Entre dois instantes, os olhos trouxeram cenas de um passado sem calendário, mas presente quando folheado mesmo sem intenção. As páginas corriam velozes alternando os tempos, os dias vividos, as situações definidas nos rostos familiares, ora risonhos, ora chorosos...
Tudo ia se metamorfoseando nos gestos que lhe deram origem. Gestos simples, corriqueiros aos afazeres da casa. Roupas dependuradas e esquecidas, talvez pela necessidade sazonal, talvez por puro esquecimento de uso, ali permaneciam, mudas testemunhas de outros dias quando foram protagonistas de palcos iluminados por promessas e sorrisos.
As lembranças dançavam ante os olhos presos em suas teias, revelando minúcias do traje, do penteado, da maquiagem, dos adornos. Até o som oco dos saltos usados se fazia ouvir nitidamente. E, lá ia ela, naquele dia, para aquela festa. Ia pelos braços dele, par e passo, mão e pele, almas gêmeas.
A música tomava conta do salão. Outros pares já rodopiavam graciosamente...naquela noite, naquele tempo que agora se fazia presente apenas no toque da fina organza do vestido usado, ali defronte aos seus olhos que teimavam em permanecer no passado.
De algum lugar veio a canção, entrando sem pedir licença, soltava seus versos tocantes e a prendia naquele instante:
"... se na desordem do armário embutido,
Meu paletó enlaça o teu vestido
E meu sapato inda pisa no teu"
Carmen Luísa Barros
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Lembranças de um passado enlaçado
no presente sem tempo nem hora,
páginas de uma vida.
E...
Chico Buarque/Tom Jobim
EU TE AMO
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Se nós nas travessuras das noites eternasJá confundimos tanto as nossas pernasDiz com que pernas eu devo seguir
O Blog da Autora:
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Música indicada por Calu
Imagem: dança flamenga
De Mark Spain (pintor figurativo)
Bom dia de paz, querida amiga Olinda!
ResponderEliminarHoje o dia é de beleza genuína, mais um dentre tantos outros, com o diferencial característico da nossa querida amiga Carminha, como cada um tem, ela não poderia deixar de ter.
A imagem ilustrativa imprimiu um toque romântico encantador.
Chico no Eu te Amo tão poético em sua letra. O vestido e o sapato juntinhos... que figuras de cumplicidade tão bela. Um carinho notório...
"Ia pelos braços dele, par e passo, mão e pele, almas gêmeas".
Um amor de almas afins, de identificação o dia de hoje exprime.
Muitas vezes, olhos e coração insistem em permanecer no passado porque foi muito bom, porque valeu a pena.
Saio encantada e sinto a doçura que é dançar juntinho no dois para lá e para cá que muito me fez feliz...
Muito lindo momento tive aqui, uma vez mais. Obrigada às duas amigas.
Tenha dias abençoados!
Beijinhos com carinho de gratidão e estima
Querida Rosélia
EliminarBelo texto da nossa querida Carmen, Calu, com o seu toque especial. É verdade, todos temos o nosso jeito característico de escrever. Aqui vemos esse toque que só podia pertencer à Calu.
A juntar ao desenrolar da narrativa poética, temos Chico Buarque e Tom Jobim, indicação da nossa amiga, pois no final do texto aparece uma citação que diz respeito à canção.
Recordações que todos temos, uns duma maneira outros doutra, alegres ou tristes afectando-nos positiva ou negativamente. Aqui a saudade vem juntamente e fica no ar o que virá depois ou ... quem sabe, se tudo não ficará na mesma.
Muito obrigada, amiga.
Boa sexta-feira.
Beijinhos
Olinda
"... lá ia ela, naquele dia, para aquela festa. Ia pelos braços dele, par e passo, mão e pele, almas gêmeas"
ResponderEliminarÉ lindíssimo este texto de Carmen Luíza Barros, partilhado pela Calu (que já espreitei lá no seu cantinho).
Encantada e emocionada, a sua leitura levou-me até aos bailaricos da juventude. E que bom foi voltar atrás no tempo, àquele tempo sem tempo em que tudo é vivido e sentido intensamente.
A escolha musical... querida Olinda espero que oiças o meu ruidoso aplauso: Chico e Jobim, que luxo, que festão!
Beijos, boa quinta-feira.
