Não propriamente desaparecida em combate mas com os sentimentos e emoções repartidos entre dois continentes, aqui me têm a escrever-vos esta carta como no tempo em que o mar era o veículo privilegiado para as idas e vindas e que tanto servia para separar como para unir.
Por mais que a comunicação seja (e é) hoje facilitada, a evocação do mar surge-nos de imediato quando a imagem de terra longe nos bate à porta. O mar que beija as águas do Tejo e que no passado tanto trazia especiarias e escravos como levava marinheiros andarilhos para os quatro cantos do mundo.
Pois, não vos trago a Cesária Évora como o título desta publicação poderia sugerir, mas Alexandre O'Neill na sua Gaivota, para uma releitura.
E porquê?
E porquê?
Foto - UJM*
GAIVOTA
Se uma gaivota viesse
trazer-me o céu de Lisboa
no desenho que fizesse,
nesse céu onde o olhar
é uma asa que não voa,
esmorece e cai no mar.
Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração.
Se um português marinheiro,
dos sete mares andarilho,
fosse quem sabe o primeiro
a contar-me o que inventasse,
se um olhar de novo brilho
no meu olhar se enlaçasse.
Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração.
Se ao dizer adeus à vida
as aves todas do céu,
me dessem na despedida
o teu olhar derradeiro,
esse olhar que era só teu,
amor que foste o primeiro.
Que perfeito coração
no meu peito morreria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde perfeito
bateu o meu coração.
Poema de:
Porque alguém de nome Raquel veio ao XailedeSeda, há dias, colocar-me as seguintes questões ( ver AQUI):
Será que me podia dizer qual o tema do poema? O amor por Lisboa ou o seu primeiro amor?
Achei estas questões interessantíssimas. Elas fizeram-me olhar com novos olhos para este belíssimo poema, tão diferente de outros que ele escreveu.
Eis o que eu disse, para já, à Raquel:
Interessantes as suas questões, Raquel. Trouxeram-me a preciosa oportunidade de reler este lindo poema de O'neill. Quanto ao tema que poderei dizer-lhe? Como saberá, A.O'neill é um poeta de intervenção e, por via disso, sofreu algumas represálias. Na sua obra, lança um olhar surrealista ao real, usando o humor como arma, e disso procurou fazer escola.
Neste poema, porém, ele aparece-nos com uma poesia emocional. O autor fala de Lisboa mas também de certas características relacionadas com o modo de ser português. Fala do amor primeiro e também de uma certa desesperança, quando ele nos induz a ideia da morte, no final.
Fiz hoje um post convidando os meus leitores a darem-me a sua opinião. Portanto, voltarei.
Então, meus amigos, qual é a vossa opinião?
Desejo a todos um excelente domingo.
:)
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*Quem melhor do que UJM para fotografar e falar de Lisboa?
E eu ali a fotografar, tão feliz por poder desfrutar toda esta beleza. Lisboa quase difusa, envolta em neblina, os veleiros difusos na paisagem, e a gaivota voando e gritando sobre as águas (...) clicar
Na minha pesquisa de imagens vi esta foto e soube logo de quem era. UJM, espero que não se importe...
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NOTA: FIZ, NESTA DATA, UMA ADENDA AO POST "TRAPOS V".
(^‿^)✿
ResponderEliminarCoucou et merci pour ce beau partage chère Olinda !
GROS BISOUS à toi et bonne continuation
Olá Olinda, sempre tão querida, com o afecto a transparecer em tudo o que escreve.
ResponderEliminarMuito obrigada pelo uso da fotografia e pela referência e por tudo.
Um beijinho!
Olá Olinda
ResponderEliminarO poema comove-nos com seu amor pela Pátria, sentimento raro nos dias de hoje
Gosto do cunho emotivo impresso em cada verso do soberbo de O'Neill
Um domingo feliz e abençoado
Beijos
~ .
ResponderEliminar~~ ~ ~ Parece-me, simplesmente, um poema de saudade. ~ ~ ~~
~ O eu poético recorda Lisboa, olhando o céu, num litoral distante.
~ O seu olhar "esmorece e cai no mar"...
~ Sente a falta da presença animadora e jovial de alguém de Portugal.
~ Pela intensidade com que alia a saudade de Lisboa e a do seu amor
- o primeiro e único - podemos inferir que a amada residiria na capital
do seu país que teve de deixar para residir no estrangeiro,
~ Sabemos que deveria tratar-se de um mancebo que provavelmente
estaria exilado, por motivos políticos ou de objecção de consciencia
militar, factos estes muito vulgares na época.
~ ~ Grande abraço amigo, Olinda. ~ ~
~ ~ ~ Dias aprazíveis e felizes. ~ ~ ~
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
É um poema de saudade sim; um poema tão belo ele mesmo como a própria palavra "saudade".
ResponderEliminarMuito boa a fotografia. Ilustra bem a essência do poema.
Bjs
Isabel Gomes
Numa espécie de exílio, o poeta sente a frustração de um voo inacabado num céu, que também ele, não o completa por não se integrar no seu coração, no seu pensamento, logo não o faz feliz.
ResponderEliminarUma “Lisboa”, um país, agora e ainda " imperfeitos" onde não há sonhos.
Abraço!
Amiga a uma bom tempo conheço seu blog e sou uma das primeiras seguidoras
ResponderEliminarme encantei na época com o nome do seu blog.
Xaile de Seda...O tempo foi passando a gente parece que esquece,
mais nunca vou esquecer você.
O poema de hoje me emocionou muito parece um hino a Portugal.
Terra Linda embora nunca tive o privilégio de conhecer.
Uma feliz e abençoada semana abraços.Evanir.
Gosto de Lisboa e do Tejo que por ali passa, Gosto do poema que lhe dá mais encanto. Até as gaivotas parecem ter saudades e voltam de asas abertas com um coração de mar.
ResponderEliminarOlá amiga, espero que seus espaço tenha alcançado o topo dos melhores blogs lido ao além mar.
ResponderEliminarPeço desculpas por não ter interagido nestes períodos que ficamos sem máquina e em tratamento médico.
O pouco que conheço de sua terra nos remete a vislumbrar uma ótima visão do que descreve sempre por aqui, passamos a nos interessar e colher nuances dessa que é a terra mãe dos brasileiros.
Agradeço por estar sempre presente em nosso convívio interativo.
Abraço
Gostei da força, saudade e nostalgia deste post
ResponderEliminar:)
.
ResponderEliminarFoi boa a escolha. O texto
é lindo.
Beijos,
.
Que despontem os cravos
ResponderEliminarBj
Carlos do Carmo elevou, engrandeceu, recriou o sentimento e este magnífico Poema.
ResponderEliminarTudo por Lisboa.
"[... Se ao dizer adeus à vida
as aves todas do céu,
me dessem na despedida
o teu olhar derradeiro,
esse olhar que era só teu,
amor que foste o primeiro....]"
Beijos
SOL