domingo, 4 de março de 2018

Mumadona Dias e Vimaranes

Mumadona ou Dona Muma. Quem sabe? Ainda se pesam possibilidades quanto ao seu verdadeiro nome. Também em relação às datas do seu nascimento e da sua morte parece não haver certezas. O que eu sei de certeza é que já a conheço há muitos e muitos anos. Sinto que somos quase da mesma idade. Sem razão nenhuma, tive sempre a sensação de que teríamos algo em comum. Mas não consigo encontrar esse ponto. Loucura minha, está-se mesmo a ver. 

Consta que era a mulher mais rica e poderosa do noroeste peninsular, filha dos condes Diogo/Diego Fernandes e Onega/Onecca, primos dos Reis de Leão. O que eu não compreendia era por que motivo ela tem o apelido "Dias/Diaz" e não Fernandes do pai ou Gonçalves do marido. Mas, posteriormente, descobri que naqueles tempos as regras quanto a apelidos eram diferentes. Em espanhol: Dias/Diaz significa filho de Diogo/Diego.


A imagem que mais a identifica foi idealizada e esculpida por Álvaro de Brée. Perseguindo pressupostos históricos ou lendários, Mumadona teria de ser "formosa e firme e determinada, sustentando na mão esquerda o castelo que significa Guimarães e o documento que lhe deu forma e vida; a direita segura a Cruz. Ergue-se na praça que tem seu nome, donde ela contempla os sítios do seu mosteiro e agora da Igreja de Nossa Senhora da Oliveira".*

Um dos acontecimentos que parece ser mais ou menos datado na vida desta Condessa é o do seu casamento com Hermenegildo (ou Mendo) Gonçalves que teria sido entre 915 e 920 e antes de Fevereiro de 926. Por morte do marido (950) dividiria os seus bens e domínios pelos seus seis filhos. É importante referir que um deles, Gonçalo Mendes, penso que o primogénito, viria a ser o dux magnus do nosso território e tronco dos condes portugalenses por seu filho Mendo Gonçalves.

Mas, o que interessa agora para este meu texto é o seguinte: o mosteiro que Mumadona mandara edificar e os povoados circundantes precisavam de ser defendidos das hordas de assaltantes que assolavam as suas terras. Júlio Gil explica isso assim: "Exércitos de muçulmanos vinham do Sul; bandos de vikings, piratas destros no mar e na guerra, saltavam nas praias ou rios dentro a matar, pilhar, destruir, arrastar cativos. Após um desses assaltos de "gentios", julga-se que nórdicos, Mumadona apressou a construção de castelo protector do mosteiro e refúgio de indefesos." 

Realmente, tempos complicados.



E sobre fraguedos, no outeiro do Monte Latito, Mumadona Dias manda erguer simples torre e precária muralha. O objectivo estava cumprido. Com o andar dos tempos foi tendo acrescentos e alterações até, provavelmente, ao reinado de D. João I. Contudo, "no século passado (XIX) a Câmara Municipal despachou da muralha e do próprio castelo muito granito para obras locais (calçadas e outras), chegando em 1836 um dos vereadores a propor o total arrasamento do castelo e o aproveitamento da silharia na pavimentação de arruamentos. Salvámo-nos por um voto..."



Felizmente, o nosso Castelo continua de pé e, penso, de boa saúde. Temos ainda que D. Afonso Henriques terá nascido em Guimarães local onde Vímara Peres, conde e presor do Porto e bisavô de Mumadona, fundara a localidade de Vimaranes, e onde ela se fixara. Outros dizem que o nosso primeiro rei teria nascido em Viseu. Mas, isso não interessa nada. O que nos interessa é que Guimarães é tida como a nossa Cidade-Berço. O Berço da nossa Nacionalidade. 

E hoje, terá lugar nessa bela e histórica cidade um evento que alguns considerariam menor. Mas não. Quem a escolheu terá tido isso em mente, ou seja, é nosso dever prestigiar os lugares que fazem a nossa história. Mitos, lendas e História de mãos dadas. Gosto. 




