Sobre a cidade espantada de luar
Boia o cansaço dos homens sem futuro.
Da rua estreita
Onde as casas são escuras como túneis
Sobe uma voz marítima, familiar
Cantando uma canção de condenados.
O mar fica a dois passos.
Na areia cintilante
Palpita o coração dos pescadores.
Aquela moça franzina
Que se entregou ao mundo num ano de grande fome
Vai mansamente debruçar-se à beira-mar
Olhando as águas, olhando os mastros, olhando o céu...
A lua cresce
É cada vez maior...
A voz quente e marítima
Flutua
Insistente e rouca de álcool.
E o som
Dolente
Dum cansado violão
Tomba
Na noite longa
Dolorosamente.
Aguinaldo Fonseca
(1922-2014)
Do meu "No Reino de Caliban I", ed.1975, página 161, retirei este poema de Aguinaldo Brito Fonseca, poeta cabo-verdiano, falecido ante-ontem. E é donde também retiro alguns elementos bibliográgicos:
O seu nome despertou certa atenção quando, ainda sem livro publicado, lhe foi atribuído o prémio de poesia num concurso do Diário Popular. Está representado em: Antologia da poesia negra de expressão portuguesa, Paris, 1958; Estrada Larga, selecção de textos e poesia do suplemento "Cultura e Arte" de o Comercio do Porto, Porto, s/d (1962); amostra de poesia in Estudos Ultramarinos, nº 3, Lisboa, 1959; Modernos poetas cabo-verdianos, Praia, 1961; Poetas e contistas africanos, São Paulo, 1963; Modern Poetry From Africa, Penguim African Library, 3/6, 1963, 1963; Antologia da terra portuguesa - Cabo Verde, Guiné, São Tomé e Príncipe, Macau e Timor, Lisboa, s/d (1963?); Literatura africana de expressão portuguesa, vol. 1,poesia, Argel, 1967; La poésie africaine d'expression portugaise, Paris, 1969; Poesia africana di revolta, Bari, Itália, 1969.
Publicou: Linha do horizonte, Casa dos estudantes do Império, Lisboa, 1951.
***
Tenho um motivo para fazer esta lista. É para que conste. Ele tem sido referido, juntamente com a notícia do seu falecimento, como 'o poeta esquecido'.
Assim, nos próximos dias trarei mais alguns poemas da sua autoria, os quais transcreverei a partir da obra acima citada.
Convido-vos a acompanharem-me nesta leitura.
Ver notícia
Abraço
Olinda
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Tenho um motivo para fazer esta lista. É para que conste. Ele tem sido referido, juntamente com a notícia do seu falecimento, como 'o poeta esquecido'.
Assim, nos próximos dias trarei mais alguns poemas da sua autoria, os quais transcreverei a partir da obra acima citada.
Convido-vos a acompanharem-me nesta leitura.
Ver notícia
Abraço
Olinda
Um poema muito visual, denso e doloroso.
ResponderEliminarBeijinhos, Olinda, bom domingo!
Estupendo poema, realmente.
ResponderEliminarObrigada, pois eu nem sequer o nome do poeta conheci senão na hora da sua morte.
Que esteja em paz!
Bom resto de domimgo
Boa partilha
ResponderEliminarOi Olinda!! Vou amar ler os poemas do Aguinaldo!! Esse que partilhaste é bem bonito!! Ele,com toda a certeza,foi um excelente poeta,acredita que sim!! Desejo-te uma semana super perfeita,muitos beijinhos,fica com deus e até breve!! http://musiquinhasdajoaninha.blogspot.pt
ResponderEliminarEnquanto lia o poema, transportei-me para Cabo Verde, caminhei outra vez por suas ruas, encantando-me com tudo que revia. Que imenso sentimento redivivo, grata por esse momento!
ResponderEliminarBeijo!