quarta-feira, 17 de novembro de 2021

migrantes ou refugiados?

De há uns anos a esta parte somos levados a reflectir sobre a realidade que as designações do título nos sugere. E hoje, com o que se passa entre a Polónia e a Bielorrússia, esta reflexão se torna mais premente.

Afinal o que são essas pessoas, as que abandonam as suas casas, as suas famílias, as suas raízes para se aventurarem por mar, por terra ou pelo meio de transporte que conseguirem? O que as move? Certamente não será a vontade de passar mal, de enfrentarem línguas desconhecidas, de serem concentradas em campos sem as menores condições de vida, com bebés de colo, criancinhas pequenas, velhos e novos, em climas adversos, numa salgalhada que só eles próprios poderão aquilatar.

São estrangeiros, disso não há a menor dúvida. Aliás, somos todos estrangeiros na terra de outrem, com maiores ou menores possibilidades de sobrevivência, de conformidade com as nossas posses e desejo de ali permanecer. Seremos emigrantes em relação ao nosso país de origem e imigrantes quanto ao de chegada. Seremos migrantes quando nos deslocamos dentro das nossas fronteiras, com a intenção de vivermos num outro local e fixarmos residência.

Contudo, a palavra migrante tem sofrido alterações, em termos de significação, ao longo do tempo. Tanto é vista como deslocações intra-muros como também com as que se fazem no plano internacional, identificando-a com as pessoas que referi acima, que abandonam tudo, sem documentos, apenas com a roupa que trazem no corpo, para enfrentarem sabem lá o quê. Pessoas que fogem de guerras, da violência, da miséria, perseguidas por causa das suas posições políticas. 

Mas essas não seriam de inserir no estatuto de refugiados?




É que os refugiados têm direitos bem definidos, por convenções internacionais, nomeadamente a de Genebra. Direito ao acolhimento e a serem tratados como seres humanos que são. Direito a um tecto. Direito ao trabalho. E enquanto durarem as situações de perigo que originaram a sua fuga, as instituições devem prover ao seu bem-estar com o contributo dos próprios à sociedade que os acolhem. 

Mas dir-me-ão, nem todos serão refugiados, no meio poderá haver elementos que aproveitam esse êxodo por motivos outros. De acordo. Para separar o trigo do joio é que existe um Alto Comissariado para os assuntos relacionados com migrações e refugiados, além de outras instituições, no sentido de avaliarem a situação de cada um. Não é tudo ao molho e fé em Deus como que à espera que as coisas se resolvam por si.

As notícias (e imagens) que correm sobre os milhares de migrantes/refugiados entalados entre a Bielorrússia e a Polónia é sinal de que alguma coisa corre muito mal neste mundo a que pertencemos. E no meio do conflito a nossa União Europeia. Não vou analisar aqui de que lado estará a razão até porque me faltaria o engenho e a arte, e além disso salta à vista que estamos perante um jogo de poder.



A 16 de Novembro de 1940, os nazis erigiam um muro cortando o acesso ao gueto de Varsóvia e segregando os judeus que ali foram metidos. Quererei com isso dizer que a Polónia deveria franquear, tout court, as portas do seu território às pessoas que se encontram na sua fronteira? Claro que não, porque os tempos são outros, as motivações outras e os meandros do poder também outros. 

Isto é só para não esquecermos a História. Talvez se lhe prestarmos mais atenção consigamos fazer uma leitura melhor do que se passa no nosso tempo. E tomarmos as decisões devidas. E aplicarmos soluções que gostamos muito de propalar mas que chegado o momento ninguém apresenta.

Haverá negociações em cima da mesa, certamente, mas despachem-se.

As pessoas ali em evidente sofrimento, Senhores, até quando aguentarão essa morosidade e jogo de interesses?


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Queira ler, aqui,
matéria de interesse.
2ª imagem daqui
Leia no Xaile alguns
apontamentos sobre o
Mediterrâneo e os 
migrantes/refugiados.

12 comentários:

  1. Um texto intenso, profundo, que nos remete para uma grande reflexão. Apetece gritar: AJUDEM ESSA GENTE.
    Cumprimentos poéticos

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  2. Ninguém se sujeita a tanto sofrimento por gosto por isso acho que todos são refugiados com os direitos referidos no texto tão bem elaborado.
    Acho que alguma coisa se poderia remediar se a montante, nos países de origem, alguns dos problemas fossem resolvidos.

    Abraço

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  3. E o frio vai aumentando...
    Custa a acreditar que não se note que, em primeiro lugar, há que abrigar...
    Uma publicação completa e muito bem colocada.
    Dias bons. Beijos
    ~~~

