Diz-se que:
Quem for um dia estudar a poesia brasileira dessa segunda década do século XXI invariavelmente se verá diante de um fato: a mais impactante poesia realizada nesse momento é feita por mulheres. As idades são diversas, assim como as origens e os estilos, mas o lugar de onde falam é o mesmo. Falam como mulheres, com suas peculiaridades e diferenças, sem emular sentimentalidades ou traços de escrita masculinas, trazendo um frescor necessário e revigorante para a cena literária e poética nacional.*
Vamos conferir?
há
na esquina da rua
um piano que toca
notas esparsas
em lá menor
na esquina da rua
um piano que toca
notas esparsas
em lá menor
nunca vi
o rosto de quem
se esconde por trás
de acordes sustenidos
o rosto de quem
se esconde por trás
de acordes sustenidos
e que desfila dedos no teclado
com a leveza de quem
sustenta passarinhos
no ar
com a leveza de quem
sustenta passarinhos
no ar
****
dentro do apartamento
a janela sustenta a paisagem.
me aproximo, apóio
os braços: todo o mundo
desmedido
em minha frente.
a janela sustenta a paisagem.
me aproximo, apóio
os braços: todo o mundo
desmedido
em minha frente.
mas nada
que eu possa segurar, reter.
nem mesmo o perfume
dessas tardes sem perfume, nem
um bibelô
para colecionar na estante
como fazem as avós
que não medem cuidados
com a porcelana
que eu possa segurar, reter.
nem mesmo o perfume
dessas tardes sem perfume, nem
um bibelô
para colecionar na estante
como fazem as avós
que não medem cuidados
com a porcelana
In: Dobradura
****
um enorme rabo de baleia
cruzaria a sala nesse momento
sem barulho algum o bicho
afundaria nas tábuas corridas
e sumiria sem que percebêssemos
no sofá a falta de assunto
o que eu queria mas não te conto
é abraçar a baleia mergulhar com ela
sinto um tédio pavoroso desses dias
de água parada acumulando mosquito
apesar da agitação dos dias
da exaustão dos dias
o corpo que chega exausto em casa
com a mão esticada em busca
de um copo d’água
a urgência de seguir para uma terça
ou quarta boia e a vontade
é de abraçar um enorme
rabo de baleia seguir com ela
cruzaria a sala nesse momento
sem barulho algum o bicho
afundaria nas tábuas corridas
e sumiria sem que percebêssemos
no sofá a falta de assunto
o que eu queria mas não te conto
é abraçar a baleia mergulhar com ela
sinto um tédio pavoroso desses dias
de água parada acumulando mosquito
apesar da agitação dos dias
da exaustão dos dias
o corpo que chega exausto em casa
com a mão esticada em busca
de um copo d’água
a urgência de seguir para uma terça
ou quarta boia e a vontade
é de abraçar um enorme
rabo de baleia seguir com ela
in: Rabo de Baleia
Sob a influência de Ana Cristina César, a carioca Alice Sant’Anna lançou Dobradura, seu primeiro livro, em 2008 – considerado na época o livro do ano pelo Jornal do Brasil. De lá pra cá publicou Pingue –Pongue, (2012), em parceria com Armando Freitas Filho, e Rabo de Baleia (2013). Alice é dona de uma poética delicada e serena, com uma contundência intensa ainda que quase silenciosa. aqui
====
Nota:
Trarei outras autoras do grupo de que se fala acima.
Poemas: *daqui
e daqui
Lindo, maravilhoso:))
ResponderEliminarHoje:- Afastam-se as nuvens do céu azul.
Bjos
Votos de uma óptima Quarta - Feira.
Obrigada, Larissa.
EliminarIrei, em breve, ao seu blogue.
O título é sugestivo.
Beijinho
Olinda
Gostei de conhecer esta poetiza.
ResponderEliminarAbraço
EliminarTambém não conhecia, cara Elvira.
São novos ventos no campo da poesia contemporânea.
Bj
Olinda
Uma desconstrução contida, achei a poesia bela, embora não aprecie o género.
ResponderEliminarPassando para cumprimentar.
