Resolvi examinar as diversas ocupações que as pessoas têm na vida, procurando escolher a melhor entre elas; e, sem desejar dizer algo a respeito delas, concluí que não poderia fazer nada melhor do que continuar naquela que encontrei para mim, ou seja, ocupando toda a minha vida no cultivo da razão e na busca do conhecimento da verdade, seguindo o Método que prescrevi a mim mesmo. Eu senti um contentamento tão profundo desde que comecei a usar esse Método, que não acreditava que alguém pudesse obter algo mais doce ou mais inocente nesta vida; e, ao continuar a descobrir, a cada dia, por meio dele, verdades que me pareciam dotadas de certa importância e das quais os outros não estavam em geral cientes, a satisfação que senti preencheu a minha mente de maneira tão plena que nada mais de modo nenhum me afectava.
René Descartes, (1596-1650)
in Discurso do Método
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A Felicidade reside, por vezes, em tão pouco! Difere de pessoa para pessoa, de conformidade com a sua formação, com a terra que habita, com o ambiente onde cresceu... ou com o momento em que determinada situação intelectual eclode.
Por isso, não me espanta que as elucubrações filosóficas de Descartes lhe tenham trazido essa satisfação que lhe preencheu a vida. Esvaziando o cérebro de tudo o que aprendera, dos ensinamentos da Escolástica ao conceito de Deus, eis que o nosso homem encontra a ocupação suprema.
Conhecemos sobejamente a máxima Cogito, ergo sum, que o filósofo descobre depois de duvidar de todas as coisas, prevalecendo como verdade incontestável a sua própria existência como "coisa" pensante. Método tão perfeito para ele que nada nem ninguém o afectava, como ele próprio afirma.
Será que isso bastaria?
Parece que sim, para Descartes. Outros filósofos viriam contestar essa descoberta, dizendo de sua justiça, nomeadamente, G.Leibniz, F.Nietzsche, B. Russell, tendo este frisado: no máximo, Descartes poderia inferir que há o pensamento, e não que “eu penso".
Já António Damásio, médico neurologista português, que trabalha no estudo do cérebro e das emoções, escreveu o livro "O Erro de Descartes", que muita polémica tem suscitado. Descartes errou, segundo Damásio. Mas em quê? Muitos perguntam porque é que não reclama essa atenção para Platão ou Kant, pela natureza das suas posições.
Mas o próprio autor diz que "Cogito ergo sum", é a afirmação mais famosa da história da filosofia. Assim, porque não escrever um livro falando das emoções e dos sentimentos, do corpo e do cérebro, pondo Descartes em evidência quanto mais não seja no título?
Mas é de Felicidade que aqui se fala. Que pode surgir num sorriso, no perfume
de uma flor, no brilho de uma linda manhã. Nas coisas simples da vida, em suma.
Mas também pode ser breve, como nos diz Vinicius, na voz de
Tom Jobim
que o vento vai levando pelo ar
Desejo-vos uma boa semana, meus amigos.
Abraços
Olinda
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Análise crítica de "O erro de Descartes" - aqui
-Ter em atenção "Meditações Metafísicas", de Descartes.
Imagens: pixabay
Falar de felicidade sempre faz bem! Uns precisam de tanto e outros, de quase nada pra feliz ser! Lindo texto! beijos, ótimo dia! chica
ResponderEliminarMuito interessante o texto, querida Olinda
ResponderEliminarVer os meu filhos e netos realizados é a minha maior felicidade.
Te desejo um ótimo dia.
Um carinhoso abraço.
Verena.
Uma publicação de excelência!
ResponderEliminar-
Coisas de uma Vida...
Boa tarde!
Beijos
Querida amiga Olinda, boa noite de paz!
ResponderEliminar"A satisfação que senti preencheu a minha mente de maneira tão plena que nada mais de modo nenhum me afectava."
Tão perfeito é o tempo onde nos sentimos plenos!
Não nos deixarmos afetar por quem não mereça é uma grande felicidade.
Cada vez mais vamos percebendo que, nas pequenas coisas, temos momentos de grande felicidades. Até procuro fotografá-las (quando posso) para perpetuar tais raros e fecundos lances que são gás para nossa vida.
Foi bom meditar sobre o tema. Crer que outros momentos felizes virão apesar de...
Tenha dias felizes e abençoados!
Beijinhos
💐
*grandes felicidades
EliminarAs discussões nunca terminam, no campo da filosofia. Mas não importa o que entendam outros, nesse sentido, já que felicidade é algo pessoal. Se Descartes encontrou uma ocupação que o tornava feliz, jamais a discutiria, pois isso fez parte dele, de seu pensar. Creio que não há um conceito para a felicidade, já que ligada ao sentir, único para cada um de nós. E mora no íntimo, inobstante esteja fundada no que vem de fora. Música muito bela, querida! Grande abraço.
