. Querida Manuela
      É já proverbial este meu gosto pela música de Joe Dassin. Esta canção já a publiquei umas quantas vezes. Ela exprime uma forma de amar profunda e plena.
      Mia Couto, em poesia, acho-o de uma sensibilidade maravilhosa.

      Fui ler o seu lindo texto em que o Melro é protagonista. Um texto em que mostra a sua prosa poética impressiva e fantástica.
      Muito obrigada, minha amiga.
      Beijinhos
      Olinda

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  12. Boa tarde Olinda,
    Magnífico poema de Mia Couto, do qual admiro mais a poesia que a prosa.
    Joe Dassin e esta canção são inseparáveis.
    Um beijinho.
    Emília

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    1. Mia Couto e Joe Dassin aliam-se, nesta publicação, e concedem-nos momentos de grande alegria, pela belas palavras e excelente música.
      Obrigada, Ailime.
      Beijinhos
      Olinda

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