Rectificação do:


A nossa Condessa não tem vista sobre a Igreja da Oliveira e, que eu saiba, nunca teve. Está junto do tribunal, num largo grande com vista para o Paço dos Duques. E é tão digna e fidalga como a descreve.
Um dia tem que (nos) vir visitar.
Beijinho
Ruthia d'O Berço do Mundo

    Muito obrigada, querida Ruthia, pela sua preciosa participação.
    Beijinhos
    Olinda

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NOTA

A Ruthia tem razão quanto à localização actual da estátua de Mumadona Dias. Na imagem vemos perfeitamente o edifício da domvs ivstitiae por trás da estátua. Mas não foi sempre assim. A estátua já esteve noutro sítio.

Passo a transcrever, na íntegra, a passagem que deu azo às minhas afirmações, resumidas, no início desta publicação:
Erguida na praça que tem seu nome, próximo e a sul da colina que chamavam Monte Largo, onde era a velha vila Araduca e é chão do Castelo, da Igreja de São Miguel e do Paço Ducal, a idealizada figura de Mumadona contempla os sitios do seu mosteiro e agora da Igreja de Nossa Senhora da Oliveira, e mais a ampla cidade baixa e os jardins e as quintas que sobem o monte da Penha dando escala e mais beleza a uma das mais belas paisagens da nossa terra.


Esta foto, sem qualidade nenhuma, que tirei com o meu telemóvel à página 47 da primeira fonte, abaixo indicada, tem esta legenda:

Estátua da Condessa Mumadona - ao fundo o grandioso Paço Ducal mandado construir por D. Afonso 1º Duque de Bragança.


Aqui vê-se a estátua com mais nitidez, embora o Palácio Ducal não esteja à vista (estará mais acima)

Como se pode verificar, uma imagem completamente diferente da que se vê junto ao Palácio da Justiça. E com razão de ser. A estátua foi deslocada para o recinto actual em 2004 ou, pelo menos, a deslocação foi projectada nessa altura.

Com efeito lê-se AQUI

A estátua da Mumadona vai ser deslocada para o passeio que contorna o Tribunal Judicial de Guimarães. A emblemática representação ficará colocada frente ao escadario que dá acesso ao interior do edifício judicial.
o projecto da obra de reconversão do espaço consta ainda uma passagem subterrânea que ligará o Largo da Mumadona à Colina Sagrada.
A notícia faz manchete na edição de hoje do jornal O Comércio de Guimarães. O projecto tem a assinatura de Siza Vieira e deverá avançar 
entre os meses de Agosto e Setembro.

Também concordo com a Ruthia num outro ponto. Tenho de ir a Guimarães para uma demorada visita. Já lá não vou há muito tempo. E tenho saudades.

Abraço



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Fontes:
*-As mais belas Cidades de Portugal, pg 42-Texto de Júlio Gil, Fotografia de Nuno Calvet - Editorial Verbo- 1995
**-Os mais belos Castelos de Portugal - Guimarães- pag. 33 e 34 - Texto de Júlio Gil e Fotografia de Augusto Cabrita, 3ª Edição Editorial Verbo
-Dicionário de História de Portugal-IV, pg 357, de Joel Serrão -Livraria Figueirinhas - Porto

Testamento de Mumadona Dias
 Património

2ª Imagem - daqui
3ª imagem - daqui

11 comentários:

  1. Boa noite Olinda!
    Tudo bem minha querida. Desculpa pela ausência, acabei demorando um pouco mais na minha pausa no blog.Gostei muito da história Mumadona. Ela deve ter si uma grande mulher e muito poderosa. Políticos só serve pra roubar e destruir o patrimônio que pertence ao povo. Ainda bem que foi salvo por um voto, e o castelo continua de pé. Imagens muito bonita.
    Uma boa semana minha amiga!
    Beijos, com um abraço enrolado num sorrisos.

