sábado, 28 de abril de 2018

A mão que a seu amigo hesita em dar-se

Perguntaste se eu amo o meu amigo? 
como rompendo um demorado açude 
na tua voz quis hausto que transmude 
todo o cristal dos ímpetos consigo 

Neste meu choro enevoado abrigo 
pôs-me a palavra o peito em alaúde 
que uma doce pergunta tua ajude 
no sim furtivo que eu levei comigo 

Mas a meu lábio lento em confessar-se 
um mestre inda melhor o cunharia 
A mão que a seu amigo hesita em dar-se 

ele a tomou o que mais firme a guia 
para que ao coração secreto amando 
ao mundo todo em rimas o vá dando. 

Walter Benjamin,

in "Sonetos" 

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Marinha Portuguesa resgatou este mês mais de 100 migrantes no Mediterrâneo

Na madrugada de domingo, 22 de abril, a fragata da Marinha Portuguesa ‘D. Francisco de Almeida’, resgatou no mediterrâneo central uma embarcação com 79 migrantes tunisinos que tentavam alcançar a ilha Sicília, Itália.
Os mesmos militares portugueses já haviam salvado na passada terça-feira, 17 de abril, 49 migrantes líbios junto à ilha de Lampedusa, informa a Marinha Portuguesa num comunicado.
“A embarcação, que se encontrava sobrelotada, afundou-se pouco tempo depois de todos os migrantes terem sido retirados para a fragata portuguesa”, lê-se no comunicado.
Os migrantes eram todos do sexo masculino, entre os quais 15 menores, e foram entregues às autoridades italianas no porto de Pozallo. Mais






Espanto-me. Ainda há migrantes no Mediterrâneo, em barquinhos sobrelotados arriscando a vida? É notícia que já não abre telejornais nem preenche primeiras páginas de jornais. Com efeito, do fluxo migratório dos martirizados do norte de África já não se fala, nem da tragédia latente no Mediterrâneo. 

Parece estar já esquecida a procissão dos sobreviventes pelos gelados campos de concentração ou acolhimento. E a Itália com o ónus de uma situação cuja responsabilidade caberia à União Europeia. Mas, talvez haja aí um acordo entre as partes (?). Não sei, quem sabe se não é ignorância minha e está tudo resolvido.

De louvar a acção da Marinha Portuguesa. Depreendo que esteja inserida numa  política europeia, concertada entre todos, não? Mas, de qualquer maneira, sabe bem ver essa mão que se estende aos desamparados da sorte.

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Poema: Citador
Tradução: Vasco Graça Moura
Imagem: daqui

8 comentários:

  1. Um Amigo sempre estende a mão
    A quem precisa dum gesto sério.
    Quem tem Amigos tem um império
    Porque a amizade é o coração.

    A Missão da Marinha Portuguesa, está a desenrolar-se em Acordos de cooperação. Trabalho meritório. Telejornais e outros, não falam "nisto" e até procuram esconder outras acções do passado que nos deviam orgulhar pela Pátria que somos.


    Beijo
    SOL

    Poema

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  2. Gostei do soneto deste poeta que desconhecia.
    Quem dera que o problema dos migrantes e refugiados estivesse resolvido. O facto de já não abrir noticiários, não quer dizer que tenha terminado.Só que a habituação retirou audiência ao facto, e eles vivem de e para as audiências.
    Abraço e bom domingo

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  3. Olinda já sentia falta do aconchego do teu xaile.
    Amei esta postagem. Pelo belo poema de Vasco Graça Moura e, particularmente, por lembrares os bravos e corajosos homens da nossa Marinha. Eles fazem milagres quando resgatam do mar perigoso, homens, mulheres e crianças (algumas bebés) que buscam refúgio.
    Grave problema humanitário. Uma tristeza sem fim.
    Não fechemos os olhos.
    Beijo, amiga.