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  4. Querida Olinda, um texto pertinente, ou melhor....nem sei que palavra usar...talvez urgente ainda seja pouco adequado, mas não importa...Interessa que foi escrito e muito bem, para acordar aqueles que preferem mudar de canal para não serem confrontados com tamanha desgraça. É certo que não é nada agradável presenciar tais atrocidades, mas temos de as conhecer para, de algum modo ajudar, nem que seja só pela indignação de fazermos parte desta classe denominada de Homo sapiens " Acredita, Olinda, que sinto vergonha de estar incluida nessa classificação. Não me surpreendeu que tivesses escolhido este tema, porque acho-te sensivel o bastante para te " arripiares " com as imagens chocantes que todos os dias são noticia: ver todas aquelas crianças a sofrerem de frio e de fome é de cortar o coração de qualquer um, menos o daqueles que poderiam fazer alguma coisa por elas e limitam-se a discutir sobre quem é o culpado e quem as deve acolher. Aprendemos o significado de emigrantes, imigrantes, migrantes, refugiados, presos politicos e outra série de definições que, para o caso, pouco importam. Gostaria eu que fossem simplesmente SERES HUMANOS pedindo socorro, implorando clemência, muitos enviando os seus filhos sozinhos, para que, pelo menos eles, tenham uma vida melhor. Há organizações mais do que suficientes para " separarem o trigo do joio", há almas caridosas sempre prontas a mitigarem o sofrimento desta gente, mas há a pouca ou nenhuma vontade dos poderosos que só se interessam pelo poder e nada mais. Cimeiras se seguem, pelo clima, pelo problema dos migrantes, mas delas nada sai, porque não há vontade; gasta-se fortunas com esses Senhores que falam muito, mas nada fazem. Triste, muito triste. Amiga, já me alonguei demais e adoraria poder sentar num café, e calmamente, olhos nos olhos, conversar contigo sobre este e outros temas que aqui partilhas connosco. Como não é possivel, deixo-te um abraço apertado e o meu agradecimento por escreveres aqui aquilo que eu gostaria de gritar " em alto e bom som" para os senhores do mundo. Obrigada! Espero que estejam todos bem aí em casa e que a saúde não vos falte. O resto, Amiga....está muito bem, se tivermos em conta o sofrimento atroz de tanta gente, Paremos de reclamar!
    Emilia 🤲 🙏 💕

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  5. Olinda, um texto muito bem elaborado e o tema é forte e nos toca a todos. Ver o sofrimento dessa gente toda é terrível. Até quando vamos a isso assistir? Terrível e tomara as mentes sejam ILUMINADAS para tomarem decisões certas e humanas! beijos, tudo de bom,chica

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  6. Maravilha de texto, querida Olinda. Vejo todos os dias esse drama na televisão, que coisa triste. Aqui aconteceu o mesmo, refugiados da Venezuela entrando lá pelo norte do país, crianças, mulheres grávidas, famílias inteiras fugindo da fome, da miséria vergonhosa, dos crimes de seu país, antes tão rico. E como é fronteira, ficamos sabendo de muito mais coisas do que nosso coração aguenta. Milhares, e entraram no Brasil, foram acolhidos. Imagino aquelas pessoas da foto e de todos os dias na nossa casa, numa luta ferrenha, pelo direito de comer, de viver, e muitas são impedidas, como no México para os EUA.
    Aplausos, amiga, mostre sempre o que seu coração vê...
    Um bom fim de semana,
    beijinho.

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  7. Olinda,
    Tantas tragédias que nos entram pela janela da TV
    parece mentira por vezes, mas afinal a realidade existe algures
    por enquanto numa terra distante, mas perto do nosso coração
    e esperemos que se aproxime do coração das pessoas que têm poder para por em prática soluções que poderão não ser fáceis mas que são cada vez mais necessárias

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  8. Olinda
    Diante do teu texto sentimo-nos mais impotentes porque pouco ou nada podemos fazer para aproximar do mínimo que os refugiados necessitariam.Há de se ter governantes capazes de desenvolver planos pata mitigar essa dor.Há de ter...
    Um mundo tão desigual !
    Uma boa reflexão,Olinda que outras Olindas surjam por esse mundo afora, capazes de transmitir e fazer-se ouvir diante par mudanças dessa catástrofe.
    beijinhos, amiga

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  9. Bom dia Olinda,
    Um fabuloso texto que aborda um tema dos nossos dias que é gritante e não deixa ninguém indiferente.
    Há que tomar medidas para resolver o problema destes desvalidos da sorte que merecem ter uma sobrevivência condigna.
    Como não sei, mas ninguém merece viver em condições tão adversas.
    Um beijinho e um bom fim de semana.
    Ailime

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  10. O que se está a passar é uma vergonha para a humanidade, sejam migrantes ou refugiados.
    Excelente texto, gostei imenso do seu ponto de vista.
    Bom fim de semana, amiga Olinda.
    Beijo.

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  11. Olá, querida amiga Olinda!
    Impressionante como temos refugiados por muitos lados.
    Não adianta mais fingirmos que não vemos.
    É mais um problema mundial.
    Dá dó ver criancinhas, sobretudo, sujeitas a sorte de desumanidade.
    Realmente, sua conclusão se faz sentir, há um jogo de interesses visível ao mundo.
    Há situações onde se camufla uma realidade brutal.
    Que Deus proteja você e sua família com toda sorte de bençãos!
    Beijinhos carinhosos de paz e bem

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  12. Um drama inquietante. São estrangeiros. Duplamente estrangeiros. Nos seus países. Nos sítios para onde fogem. Morrem a fugir da morte. Como podemos entender? Como podemos aceitar? E como é que num mundo em que tantos países têm tanto, há outros que nada têm? É urgente que este problema se resolva. Mas quem se interessa com isso?
    Uma reflexão para interiorizarmos bem.
    Um bom fim de semana, minha Amiga Olinda.
    Um beijo.

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