Há poesia no ar por estes dias. Há poemas de todas as cores e sabores. Ah, se eu pudesse trincar a terra toda*, dar-lhe pinceladas de azul de amarelo de verde por cima da sua paleta e saboreá-la em toda a sua dimensão, do alvorecer ao negrume na noite. Tudo canta, tudo baila. Basta apurarmos os ouvidos e deixar que os sentidos se envolvam nesta sinfonia de amor e êxtase. Porque tudo no universo trabalha para isso, porque fazemos parte dele, é hora de escutar os ruídos que procuramos ignorar.
Escutemos estes sons que as palavras de Ana Pinto nos trazem. Bebamo-los de um só trago ou devagar da taça das palavras.
A taça, as palavras
Quero palavras como fruta viva ou pão cozido ao sol
palavras verdes e roxas, com seiva a correr e bagas
cheias,
palavras fermentadas entre a terra e a boca
ou palavras cereais
brotando no trigo das antemanhãs
Quero palavras que se possam plantar em campos extensos,
que estejam nuas e que mantenham intacto o orvalho
Ou palavras temperadas de oiro, entre o metal e a faísca
com o âmago do fogo puro
e a luz toda no seu centro
Afasto a taça das palavras ocas, apodrecidas
sob as trevas dos punhais
Ou então, deixemos o nosso lado místico fazer de nós seres completos e perfeitos. Ouçamos o cantochão numa catedral, imponente, erguendo-se aos céus, o nosso duomo, a nossa casa. Assim os sons dos clássicos, sinfonias, seja a quinta, a nona ou outra, ou sons que vêm desde tempos imemoriais, os dos tambores até aos nossos dias: sejam os ritmos, triste e belo de um fado, dolente de uma morna, remexido de um funaná, ou as rimas faladas e interventivas de um rap.
Tudo isto vejo eu na Catedral da noite desta autora, também artista plástica, que pinta com os olhos do pensamento:
A catedral da noite é como um berço
onde habitam harpas, acordes que procuram
a forma indivisível da casa
em colunas erguidas à última corda dos céus.
Dizem que no meio estão os anjos todos brancos
e que aí a música dos ares abre
crateras amplas de fogo e de cristal.
E que nas entranhas da noite se move
o espírito do poema. Por isso
nas mãos, nos dedos,
cresce-me a cadência, o uso
de revolver a palavra no negrume
até descer ao silêncio
e ouvir o som.
Sejamos receptáculos do que é belo e precioso na obra humana e acima de tudo das maravilhas com que a natureza nos brinda todos os dias.
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*Referência minha ao "Guardador de Rebanhos" de Alberto Caeiro.
Boa tarde, parabéns pelo seu belo texto de palavras temperadas de oiro, entre o metal e a faísca.
ResponderEliminarAG
A Arte de produzir é uma verdadeira taça que se enche de misturas e se bebe de um trago.
ResponderEliminarTrabalhos excelentes, nos trazes, Olinda. Fico feliz por poder conhecê-los.
Parabéns.
Beijos
SOL
A Natureza oferece-nos grandes maravilhas , saibamos olhar e admirar tanta Beleza !
ResponderEliminarAqui despontam os cravos
ResponderEliminare as andorinhas
Bjs
Muito belo!
ResponderEliminarBjs
Isabel Gomes
Muito belo...Espectacular....
ResponderEliminarCumprimentos
A natureza é um manancial de beleza. Pena que o homem ande tão distraído. Muito belo o conjunto da Ana Pinto. Obrigada pela partilha.
ResponderEliminarUm abraço
Que artista completa é Ana Pinto, não conhecia!
ResponderEliminarBeijinhos de cabeça no ar, com o eclipse :)
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ResponderEliminar~ ~ Não conhecia...
~ Uma poesia forte e veemente, com bases genesíacas e telúricas e um fundo crente.
~ Muito interessante, Olinda. Grata.
~ ~ ~ Abraço amigo. ~ ~ ~
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Que apelo maravilho e que artista estupenda!
ResponderEliminarObrigada, querida Olinda, pela partilha.
Beijo meu
Querida Olinda, partilho deste seu apelo: que tenhamos capacidade para recebermos a Beleza e , mais ainda, de a redistribuir.
ResponderEliminarAbraço com muito carinho e que seja feliz a sua Primavera :)
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ResponderEliminar~ ~ Que sejam excelentes,
~ O Dia Mundial da Poesia
~ ~ e o seu fim de semana.
~ ~ ~ Abraço amigo. ~ ~ ~
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As palavras têm um poder imensurável, elas podem trazer uma imensa alegria ou destruir um coração. Através da poesia conseguimos deixar a nossa alma divagar ao sabor das palavras do poeta. Excelente escolha.
ResponderEliminarBeijinhos
Maria
Que bela postagem! Que rica sensibilidade! As telas são lindas e o talento dela, também na escrita, louvável. Vamos lendo com o coração. Ela, com propriedade, "afasta a taça das palavras ocas". Gostei muito. Bjs.
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