Os homens regressam
Carregados de cidades e distância.
Adormecem os grilos.
Uma criança escuta a concavidade de um búzio.
Talvez seja o momento de outra viagem
Na proa, decerto, a decisão da viragem.
Aqui se engendram alquimias
Lentos hinos bordados em lacerações
Sossegaram os mortos
Há grutas e pássaros de fogo
Rebentos de incômodos recados.
O difícil ofício de lavrar a paciência.
Acontece a arte da viagem
Tanta aprendizagem de leme e remendo...
É quando o olho imita o exemplo da ilha
E todos os mares explodem na varanda. [PA, 106-107].
Através desse poema – como, aliás, em muitos outros “lugares de memória” evocados por sua palavra poética – Conceição Lima realiza, num projeto elaborado desde sua obra inaugural, a contranarrativa da viagem, mítica e histórica, dos colonizadores, e nos oferece outra viagem que é sua (mas também de seu país e de seu continente), feita de memória e de desejo.
Pg 7
O título do livro homenageia o músico, filósofo e poeta pan-africanista gabonês Pierre-Claver Akendenguê. Ao prestar sua homenagem a esta figura lendária da música africana, a autora se dedica a saudar muitos outros nomes do universo da língua portuguesa, fazendo do próprio exercício poético uma viagem ao interior do projeto utópico sintetizado nos princípios do panafricanismo, que o mesmo Akendenguê representa.
Pg 6
in: A POÉTICA DE CONCEIÇÃO LIMA E SUA VIAGEM ENTRE MUNDOS,
Simone Pereira Schmidt ( ContraCorrente: revista de estudos literários e da cultura)
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Maria da Conceição de Deus Lima, (1961), mais conhecida por Conceição Lima, é uma poeta são-tomense natural de Santana da ilha de São Tomé, São Tomé e Príncipe.
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Imagem: daqui
Uma poetisa que não conhecia. Obrigada pela partilha.
ResponderEliminarAbraço e bom fim de semana
A minha ignorância é patente: não conhecia Conceição Lima nem nada da sua Obra. Terei de me tornar mais atento.
ResponderEliminarO Poema é belo e expressivo. "(...)O difícil ofício de lavrar a paciência.(...) é digno de registo especial.
Obrigado, Olinda por me encaminhares por aqui.
Beijo
SOL
De S. Tomé a melodia desliza suave e entranhada e o desejo é uma varanda onde explodem todos os mares". Mares de partidas e regressos.
ResponderEliminarFico com o olhar vibrante da poetisa Conceição Lima e a vontade exacerbada de desvendar a exuberância da ilha.
Beijos, querida Olinda Melo.
Gostei de ler o poema, da forma como retrata a simplicidade e a história. Boa semana :)
ResponderEliminarAo começar a ler o poema "Os homens regressam carregados de cidades e distância", fiquei logo presa ao poema des poeta de São Tomé que eu desconheço. Vou procurar… Obrigada, Olinda por ma dar a conhecer.
ResponderEliminarUma boa semana.
Um beijo.
Não conhecia, mas recordo ainda os perímetros da ilha recortados na tarde. Uma escrita muito interessante!
ResponderEliminarAbraço.
jorge
É a tal história que a viagem alarga os horizontes! Sim viajar areja, ensina, educa, adestra, e dá muito prazer! E quando regressam, muitas vezes acham que "o melhor da romaria, é a volta para casa!" É esse imponderável gosto humano! Tudo é efêmero... tudo é líquido! Nem mais a leitura tem consistência para eles que abreviam tudo como os dois polegares. Grande abraço. Laerte.
ResponderEliminargostei muito do poema
ResponderEliminarmais um Poeta que te fico a dever, amiga Olinda
abraço
O que eu aprendi aqui...
ResponderEliminarNão conhecia Conceição Lima, nem Pierre-Claver Akendenguê.
Obrigada Olinda, por partilhares tanta e tão boa informação.
(Conheço São Tomé e Príncipe. Duas ilhas belíssimas com um povo afável, simpático, hospitaleiro, de sorriso fácil.)