ResponderEliminarUm texto muito interessante, principalmente para mim que nunca li Descartes.
ResponderEliminarPara mim a felicidade é algo que temos dentro de nós. De nada serve buscá-la nas coisas ou nas pessoas se dentro de nós não houver uma determinada compreensão e aceitação da nossa pessoa, da vida e da sociedade. E é muito relativa. Aquilo que a mim me faz feliz pode não ter importância nenhuma para outra qualquer pessoa.
Abraço e saúde
Buena reflexion a veces hacemos cosas que no nos hacen felices y las seguimos haciendo por obligación y otras cuestiones. uno debe encontrar el tiempo de hacer cosas que le gusten por simples que sean y de aceptarse. Te mando un beso.
ResponderEliminarA felicidade é inexplicável.
ResponderEliminarAbraço
O importante é fazer o que nos faz felizes.
ResponderEliminarIsabel Sá
Brilhos da Moda
Olá Olinda!
ResponderEliminarFazer aquilo que nos deixa feliz é o melhor remédio para a alma
Tenha uma semana repleta de luz
Abraços Loiva
Para mim, a felicidade não é fazer o que se gosta. Sendo necessário que isso aconteça, não é suficiente.
ResponderEliminarEntão, o que será suficiente para ser feliz? Muito simples, basta estar satisfeito com o que se tem, com o que se faz e com o que se é. Ainda que se possa querer mais e melhor.
E não há Damásio que me possa desmentir...
Continuação de boa semana, amiga Olinda.
Beijo.
Olá, amiga Olinda, sempre fui um admirador da filosofia
ResponderEliminare também um estudante dela no curso Clássico e na Faculdade de Direito.
Portanto, além de admiração tenho grande respeito por esses pensadores.
Sabemos todos que a filosofia também trata das coisas mais simples da vida, que podem dar alegria e felicidade às pessoas, não fosse assim, ou seja, falar de coisas que dão felicidade, por que haveria a filosofia existir só para as coisas complexas.
Gostei muito dessa sua postagem, amiga Olinda.
Um ótimo final de semana, um abraço.
«Je pense, donc je suis» - 1637
ResponderEliminarFoi um marco importante na história do pensamento filosófico
e encerra algo da abstração matemática, formação de Descartes.
Sobre Felicidade, concordo com o que muito bem dissertou.
Agradecendo a sua colaboração na minha celebração da Amizade,
desejo-lhe um setembro muito feliz e ótimo fim de semana. Abraço
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Uma excelente reflexão!
ResponderEliminarBjxxx
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Para mim a felicidade reside nas pequenas coisas do dia a dia, que dão alegria ao meu coração. A felicidade nunca é permanente, tal como a infelicidade, há sim que saber aproveitar os bons momentos.
ResponderEliminarBeijinhos
Felicidade é sentir que se é. Depois, se desenvolve nos conceitos que cada um formou em si e de si mesmo.
ResponderEliminarPost soberbo.
Obrigado Olinda.
Beijo
SOL da Esteva
Felicidade é a ocupação de bem viver, a ocupada ação de aprender e aproveitar o melhor da vida.
ResponderEliminarDias bons.
Um abraço. Tudo de bom.
APON NA ARTE DA VIDA 💗 Textos para sentir e pensar & Nossos Vídeos no Youtube.
Interessante texto, Olinda.
ResponderEliminarEu penso que a felicidade está dentro de cada um nós.
Que saibamos identificá-la e encontrá-la.
Beijinhos
Olá :)
ResponderEliminarFoi bom encontrar aqui, Descartes, no Discurso do Método, dá para reflectir.
Veio-me à memória uma citação de Saramago sobre a felicidade
Dizia ele que não gostava de falar da felicidade .
Ele preferia harmonia, pois no seu ponto de vista a felicidade era egoísta :)
Cada um de nós traz em si pequena brisas, que podem fazer felizes muitas pessoas e a nós mesmos.
Brisas doces para todos ****
René Descartes, (1596-1650)
in Discurso do Método
Leio aqui colocações que julgo muito pertinentes ao tema em suas variações. Ainda não havia me visto frente às pontuações que vc nos traz, Olinda, e descubro-me curiosa sobre as citações dos filósofos pós Descartes.
ResponderEliminarPor felicidade, entendo ser natural e livre para viver cada dia, valorizando os bons momentos em si e naqueles que nos são caros.
Que a felicidade seja propriedade de todos.
Bjos,
Calu