De volta com Alberto da Costa e Silva, agora com o título do livro pelo qual lhe foi atribuído o Prémio Camões - 2014, tendo também em conta toda a sua obra. Não que eu o tenha já lido, mas baseio-me na análise que dele faz Guilherme d'Oliveira Martins - um admirável livro de história e de memórias:
Ao lermos o “Espelho do Príncipe”, onde o memorialista e o historiador se encontram, somos levados à recordação de um jovem de Sobral, no Ceará, até à ida para o Rio de Janeiro, que relembra episódios onde a natureza, as tradições e a sociedade que evolui se encontram, como no célebre episódio do ritual da morte de uma galinha, onde percebemos que o lado melancólico apela à magia da existência: “a visão da moça a matar a galinha frequentou a sua infância. Ele acordava cedinho e, encolhido na rede, assistia à cena a repetir-se, com o corredor escuro, o quadrado branco da porta e, no patamar de tijolos gastos da escada que descia para o quintal, a moça, a mudar de modinha ou não mais cantando, porém sempre alegre, completa em seu riso, permanentemente ressonhada a degolar a galinha".*
Ao lermos o “Espelho do Príncipe”, onde o memorialista e o historiador se encontram, somos levados à recordação de um jovem de Sobral, no Ceará, até à ida para o Rio de Janeiro, que relembra episódios onde a natureza, as tradições e a sociedade que evolui se encontram, como no célebre episódio do ritual da morte de uma galinha, onde percebemos que o lado melancólico apela à magia da existência: “a visão da moça a matar a galinha frequentou a sua infância. Ele acordava cedinho e, encolhido na rede, assistia à cena a repetir-se, com o corredor escuro, o quadrado branco da porta e, no patamar de tijolos gastos da escada que descia para o quintal, a moça, a mudar de modinha ou não mais cantando, porém sempre alegre, completa em seu riso, permanentemente ressonhada a degolar a galinha".*
Em relação ao autor refere que é dos mais completos escritores da língua portuguesa contemporânea e, simultaneamente, um dos intelectuais que melhor compreendeu o entrançado complexo da lembrança e de uma língua de várias culturas, cultura de várias línguas, na Europa, América e África. Palavras de Oliveira Martins que também nos mostra aspectos interessantes do percurso pessoal e literário de Alberto da Costa e Silva. Se quiser ler o artigo completo clique aqui.
alguns dias a infância desterrada
em outro ser (e o ar que as mãos agarram
se vai movendo em nós, respiro fraco
com que me gasto, calmo, rês, mudado
no tempo em que me faço e me desfaço,
humilde, cego, em lágrimas sangrado,
passagem de luar, bicho deserto)
que sente, alguma vez, a despenhar-se
o espaço nas coisas, grande, alado,
ou sobre mim, em mim, no ser atado
à vida, à terra, a este adeus cortado
e vê o mundo a reerguer-se, aberto,
no refino da espera e de um abraço.
Alberto da Costa e Silva
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em outro ser (e o ar que as mãos agarram
se vai movendo em nós, respiro fraco
com que me gasto, calmo, rês, mudado
no tempo em que me faço e me desfaço,
humilde, cego, em lágrimas sangrado,
passagem de luar, bicho deserto)
que sente, alguma vez, a despenhar-se
o espaço nas coisas, grande, alado,
ou sobre mim, em mim, no ser atado
à vida, à terra, a este adeus cortado
e vê o mundo a reerguer-se, aberto,
no refino da espera e de um abraço.
Alberto da Costa e Silva
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Veja também estes posts:
Respiro e vejo
Alberto da Costa e Silva - O vício de África
O menino Alberto da Costa e Silva: o tecelão do parque
Respiro e vejo
Alberto da Costa e Silva - O vício de África
O menino Alberto da Costa e Silva: o tecelão do parque
*Citação de Mia Couto, inserido no texto em referência.
Informações preciosas. Não conheço nada d'esse autor!
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Felicidades
Manuel
Gostava de o ler, mas tenho muitos que gostaria de ler e que aguardam...A m/reforma
ResponderEliminarnão dá para me esticar...tenho que fazer escolhas e na medicação são quase 100
euros por mês.
Desejo que a amiga esteja bem.
Bj.
Irene Alves
Assisti, há longos anos, a um colóquio sobre a mitologia indígena brasileira, em que ele participava. Gostei, particularmente, de uma lenda que ele (maravilhosamente) contou, Mas confesso que nunca li os seus escritos. O que não é difícil reconhecer que é um erro.
ResponderEliminarTempos felizes, amiga.
jorge