MORANGOS
No começo do amor, quando as cidades
nos eram desconhecidas, de que nos serviria
a certeza da morte se podíamos correr
de ponta a ponta a veia eléctrica da noite
e acabar na praia a comer morangos
ao amanhecer? Diziam-nos que tínham
nos eram desconhecidas, de que nos serviria
a certeza da morte se podíamos correr
de ponta a ponta a veia eléctrica da noite
e acabar na praia a comer morangos
ao amanhecer? Diziam-nos que tínham
a vida inteira pela frente. Mas, amigos,
como pudemos pensar que seria assim
para sempre? Ou que a música e o desejo
nos conduziriam de estação em estação
até ao pleno futuro que julgávamos
merecer? Afinal, o futuro era isto.
Não estamos mais sábios, não temos
melhores razões. Na viagem necessária
para o escuro, o amor é um passageiro
ocasional e difícil. E a partir de certa altura
todas as cidades se parecem.
in 'Longe da Aldeia'
Escritor português, Rui Pires Cabral nasceu a 1 de Outubro de 1967 em Chacim, uma pequena aldeia do concelho transmontano de Macedo de Cavaleiros. Cedo abandonou a terra natal para ir estudar num colégio interno em Macedo. Uma parte importante da sua infância foi constituída pelas visitas de veraneio, em férias do internato, a Chacim e a Alvites, um outra aldeia, em Mirandela, onde o seu pai nascera. O contacto que aí foi mantendo com a natureza veio determinar em absoluto o carácter da sua obra. LER MAIS AQUI
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Poema: Citador
Imagem:daqui
A poesia corre nas veias da noite. E que felicidade aporta! A simplicidade do título deixa adivinhar o tom vigoroso do olhar. E este toque de natural desencanto não permite que se esqueça o sabor dos morangos ao raiar da alva.
ResponderEliminarBeijos, querida Olinda.
Estimada Amiga.
ResponderEliminarBastante melancólico e descrente, ainda assim o poema tem
ainda a beleza e o brilho iniciático...
Todos temos fases menos boas, mas a verdade é que ninguém
gostaria de voltar a ser novo, se perdesse o que aprendeu
numa vida.
Gostei de conhecer o autor, grata por compartir.
Beijinhos
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Compreende-se o desencanto, amiga Olinda - os morangos perderam o sabor dos "Morangos Silvestres" ...
ResponderEliminare talvez nem sequer haja Futuro e seja apenas um Infinito-Presente que é necessário construir todos os dias!
fico feliz por ler neste espaço o talentoso Poeta Rui Pires Cabral, que se destaca entre os maiores de uma nova geração de poetas portugueses
abraço e votos de bom fim de semana
Um poeta de que nunca tinha ouvido falar.
ResponderEliminarObrigado pela partilha.
Abraço e bom fim-de-semana
Bom dia, amiga Olinda!
ResponderEliminarObrigada por me dares a ler versos lindos de um jovem poeta transmontano, que eu desconhecia.
"Não estamos mais sábios, não temos
melhores razões."
Pura verdade, neste tempo de desencanto.
Beijo e bom domingo.
Que bonito, não conhecia, gostei de conhecer o autor. Um abraço.
ResponderEliminarMuito interessante a reflexão deste poema, querida Olinda!
ResponderEliminarBeijinhos, boa semana!
Rui Pires Cabral é um excelente poeta. Foi tão bom encontrar aqui um poema dele. Um pouco desencantado, é certo, mas teremos razões para ser diferente?
ResponderEliminarUma boa semana, minha Amiga Olinda.
Um beijo.
Boa Tarde, querida amiga Olinda!
ResponderEliminarTodo sabor que se perde é possível de se reencontrar mais a frente... ultrapassando fases menos boas a consolação virá.
Uma imagem muito significativa para ilustrar convenientemente o poema postado.
Deus a abençoe muito!
Bjm fraterno e carinhoso de paz e bem
Excelente descrição Poética. Como morangos deliciosos e rubros também nos aparece um ou outro menos doce.
ResponderEliminarObrigado por mostrares Rui Pires Cabral.
Beijo
SOL
Adoro morangos e adorei o poema.
ResponderEliminarObrigado por este linda partilha, desconhecia o poeta.
Bom fim de semana
Beijinhos
Maria
Divagar Sobre Tudo um Pouco
Olá, estimada Olinda!
ResponderEliminarJá li este poema "n" vezes e só agora descobri que o verbo poder, naquele verso e com aquele sentido, se encontra no Pretérito Perfeito do Modo Indicativo.
Não sei nada deste escritor, sei apenas k é familiar de um outro com o mesmo apelido e k é transmontano, e como quase todos os transmontanos, e eu conheço muitos, ou esteve no seminário ou num colégio interno, e depois não sei a razão, vêm para Coimbra (querem seguir o percurso e atitudes de Miguel Torga -rs), mas o lema deles que é "Mais vale quebrar, que torcer" manter-se-á até à morte.
Peço desculpa pelo meu reparo anterior, completamente errado.
Beijos e uma boa noite.
Meus amigos
ResponderEliminarÉ muito bom ter-vos aqui a expressar as vossas opiniões sobre a escrita dos poetas que vou trazendo ao nosso convívio. Alguns deles cantam o amor, outros apontam os males que enfermam a sociedade e muitos outros indicam caminhos de esperança. Num ou noutro ponto, ou em muitos, vamos assumindo essas considerações porque nos tocam de algum modo.
Penso que Rui Pires de Cabral nos coloca, através deste seu poema, perante o binómio campo/cidade;
o campo, talvez aldeia, onde as coisas são simples, onde todos se conhecem e, despreocupadamente, poderemos dar asas à nossa maneira de ser mais genuína;
a cidade, espaço cosmopolita, centro político, também cultural, com tudo o que de novo, bom e/ou mau, nos pode trazer. Na relação com estímulos vários, poderemos não alcançar, nesse meio, a sabedoria necessária para fazer boas escolhas. Por vezes, a sensação de que não avançamos na nossa evolução nos atinge.
Mas, sabemos que boas e más situações podem acontecer tanto no campo como na cidade. Tanto podemos aprender e desaprender aqui ou acolá, tudo dependendo das nossas apetências e daquilo em que acreditamos. As nossas escolhas advirão disso. O nosso crescimento é um processo contínuo.
Compreendo o desencanto do autor. Muitas vezes, uma certa descrença também me assola. Procuro então encontrar justificações para esses sinais de retrocesso.
Abraços
Olinda
'Acabar na prais a comer morangos ao amanhecer' é das mais poéticas liturgias da morte que li até hoje! Isso vale toda a fome de Poesia.
ResponderEliminarBelíssimo.
Abraço.
jorge
www.tintapermanente.pt