1
A ponta da asa
toca de leve na água:
Para sempre as ondas.
2
Na maré enchente
Um tronco hesitante
Rio? Talvez mar?
3
Tarde de Inverno:
ainda voam as gaivotas
e os guarda-chuvas.
4
Clarão de Lua
sobre a vaga encrespada:
Espuma de prata.
5
tempo de calma:
só um delgado círculo
entre céu e mar.
6
Em Janeiro, a fúria
do mar vem do ciume
das magnólias.
7
Na luz do farol
uma gaivota cintila.
Ou será um anjo?
8
Passos de gaivota
na areia encharcada.
Carta para quem?
9
...aprender a ler
a caligrafia das algas
na maré vazia...
10
O caranguejo
só conhece a sombra
dos barcos que voam.
11
No fundo do mar,
passam devagar as sombras
das aves, dos barcos...
12
Lavarei os olhos
para lá do horizonte.
O mar. A noite.
Luís Ruivo Domingos
in:
DE FRENTE PARA O MAR, pgs. 124 a 135, Colectânea integrada por dez poetas portugueses e organizada por David Rodrigues.
Sobre o autor, lê-se na pg. 136:
Luís Ruivo Domingos, 57, professor de Matemática e aprendiz de marinheiro. De um e outro ofício a necessidade de concisão, rigor, silêncio. Nas letras, traduções várias publicadas e poemas nas gavetas. Como mestres, Borges, Andrade e Sena, senhores da música e da palavra exacta.
Guiando-me pelo prefácio de David Rodrigues, dele inscrevo aqui mais esta informação: Citaria as palavras de Gonçalo M. Tavares no prefácio do livro "Estações Sentidas: 111 Haiku" descreveu a arte do haiku da seguinte forma:"Iluminar, concentrar, tornar mais forte cada palavra; exigir atenção, impor outro ritmo ao leitor; obrigá-lo a desviar os olhos das direcções comuns. Em suma dar a conhecer o prazer corporal da desaceleração, da lentidão lúcida, eis a arte do Haiku..."
NOTA: No citado livro os poemas não vêm numerados. Cada poema ocupa uma página.
Imagem retirada daqui
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