terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Nova Poesia




(Ao Amílcar Cabral)

Um dia, misteriosamente,
  A Poesia perdeu-se.
  E muita gente
  Andou por montes e vales
  Buscando-a raivosamente.

  Encostas inacessíveis
  Foram galgadas em vão.
  Gritos e mãos para os céus,
  Lágrimas, sangue e suor...
  E a própria vida
  Foi também oferecida...
  Mas a poesia estava
  Irremediavelmente perdida.

  Os homens gritaram raivas:
  -Não sabiam que fazer...

  Mas, de cada peito contrito
  De cada lágrima ou grito,
  De cada gesto de dor,
  De todo o sangue ou suor
  Discretamente nascia 
  Uma nova Poesia.

Aguinaldo Fonseca
  (1922-2014)

(Linha do Horizonte, 1951)

in: No Reino de Caliban, pgs 165/166


  
Imagem: Gakonga e Augusta Asberry

4 comentários:

  1. Começamos bem a volta das férias, encontramos poemas que nos deixa a matutar mesmo, e, com isso vemos que tem muito fundamento na configuração das frases.
    Valeu.
    Abraço

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  2. Dizia Aguinaldo Fonseca que para ele a poesia era vida e era com toda a certeza; porém começou a entender que só para ele essa vida cantada em poesia interessava e assim deixou de publicar, mas não largou a sua vida a sua poesia. Só ele parecia entender as dores...as amarguras...as alegrias dele e dos outros; os dramas...as lágrimas...o sangue e o suor pareciam afastar a possibilidade de se ver um único verso em toda aquela tristeza. Ás vezes é assim, Olinda,perante tanta desgraça que se vê por aí, como podemos nós achar que a vida é poesia ? É difícil, mas este senhor não desistiu e a cada passo que dava, de cada drama que via, pegava numa folha de papel e " discretamente uma nova poesia nascia"
    É isso que temos de fazer...deixar o pessimismo e tentar pelo menos um simples verso.
    Obrigada por nos trazeres estes magníficos poemas de um Grande Senhor que caíu no esquecimento. Não conhecia nada dele, mas graças ao Xaile de Seda já tenho uma ideia da sua obra. Como sempre saio daqui mais rica. Beijinhos, Olinda e boa noite.
    Emília

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  3. E é assim que ela aparece instantaneamente, inesperadamente!!

    Beijos Olinda!!

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  4. Duas personagens brilhantes, duas forças que são e serão importantes para Cabo Verde, seja nas letras, seja na libertação do país, a busca pela liberdade em duas vertentes.

    Beijos, Olinda!

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