Olá, querida Teresa
EliminarUma passagem intimista esta que citaste e que mostra o poder destas recordações e a escrita da Carmen (Calu).
Voltar no tempo, recordar coisas boas que talvez não voltem mais...tudo vivido intensamente.
Realmente, esta canção traz-nos estes dois grandes da música brasileira que muitas alegrias nos têm dado com as suas composições.
Muito obrigada, amiga, pelo comentário.
Beijinhos
Olinda
Quanta beleza e sensibilidade juntas nessa poesia da querida Calu!
ResponderEliminarAdorei!
beijos praianos às duas, chica
Querida Chica
EliminarA Calu sabe como nos envolver nas suas narrativas poéticas. Escreve com coração e talento.
Boas férias.
Beijinhos
Olinda
Mais um blog que nunca me lembro de ter visitado. E mais uma bela participação. Recordações de um passado feliz que muitas vezes perpassam a nossa memória. Gostei imenso.
ResponderEliminarExcelente a escolha do Chico Buarque.
Obrigado às duas.
Abraço e saúde
Cara Elvira
EliminarUma participação feliz com todos as passagens que nos falam de um amor consolidado mas que talvez tenha chegado ao fim. Ficamos na dúvida :)
Muito obrigada pela presença e comentário.
Abraço
Olinda
Mais uma manifestação de amor, desta vez recordando tempos idos onde com certeza esse grande amor foi descoberto. É bom ir ao passado, é necessário e faz-nos bem; somos o ele fez de nós e recordar tem de fazer parte do nosso presente. Adorei o texto e gostei muito de ouvir Chico Buarque também ele cantando o amor. Não conheço o blogue Fractais de Calu, mas irei conhecer daqui a pouco. Entretanto deixo-lhe o meu beijinho de agradecimento pelo belo texto. Para ti, Querida Olinda, um forte abraço carregadinho de amizade.
ResponderEliminarEmilia
Querida Emília
EliminarDe nada nos vale resolvermos não recordar, não é verdade? Há um momento ou outro em que as recordações acabam por exigir o seu espaço. Somos realmente a soma das nossas ilusões e desilusões. O equilíbrio dependerá da nossa capacidade de conseguir superar as últimas.
Muito obrigada, amiga. Bom final de sexta-feira.
Beijinhos
Olinda
Um texto delicioso, gostei de ler.
ResponderEliminarNão conheço o blogue da Carmen, mas vou lá espreitar.
Continuação de boa semana, amiga Olinda.
Um beijo.
Vá lá, sim. Começou o Mês de Poesia da Rosélia, com a tónica no bucolismo e a Carmen já fez a sua primeira publicação.
EliminarBoa sexta - feira.
Um beijo.
Olinda
Um excelente texto de Amor, muito bem escrito, deixando entreaberta a porta para a imaginação, o que, nem toda a gente que escreve, sabe fazer.
ResponderEliminarMuito bom!!!
Gosto muito de Chico Buarque, e esta canção é lindíssima.
Abraço apertadinho, querida Olinda.
Continuação de boa semana.
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS
É isso, Mariazita. A autora não fecha a porta. É um texto aberto em que tudo pode vir a acontecer. E assim temos a liberdade de, com a nossa imaginação, preencher os espaços em branco. Ou não. Poderemos optar por deixar a protagonista entregue às suas divagações...
EliminarMuito obrigada, amiga.
Bom fim de semana.
Beijinhos.
Olinda
Olá? Texto lindo ,mesmo evocando a nostalgia de um passado romântico. Lindo de se ler e imaginar. A música de Chico Buarque veio completar e embelezar o momento
ResponderEliminarAbraços.
Olá, Edite
EliminarUm passado que traz muitas recordações e também saudades.
Chico Buarque e Tom Jobim uma dupla perfeita.
Abraço
Olinda
O passado não passa, quando a memória se nega a passar.
ResponderEliminarUm abraço. Tudo de bom.
APON NA ARTE DA VIDA 💗 Textos para sentir e pensar & Nossos Vídeos no Youtube.
Olá, Antônio Apon
EliminarDizem que o passado acaba sempre por voltar. Quando o julgávamos bem enterrado...
Abraço
Olinda
Que texto interessante!
ResponderEliminarUm abraço
Um texto que lembra momentos do passado. Com saudade.
EliminarUm abraço
Olinda
Talento, inspiração, criatividade poética que muito gostei de ler.
