em chagas de salitre
e os muros, negros, dos fortes
roídos pelo vegetar
da urina e do suor
da carne virgem mandada
cavar glórias e grandeza
do outro lado do mar.
e os muros, negros, dos fortes
roídos pelo vegetar
da urina e do suor
da carne virgem mandada
cavar glórias e grandeza
do outro lado do mar.
Olha-me a história de um país perdido:
marés vazantes de gente amordaçada,
a ingénua tolerância aproveitada
em carne. Pergunta ao mar,
que é manso e afaga ainda
a mesma velha costa erosionada.
Olha-me as brutas construções quadradas:marés vazantes de gente amordaçada,
a ingénua tolerância aproveitada
em carne. Pergunta ao mar,
que é manso e afaga ainda
a mesma velha costa erosionada.
embarcadouros, depósitos de gente.
Olha-me os rios renovados de cadáveres,
os rios turvos do espesso deslizar
dos braços e das mães do meu país
Olha-me os rios renovados de cadáveres,
os rios turvos do espesso deslizar
dos braços e das mães do meu país
Olha-me as igrejas restauradas
sobre ruínas de propalada fé:
paredes brancas de um urgente brio
escondendo ferros de educar gentio.
sobre ruínas de propalada fé:
paredes brancas de um urgente brio
escondendo ferros de educar gentio.
Olha-me a noite herdada, nestes olhos
de um povo condenado a amassar-te o pão.
de um povo condenado a amassar-te o pão.
Olha-me amor, atenta podes ver
uma história de pedra a construir-se
sobre uma história morta a esboroar-se
em chagas de salitre.
uma história de pedra a construir-se
sobre uma história morta a esboroar-se
em chagas de salitre.
In: A Decisão da Idade
União dos Escritores Angolanos,1976
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Poema: daqui (Bibliotecário de Babel)
Ver também no "Xaile de Seda", post com o título "Vou lá visitar pastores", obra sobre os
Kuvale.
Kuvale.
Não conhecia o autor, muito menos o poema.
ResponderEliminarObrigada pela partilha.
Abraço
Sempre a aprender... contigo.
ResponderEliminarOlinda, querida amiga, no teu "Xaile" até «uma história morta a esboroar-se em chagas de salitre» é LINDA!!
Ruy de Carvalho - anotado!
Beijo.
De dor e lágrimas se faz a história de um país.
ResponderEliminar"Olha-me amor, atenta podes ver
uma história de pedra a construir-se
sobre uma história morta a esboroar-se
em chagas de salitre."
Boa escolha, querida Olinda!
Beijo meu.
não conheço o autor, mas pela leitura feita no momento, me parece ter muita qualidade
ResponderEliminarcontudo, não consigo identificar-me com tom muito "Finis Patriae", que ultimamente noutros registos (que não poesia) faz caminho
em verdade, apesar do seu exacerbado republicanismo nunca apreciei muito o poeta Guerra Junqueiro.
peço desculpa se sai do comentário "politicamente correcto", mas na verdade é que tenho em grande consideração este blog
abraço
ResponderEliminarSe me disser, concretamente, em que é que este blog desmerece na sua consideração talvez possa tecer algumas considerações. Para mim, não há o "politicamente correcto" no sentido de se dizer, num comentário, aquilo que quem publica espera ouvir ou ler. Gosto muito de uma boa e sã troca de ideias.
Abraço.