O BAIRRO DA MINHA INFÂNCIA
Não são as criaturas que morrem.
É o inverso:
só morrem as coisas.
As criaturas não morrem
porque a si mesmas se fazem.
E quem de si nasce
à eternidade se condena.
Uma poeira de túmulo
me sufoca o passado
sempre que visito o meu velho bairro.
A casa morreu
no lugar onde nasci:
a minha infância
não tem mais onde dormir.
Mas eis que,
de um qualquer pátio,
me chegam silvestres risos
de meninos brincando.
Riem e soletram
as mesmas folias
com que já fui soberano
de castelos e quimeras.
Volto a tocar a parede fria
e sinto em mim o pulso
de quem para sempre vive.
A morte
é o impossível abraço da água.
MIA COUTO
[in Tradutor de Chuvas, Caminho, 2011]
Minha querida
ResponderEliminarAgradecendo a visita e deixando um beijinho carinhoso.
P poema é lindo, adorei ler-te, vou voltar mais vezes.
Sonhadora
Olá, Sonhadora
ResponderEliminarMia Couto é realmente uma referência na língua portuguesa.Obrigada pelas palavras carinhosas.
Um beijo
Olinda
Gosto muito da escrita de Mia Couto, dos seus neologismos, da sua sensibilidade poética, da doçura dos seus textos, da profundidade com que os sentimentos das pessoas, as suas emoções, as suas vivência, são analisadas.
ResponderEliminarUm beijo.
Ah, Mia Couto, bem o diz Isabel, o criador de novas palavras captando toda a musicalidade do meio ambiente em que as suas personagens se movimentam.E também aquele que já lançou o conceito da mestiçagem cultural,veículo de integração dos escritores lusófonos e das suas várias culturas.
ResponderEliminarBeijos.
Olinda