segunda-feira, 29 de junho de 2015

Salve, Aquiles.


Salve, Aquiles. Não nos faltou o repasto onde todos são iguais, nem na tenda de Agamémnon, o Atrida, nem, agora, aqui: pois vós nos servistes os manjares apropriados, com abundância. Mas as refeições agradáveis não nos importam. Uma enorme desgraça, ó criatura de Zeus, atrai os nossos olhares e assusta-nos; não sabemos se salvaremos ou se perderemos os navios bem carpinteirados, a não ser que tu revistas a sua valentia. Porquanto os Troianos fogosos, e os seus aliados dos países longínquos, estabeleceram o seu acampamento perto dos navios e do baluarte; eles acenderam muitas fogueiras nas suas linhas, e afirmam que já não os deteremos, e que atacarão as negras naus. Zeus, filho de Crono, fez aparecer sinais, relâmpagos, à direita deles. Heitor, muito orgulhoso da sua força, assolou furiosamente, confiante em Zeus, e deixou de respeitar homens e deuses. Alimenta-o uma raiva potente. Ele ora para que surja o mais depressa possível a divina Aurora; na varanda, diz-se capaz de cortar a ponta extrema dos nossos navios, de lhes abrasar os cascos num fogo ardente; e de degolar os Aqueus junto dos seus barcos, enlouquecidos pelo fumo.Temo terrivelmente, em minha alma, que estas ameaças sejam consumadas pelos deuses, e que seja nosso destino perecer em Tróade, longe de Argos, nutridora de cavalos.

Ilíada - Homero
Excerto, pg. 128,
Palavras do divino e prudente Ulisses

9 comentários:

  1. Provavelmente pereceremos!
    Beijinhos e boa semana, enquanto nos é permitido :)

    ResponderEliminar
  2. Um texto que obrigará uma reflexão.
    Desejando que se encontre bem.
    Bj.
    Irene Alves

    ResponderEliminar
  3. Será que o povo vai vergar Atenas?

    ResponderEliminar
  4. Será que ainda se encontra senso nos Ulisses deste tempo?
    O tema deixa pontas para se meditar o tempo presente.
    Apropriado e bem escolhido excerto de Homero.



    Beijos


    SOL

    ResponderEliminar
  5. ~~~
    ~ Presentemente, não há salvação possível para os gregos, nesta refrega:
    ou resistem à extrema miséria da bancarrota, ou assinam o direito perene
    da supremacia dos povos ricos da Europa...
    ~ De qualquer modo, nós saímos perdendo...
    ~ Muito!
    ~~~
    Pesadas botas bárbaras tentam esmagar o país que idealizou a democracia!
    ~~~
    ~ Porém,
    «perder uma batalha, não significa perder uma guerra»
    ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

    ~ ~ ~ Beijinhos, amiga. ~ ~ ~
    .

    ResponderEliminar
  6. Olá, Olinda.
    Belíssimo texto repleto de receios tão válidos diante da tempestade que ameaça nos céus.
    Terra que pariu a Cultura, que ainda hoje encanta e alinhavou a Democracia que hoje enche a boca de muitos e o coração de poucos.
    Irresponsabilidades graves e inadmissíveis assim como inegáveis de quem tem em mãos problemas já de si difíceis, dum lado.
    Mas, do outro lado, a irrevogável supremacia de quem observa do alto do monte, onde crê que o mar revolto não lhe molhará os pés - mas não?
    Insensato o homem que acredita que a vida é uma reta infinita, que a terra é plana, que o amanhã ainda está muito distante.

    um bj amg

    ResponderEliminar
  7. Querida amiga

    Nestas histórias
    algo é atemporal:
    - a sua mensagem.
    Por meio de metáforas,
    lendas, e entrelinhas,
    podemos imaginar
    os personagens ao nosso redor,
    ou nos identificar intensamente
    com os mesmos...

    Um imenso abraço.

    ResponderEliminar
  8. Excelente Texto para ler e refletir !

    ResponderEliminar
  9. Mesmo sem ler o texto, muito estão a refletir sobre as questões que aborda, tão presentes! As interrogações pairam no ar e nos corações. Bjs.

    ResponderEliminar