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  4. Mas que soneto complicadinho, numa linguagem poética que habitualmente classifico de barroca e que faz lembrar
    alguns trabalhos de Natália Correia.
    Quanto ao teu parecer sobre a tragédia do Médio Orienta
    e de suas águas, estou completamente de acordo com ele.
    Dias agradáveis e harmoniosos.
    Beijinhos, estimada Amiga.
    ~~~~

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  5. " Ignorância tua ?", " está tudo resolvido?" Seria bom, Olinda, que fosse ignorância tua e minha e que tudo estivesse resolvido, mas, infelizmente tudo continua igual e nós, neste aspecto, não somos nada ignorantes. Sabes, eu só ligo a televisão as 13h para ouvir as notícias e , sexta feira, fiquei pasmada , porque a abertura do jornal do canal 1 foi sobre futebol e hoje, domingo, não se tem ouvido outra coisa senão futebol; amanhã continuará a discutir-se os jogos de hoje e, para nāo me aborrecer, deixo a sala, e venho para o quarto, pois acabo por cansar. Gosto muito de ver o Brain storm no canal 1, mas, se der um jogo da taça da liga, taça de Portugal ou liga dos campe, já sei que esses programa não passará. Amiga, não sou contra o futebol ou qualquer outro desporto, mas acho que há coisas mais importantes no pais e que merecem mais atenção por parte de quem tem a obrigação de informar, ainda mais em se tratando da televisão pública. Não é de estranhar, portanto, a pouca importância dada a esses miseráveis que chegam à Itália com o único oblectivo de terem uma chance de viver; não querem mais nada a não ser fugir da morte. Têm ainda muitas mãos amigas que se estendem a eles salvando-os das intempéries e das más condições dos barquinhos onde viajam, mas chegam esses amigos? São valiosos, são heróis cujos feitos deveriam abrir os telejornais de todas as televisões, que deveriam ser capas de todos os jornais diários, de todas as revistas, mas....não! Há muito que são simples noticias de rodapé, como se esses milhares de seres humanos fossem " lixo ", fossem objectos inuteis que todos os dias são lançados aos mares e aos rios pelos cidadãos do nosso e de outros paises.. Há muitas mãos amigas que não hesitam em dar-se aos outros e a estes mkgrantes em particular, mas são impotentes perante outros interesses maiores e muito, muito mais lucrativos. Estes dão muita despesaa e, por incrivel que pareça, também não dão votos; infelizmente também nao dão audiência e também não vendem jornais e aqui, amiga, a culpa não é só dos " donos do mundo ", mas sim de cada um de nós que não desligamos a tv, que não mudamos de canal e que continuamos a comprar os jornais e revistas que não se preocupam com aquilo que realmente interessa. Olinda, estou no meu quarto, com a tv desligada, pois há horas que, em todos os canais se fala de futebol, Gostei muito deste poema que não conhecia e, sinceramente, não creio que se volte a falar dessa triste realidade qje todos os dias se vê na Itália; Choca, mas não é problema nosso! Infelizmente é essa a ideia! Obrigada, por nos lembrares que temos, pelo menos, a obrigação de não esquecer essa GENTE e que devemos olhar à nossa volta e estender a mão amiga a quem dela precisar.. Desculpa por me ter alogado tanto, mas...sou assim....às vezes não percebo que estou a " falar muito " Beijinhos e boa noite, amiga.
    Emilia


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  6. Poesia, tragédia e altruísmo interligados. Dar a mão, resgatar a amizade, salvar quem de caixão tinha o Mediterrâneo ...
    Não se passa por este blogue sem agitarmos o pensamento.

    Beijo, Olinda.

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  7. Os migrantes já não abrem os telejornais. Pois não. Às vezes nem sequer se fala deles. Para parecer que o problema não existe? É mesmo muito triste o que ainda continua a acontecer, minha Amiga.
    Achei interessante ler o soneto de Walter Benjamin. Nem sequer sabia que tinha escrito poesia...
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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  8. as palavras estão gastas, bem o sabemos!

    ... e, no entanto, a palavra "amigo" é daquelas que queima
    os lábios!

    gostei muito ler o soneto, aqui.
    ................

    ecoa por todo Mediterrâneo a versão moderna do grito "delenda Carthago": a história repete-se, por vezes, como tragédia, outras como comédia ... e também se vinga!

    abraço

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