ResponderEliminarAdorei a musica do vídeo
.
Saudações poéticas
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Poema: “” Ondas partem como amantes desunidos … ””…
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Olá, Ricardo
EliminarTudo isso e a generosidade da autora em querer abrilhantar esta nossa "quinzena" com as suas belas palavras.
Abraço
Olinda
Caríssima, Olinda, estou altamente emocionada ante teu apuro cuidadoso na postagem de minha participação. Está tocante, ressoante aos sentidos e ao coração sentimental. Muitíssimo obrigada por esta manifestação de apreço.
ResponderEliminarObrigadíssima, também, a todos(as) os comentaristas gentis aqui demarcados em suas palavras amáveis e incentivadoras.
Agradeço de coração festivo.
Bjsss entusiasmados, Olinda.
Carmen( Calu)
Olá, Calu
EliminarGosto muito da sua escrita, que no seu encadeamento, passado e presente se misturam, quase. O seu belo texto, tão bem construído e terminando com uma citação da maravilhosa canção do Chico Buarque e Tom Jobim, deu-nos a prova do que é bem escrever e sentir.
A sugestão musical veio ao encontro da vontade que tinha de trazer o Chico para ilustrar uma das publicações. E aconteceu.
O recordar do passado, a saudade dos momentos vividos, com detalhes de todos os adereços, uma situação em que alguns de nós nos revemos, ficou bem patente nos nossos corações.
Muito obrigada, querida Carmen.
Desejo-lhe tudo de bom.
Beijinhos
Olinda
Gostei muito desta partilha. Obrigada!!
ResponderEliminar.
São estilhaços da vida que me fazem viver
.
Beijo, boa tarde!
Cara Cidália
EliminarAinda bem que gostou. Fico contente.
Tenha um bom resto de Sexta-feira.
Beijo
Olinda
Boa tarde Calu e Olinda,
ResponderEliminarUm texto muito belo e comovente em que se percebe um amor passado repleto de cumplicidades e cujas memórias se encontram bem vivas.
Um texto tão ao jeito da querida Calu!
Belíssima a canção escolhida!
Beijinhos fraternos para ambas,
Ailime
Cara Ailime
EliminarSim, penso que a cumplicidade está muito bem empregue nesse amor
que ao fim e ao cabo resistiu ao tempo, pelo menos num dos lados.
Muito obrigada, pelo belo comentário.
Bom fim de semana.
Beijinhos
Olinda
Há lembranças que perduram eternamente no nosso coração.
ResponderEliminarLindíssimo texto e uma excelente escolha musical.
Beijinhos
E quando menos se espera lá voltam.
EliminarA Carmen enviou-nos um texto escrito com muito esmero.
Beijinhos
Olinda
Memórias arraigadas que não deixam o passado passar e movido pelas memórias passadas vê a vida passar sem viver
ResponderEliminarLindo conto da amiga Calu
Beijinhos para ambas
Querida Gracita
EliminarA amiga Calu está nesta semana em três frentes. Aqui na "Quinzena do Amor", no seu "Café com Prosa" e no mês de Poesia da Rosélia. Em todas se verifica que a sua escrita é fluida e dinâmica.
Neste presente texto, momentos vividos no passado revisitam a protagonista e a autora encontra uma saída airosa ao citar um trecho da canção...
Beijinhos
Olinda
Um lindo conto revestido de amor e ternura de tempos vividos e presente revivido por objetos falam por si ao coração saudoso. Excelente escolha do fragmento da música. Parabéns
ResponderEliminarOlá, Norma
EliminarObjectos que avivam ainda mais as recordações dos momentos passados juntos.
Muito obrigada, amiga, pela sua presença.
Um bom fim de semana lhe desejo.
Beijinhos
Olinda
Texto e melodia em íntima conjugação. E cada um me toca com intensidade.
ResponderEliminarBeijos, Calu e Olinda.
Querida Teresa
ResponderEliminarMomentos deliciosos nesta "Quinzena do Amor" :)
Bom domingo, minha amiga.
Beijinhos
Olinda
A Calu tem sempre uma forma tão especial de se expressar... em matéria de emoções! Gosto imenso dos seus trabalhos, seja em prosa ou poesia!
ResponderEliminarMais uma belíssima partilha, com os demais elementos muitos bem escolhidos, a complementar o texto!
Beijinhos para ambas!
Ana