Ninguém nasce desta ou daquela raça. Só
depois nos tornamos pretos, brancos ou
de outra qualquer raça
Extracto do diário de Irene, parafraseando
Simone de Beauvoir
...
23 de Abril
Deus fez a árvore para que o Homem não
sentisse medo do tempo.
Dito do cego Andaré
24 de Abril
Já não carecemos da igreja: o mundo inteiro
se converteu numa imensa igreja.
De joelhos, arrebanhados até ao sonho,
aceitamos a qualquer preço isso a que
chamam de redenção.
Dos cadernos de Irene
25 de Abril
"Toda a terra ficará branca com a luz das
estrelas e o céu será engolido pelas
andorinhas"
Shaka Zulu a Dingane, seu assassino
26 de Abril
Até que o leão aprenda a escrever, o
caçador será o único herói.
Nozipo Maraire, em Carta a Minha Filha
...
Vinte e Zinco é o título do livro que Mia Couto escreveu a convite da Editorial Caminho aquando do 25º aniversário da Revolução de Abril de 1974. É escrito em forma de diário, de 19 a 30 de Abril, e cada dia é iniciado com a citação de um dito dos personagens, exceptuando-se um ou outro.
Antes do primeiro dia, há uma página onde vem gravada esta fala da adivinhadora Jerussima, justificando-se o título do livro:
"Vinte e cinco é para vocês que vivem nos
bairros de cimento.
Para nós, negros pobres que vivemos na madeira
e zinco, o nosso dia ainda está por vir"
A referida Editora convidou, na altura, outros escritores constituindo assim uma colecção fechada, Colecção Caminho de Abril. Passo a indicá-los:
Alexandre Pinheiro Torres - Amor, só Amor, Tudo Amor
Alice Vieira - Vinte e Cinco a Sete Vozes
Almeida Faria - A Reviravolta
Carlos Brito - Vale a Pena Ter Esperança
Germano Almeida - Dona Pura e os Camaradas de Abril
Manuel Alegre - Uma Carga de Cavalaria
Maria Isabel Barreno - As Vésperas Esquecidas
Mário de Carvalho - Apuros de Um Pessimista em Fuga
Mia Couto - Vinte e Zinco (citado acima)
Sebastião Salgado - Um Fotógrafo em Abril
Urbano Tavares Rodrigues - O Dia Último e o Primeiro
De referir que a indicação da Editora, destes autores e das suas obras é apenas por amor à arte, não obedecendo assim a nenhuma espécie de publicidade de que o Xaile de Seda se distancia sempre.
Neste Dia do Livro, proponho a leitura do livro de Mia Couto, que é o autor aqui homenageado, seguindo o meu propósito de, por estes dias, assinalar escritores moçambicanos, mas também poderá ser de um dos autores acima mencionados ou então um autor e um livro à vossa escolha.
O importante é ler e, também, respeitar os direitos autorais.
====
Mia Couto, Vinte e Zinco - citações páginas: 11, 24, 59, 73, 90, 98
Leia, se interessar:
Leia, se interessar:
Uma análise: Mia Couto e a reescrita da história: o 25 de Abril em Vinte e Zinco
Desconhecia por completo.
ResponderEliminarObrigada pela partilha.
Um abraço
Vagarosos instantes
ResponderEliminarmais vermelhos que os nossos lábios
Bj
Li o de Alice Vieira e não sabia que foi pedido expressamente pela Caminho, tal como os dos outros autores!
ResponderEliminarObrigada por divulgar.
Abraço.
Falta cumprir o "zinco", tem razão o Mia Couto!
ResponderEliminar"a Paz, o Pão, a Habitação...", que venham mais cinco, Olinda!
abraço
Ainda não li este livro de Mia Couto... Ainda não me apareceu...
ResponderEliminarFoi uma bela iniciativa da Caminho e interessante é possuir todos.
Hei-de encomendar...
Aplausos por esta postagem, em que comemora o Dia do Livro e
introduz a a saudação ao dia 25 de Abril.
Dias muito agradáveis, Olinda.
Abraço afetuoso.
~~~
Desconhecia :))
ResponderEliminarHoje:-Quando o sol brilha em desalento.
Bjos
Votos de uma óptima noite
Momentos únicos de uma leitura agradabilíssima de uma obra de Mia Couto que eu não conhecia
ResponderEliminarBeijinhos amiga Olinda
A Caminho teve uma ideia fantástica. Li alguns dos livros referidos, mas não o de Mia Couto e nem sei explicar por que motivo, pois tenho imensos livros dele.
ResponderEliminarMas ele tem razão ao dizer " Para nós, negros pobres que vivemos na madeira
e zinco, o nosso dia ainda está por vir". Oxalá a liberdade, a paz e o bem-estar se cumpram também para eles. Achei lindíssimas as frases que aqui deixou.
Um beijo, minha Amiga Olinda.
O 25 de abril não poderia hoje ser melhor representado . Mia Couto, espantoso na forma como lê a Vida e as palavras que dão vida .
ResponderEliminarQue a liberdade e a paz sejam a companhia dos oprimidos e reprimidos
Belo , Olinda
Beijinho
As citações são deliciosas.
ResponderEliminarMia Couto um grande escritor.
A ideia da editora, um achado.
O post, uma obra prima de inspiração e bom gosto.
Olinda, um bom fim de semana.
Beijo.
Hoje, dia dedicado à liberdade, temos de lembrar Moçambique que também foi libertado com o movimento do dia 25 de Abril, mas que, infelizmente continuou preso à fome . Não pode haver liberdade com miséria, com casas de madeira e zinco, casas qie agora, mais uma vez desapareceram fustigadas pela natureza; nem ela se compadece deste povo tão sofrido, por anos de guerra primeiro e depois por outros interesses que não cuidam do minimo indispensável a uma vida digna. Adorei este post, querida Ol7nda, onde, como sempre, muito aprendi. Das frases que li, destaco esta : " não carecemos de igrejas: o mundo inteiro se transformou numa imensa igreja..." Temos pelo mundo fora muitos edifícios chamados de igrejas, mas gostaria imenso que igreja fosse a humanidade inteira unida no único propósito de espalhar o bem e acabar com a fome para que assim a verdadeira liberdade entre em todos os lares. Sem pão, sem esperança, sem sonhos, não há liberdade. Continuemos a pensar em Moçambique, continuemos a pensar nos muitos que, mesmo aqui, continuam a ter como abrigo casas de madeira e Zinco. São muitos, querida amiga! Obrigada e cá estarei, para contigo, continuar a homenagear aqueles que se preocupam não só com Moçambique, mas com toda a África que continua a clamar por LIBERDADE.Beijinhos minha Grande Amiga e parabéns pelo belo post
ResponderEliminarEmilia
Continuamos em Moçambique e por Moçambique. Mia Couto enriquece-nos. Espicaça o comodismo e defende quem nao tem voz.
ResponderEliminarExcelente iniciativa da Caminho.
Belo post, amiga Olinda!
Beijos.
Olá, querida Olinda!
ResponderEliminarFabuloso postagem, amiga.
Desconhecia este livro de Mia Couto, mas já anotei para procurar nas livrarias.
É lamentavelmente verdadeira a frase da adivinhadora Jerussima, sim, continuam esquecidos os que têm por tecto folhas de zinco.
Beijo.