sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Amor

A jovem deusa passa
Com véus discretos sobre a virgindade;
Olha e não olha, como a mocidade;
E um jovem deus pressente aquela graça.

Depois, a vide do desejo enlaça
Numa só volta a dupla divindade;
E os jovens deuses abrem-se à verdade,
Sedentos de beber na mesma taça.

É um vinho amargo que lhes cresta a boca;
Um condão vago que os desperta e toca
De humana e dolorosa consciência.

E abraçam-se de novo, já sem asas.
Homens apenas. Vivos como brasas,
A queimar o que resta da inocência.


Miguel Torga

in 'Libertação'

Carta de amor não é, mas um belo poema que poderia tornar-se numa, também bela, história de amor.


Adolfo Correia da Rocha, conhecido pelo pseudónimo Miguel Torga (São Martinho de Anta, 12 de agosto de 1907 — Coimbra, 17 de janeiro de 1995), foi um dos mais influentes poetas e escritores portugueses do século XX.

Torga destacou-se como poeta, contista e memorialista, mas escreveu também romances, peças de teatro e ensaios. Foi laureado com o Prémio Camões de 1989, o mais importante da língua portuguesa. 
Aqui


                                                 ANDRÉ RIEU



 O homem que desmistifica a música clássica, transformando-a numa grande história de amor através da sua interpretação. 

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Poema - Citador
Video - youtube
André Rieu - Entrevista

9 comentários:

  1. Pois, cada qual o melhor!
    O imenso Torga com um soneto de cortar a respiração e a Alma de André Rieu...
    que bailado, Olinda! Lindo!
    Beijinhos

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  2. Miguel Torga. Sempre a invocar deuses mais humanos. Deuses que desejassem os desejos dos homens…. Sou fã.
    André Rieu, magnífico. Na passagem do ano assisti a um concerto dele na TV e encheu-me a alma.
    Um bom fim de semana.
    Um beijo.

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  3. Torga prova, a cada verso, sua sensível têmpera poética. Seus argumentos são de um reino maravilhoso: interior e exterior. Atemporal.
    E este Xaile de Seda só poderia acolhê-lho num tema em que as estrelas nos são alento.

    Beijo, minha amiga Olinda Melo.

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  4. perdem a inocência, mas ganham em brasa!
    os deuses (quando existiam)!

    excelente Torga!

    o Andre Rieu vem muito a propósito:
    com ele a Música perde a "virgindade", ou talvez melhor, a "pureza"

    abraço

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  5. Delícias!... Delícias de Poesia de Amor e de Amor feito música. Ambos (Torga e Rieu) "Divinos" nas suas interpretações.



    Beijo
    SOL

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  6. Um post perfeito, um soneto maravilhoso e uma música de encantar o coração.
    Bom fim de semana
    Beijinhos
    Maria
    Divagar Sobre Tudo um Pouco

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  7. Na simplicidade
    o amor é revolucionário
    Bj

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  8. Que belezas o poema de Torga, um dos meus poetas preferidos, e a música de André Rieu, que descobri há pouco, e que me encantou.
    A temática destes posts - as cartas de amor e, por extensão, o amor - dá pano para mangas. Espero que continue mais algum tempo a explorá-la.
    Bjo e bom domingo!

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  9. É simplesmente soberbo este soneto de Torga!
    Não lhe conhecia tanta sensualidade numa composição poética.
    André Rieu, outra excelência...
    Amanhã, sou eu a iniciar a minha habitual semana do Amor.
    Uma semana muito agradável.
    Beijinhos, Olinda.
    ~~~~~

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