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  2. Gostei muito de aqui ver esta linda homenagem à cidade de Guimarães, assim como achei uma óptima ideia ter sido escolhida para este grande evento da música portuguesa; afinal, aqui nasceu Portugal e Portugal foi pela primeira vez agraciado com este prémio que muito nos orgulhou. Sempre que tenho cá amigos do Brasil, mostro-lhes esta cidade e eles ficam encantados, assim como com outras aqui do Norte. É bom que se lembrem destas cidades pequenas para acontecimentos desta importância, pois assim promovem-nas contribuindo para o seu desenvolvimento. Aqui , amiga, nos deixas informações muito detalhadas sobre o castelo de Guimarães que eu desconhecia e assim já posso pegar naquele paninho que comecei a bordar há muitos muitos anos no liceu da Póvoa de Varzim e que estava guardadinho no fundo de uma gaveta; coitado...muito incompleto e com pouquinhos pontos " mal amanhados " ; a idade era outra, a maturidade muito pouca e os conhecimentos também não eram grande coisa; agora, aprendidos mais pontos e com conhecimentos adquiridos com o passar do tempo e com estes por ti deixados, posso e devo continuar o trabalho, não achas? Será a minha homenagem a esta linda cidade; jã o tirei da gaveta, já peguei nas linhas e agulha e agora e so continuar a bordar. Obrigada, querida amiga! Aprendi muito, hoje! Beijinhos e uma boa semana
    Emilia

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  3. Quanto ao berço de Portugal há muitas dúvidas. Guimarães assumiu-se. Um rasgo na história é sempre do meu agrado. confesso que gostei de conhecer Mumadona Dias e o seu castelo.

    Grata, amiga.
    Beijinho.

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  4. Em 2012 Guimarães foi a cidade europeia da cultura.Dizem que rejuvenesceu. E eu (ocasionalmente) fiz parte de uma orquestra alargada, eu e o o povo que por ali estava. Sentada na relva, participei e emocionei-me. O maestro era jovem e não recordo o nome. Que animação! ora palmas, ora vozes, ora instrumentos... Foi uma experiência incrível!

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  5. A nossa Condessa não tem vista sobre a Igreja da Oliveira e, que eu saiba, nunca teve. Está junto do tribunal, num largo grande com vista para o Paço dos Duques. E é tão digna e fidalga como a descreve.
    Um dia tem que (nos) vir visitar.
    Beijinho
    Ruthia d'O Berço do Mundo

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    Respostas
    1. Olá, Ruthia

      Levei o seu comentário para o post onde deixei algumas anotações.
      Muito obrigada pela sua participação.

      Bj

      Olinda

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  6. Muito interessante, vou guardar os links :)
    A regra na atribuição dos apelidos medievais vê-se bem em Afonso Henriques (porque filho de Henrique). Mas é verdade que há casos mais difíceis de ordenar, como o referido caso "Dias", ou "Viegas" filho de "Egas".

    Não se devia é cometer erros grosseiros, como apelidar a nossa D. Teresa de Teresa Henriques, como fez uma conceituada jornalista, no livro "100 Portuguesas com História".

    Beijinhos

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  7. Meu Deus, Anónimo! Gostaria que se desse a conhecer.

    Publiquei os seus textos para os ler com vagar e ver consigo percebê-los.

    Dentro da compreensão destes textos, conforme disse acima, verei se incluo uma pequena menção aos mesmos no corpo do post.

    Cumprimentos.

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  8. Olá, anónimo

    Publico os textos, que deixei pendentes na esperança que me dissesse o motivo de mos trazer.

    Penso que o seu propósito é deixar aqui a mensagem de uma verdade no que diz respeito à sua ascendência. Será isso?

    Como deve compreender o teor dos textos é complexo pelo que terei de os ler e tentar compreender o que me diz.

    Cumprimentos.

    Olinda Melo

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  9. Caro Anónimo, desculpe meter-me na conversa. Confesso que os seus comentários me soam confusos e, até agora, não tinha encontrado ponta por onde lhe pegar. Mas, neste último comentário, houve algo que me chamou a atenção. Fala em antepassados seus parentes e refere: "Inglaterra desde Rollo a Eduardo III de Inglaterra". Ora, o Normando Rollo nunca teve nada a ver com a Inglaterra. Rollo recebeu, do rei de França, um território, com a promessa de não mais assolar e devastar a região costeira francesa. Esse território recebeu o nome de Normandia (por ser entregue a um Normando) e faz, hoje em dia, parte da França. Rollo era Duque da Normandia, não teve nada a ver com Inglaterra.

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  10. Olá, anónimo

    Tenho pendentes 9 longos comentários seus, salvo erro, colocando os seus pontos de vista em resposta ao comentário acima. Resuma-os num apenas, não extenso, e publicá-lo-ei.

    Penso que deverá procurar outro espaço para colocar as questões que o preocupam.

    Cumprimentos.

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