Beijos
~~~
Olá, Majo
EliminarGrata pela sua presença.
Género que vai marcando presença nas novas
esperanças do reino da poesia.
Bj
Olinda
Gostei especialmente dos últimos versos da primeira poesia.
ResponderEliminarNão sei se tenciona divulgar mais poesia deste nosso século, seria bom conhecer mais... Vamos nessa, cara Olinda?
Esta poetisa é especialmente jovem e gostei do facto de não pontuar os textos; realmente, como ela diz no video, dá mais azo à plurissignificação.
Beijo e boa quarta-feira.
Bom dia.
EliminarSim, Lua Azul, estou interessada em conhecer e tomar contacto com a forma de criar dos novos poetas. Uma visão do mundo que privilegia outros contornos e que nos surpreende. Mas é assim que se dá a renovação na maneira de pensar e de estar na vida, não é? Vou continuar a explorar isso e irei dando conta, aqui, do que descobrir.
Muito obrigada pelo seu incentivo.:)
Beijinhos
Olinda
Linda, mesmo!
ResponderEliminarDesconhecia e sou-te grata, querida Olinda, por aqui no-la revelares.
Beijinho
EliminarObrigada, querida Ana.
É sempre um prazer ver-te aqui.
Beijinhos
Olinda
Querida Olinda, fui ver o espaço que mostra jovens poetisas brasileiras e fiquei encantada. Está na hora de deixarmos um pouco de lado os classicos, por demais conhecidos de todos e começarmos a valorizar estas mulheres jovens e de grande talento. Tens umas ideias fantásticas, querida amiga e, se me permites, vou acompanhar-te nesta pesquisa. É muito bom conhecer gente nova. Obrigada, querida Amiga e, já sabes... sempre que tiver um tempinho, cá estarei. Beijinhos e boa noite
ResponderEliminarEmília
Querida Emília
EliminarMuito contente pela tua presença, mesmo com a tua casa cheia de gente e Gente muito amada. :)
O Verão é assim, um tempo maravilhoso que convida a que nos visitemos e convivamos mais uns com os outros. Olha, na segunda-feira chega uma das minhas irmãos e, claro, depois virão os filhos e os netos. :)
É verdade, minha amiga, gente nova e muito dinâmica na área da poesia. Com um olhar diferente, feminino, a criar o seu próprio espaço. Depois, também irei à procura daquilo que está a acontecer na área masculina. Ou então, nem masculino nem feminino - no todo que é a Poesia.
Beijinhos
Olinda
Olinda, que interessante, não sabia! Na verdade, não ligo muito a poesia :)
ResponderEliminarEstá tudo bem, obrigada, mas coloquei os blogues de parte (tanto a Gata, como a Panificadora) por falta de tempo e de ânimo.
Beijinhos e espero que esteja tudo bem!
Gata
EliminarQue pena, Gata! Mas tinha outro blogue? "Panificadora" só conheço a "Panificadora Ribeiro", cuja dona, a M., também desertou e está no Instagram, como nos comunicou.
Tudo de bom, para si, amiga.
Beijinhos
Olinda
rabo de baleia na sala? bem necessário por vezes...
ResponderEliminarbem mais estimulante que elefante empalhado ...
gostei muito
abraço
Olá, Manuel Veiga
EliminarTudo depende do universo mental de quem escreve, daquilo que poderá ser a criação de novos mitos e símbolos e, claro está, da abertura de quem lê e interpreta. Viajar no rabo de uma baleia será tão "legítimo", em termos poéticos e imaginativos, como cavalgar as nuvens no dorso do mitológico Pégaso.
Quanto ao "elefante" prefiro sabê-lo no seu habitat natural (se é que isso ainda existe), bem longe dos artifícios de que nós, seres humanos, somos mestres.
Sempre estimulantes os seus comentários, meu amigo. :)
Abraço
Olinda
Cavalgar um rabo de baleia sugere viagens marítimas, tipo caravela à descoberta. Tudo menos "... um tédio pavoroso desses dias
ResponderEliminarde água parada acumulando mosquito ..."
Beijinho, querida Olinda.