Pergunta-me
se ainda és o meu fogo
se acendes ainda
o minuto de cinza
se despertas
a ave magoada
que se queda
na árvore do meu sangue
Pergunta-me
se o vento não traz nada
se o vento tudo arrasta
se na quietude do lago
repousaram a fúria
e o tropel de mil cavalos
Pergunta-me
se te voltei a encontrar
de todas as vezes que me detive
junto das pontes enevoadas
e se eras tu
quem eu via
na infinita dispersão do meu ser
se eras tu
que reunias pedaços do meu poema
reconstruindo
a folha rasgada
na minha mão descrente
Qualquer coisa
pergunta-me qualquer coisa
uma tolice
um mistério indecifrável
simplesmente
para que eu saiba
que queres ainda saber
para que mesmo sem te responder
saibas o que te quero dizer
se acendes ainda
o minuto de cinza
se despertas
a ave magoada
que se queda
na árvore do meu sangue
Pergunta-me
se o vento não traz nada
se o vento tudo arrasta
se na quietude do lago
repousaram a fúria
e o tropel de mil cavalos
Pergunta-me
se te voltei a encontrar
de todas as vezes que me detive
junto das pontes enevoadas
e se eras tu
quem eu via
na infinita dispersão do meu ser
se eras tu
que reunias pedaços do meu poema
reconstruindo
a folha rasgada
na minha mão descrente
Qualquer coisa
pergunta-me qualquer coisa
uma tolice
um mistério indecifrável
simplesmente
para que eu saiba
que queres ainda saber
para que mesmo sem te responder
saibas o que te quero dizer
In:Raiz de Orvalho
António Emílio Leite Couto, moçambicano, escritor, biólogo.
O seu novo livro: "O Bebedor de Horizontes" que o autor classifica como o seu maior desafio enquanto escritor. Confira, aqui.
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Poema: Citador
Poema: Citador
Imagem: Pixabay
Um belíssimo poema de um poeta que muito admiro, e de um livro que li e reli.
ResponderEliminarUm abraço
Soube-me muito bem ler este poema do Mia Couto. Sou fã incondicional, por uma série de razões, mas que se resumem a isto: superior qualidade literária!
ResponderEliminarVerifico que tens dado vida às palavras, ultimamente, bem ao contrário de mim, por manifesta falta de tempo.
Bjo, Olinda
Olá Olinda!
ResponderEliminarJá li romances e contos de Mia Couto, escritor de que gosto muito, mas nada de poesia.
Vou procurar mais. Obrigada por me "abrires os olhos".
Beijo.
Só pergunta quem se interessa.
ResponderEliminarExcelente escolha, um poema lindíssimo.
Beijinhos
Maria de
Divagar Sobre Tudo um Pouco