segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Para atravessar contigo o deserto do mundo





Para atravessar contigo o deserto do mundo 
Para enfrentarmos juntos o terror da morte 
Para ver a verdade para perder o medo 
Ao lado dos teus passos caminhei 

Por ti deixei meu reino meu segredo 
Minha rápida noite meu silêncio 
Minha pérola redonda e seu oriente 
Meu espelho minha vida minha imagem 
E abandonei os jardins do paraíso 

Cá fora à luz sem véu do dia duro 
Sem os espelhos vi que estava nua 
E ao descampado se chamava tempo 

Por isso com teus gestos me vestiste 
E aprendi a viver em pleno vento 

Sophia de Mello BreynerAndresen
           1919-2004

 Palavras de Sophia:"Fernando Pessoa dizia: «Aconteceu-me um poema». A minha maneira de escrever fundamental é muito próxima deste «acontecer». (…) Encontrei a poesia antes de saber que havia literatura. Pensava mesmo que os poemas não eram escritos por ninguém, que existiam em si mesmos, por si mesmos, que eram como que um elemento do natural, que estavam suspensos imanentes (…). É difícil descrever o fazer de um poema. Há sempre uma parte que não consigo distinguir, uma parte que se passa na zona onde eu não vejo." aqui

=====
Poema do Citador
Imagem: Internet

7 comentários:

  1. Bom dia flor. "O verdadeiro poeta, consegue visualizar o outro,
    mas sempre vai falhar ou deixar passar alguma rima quando for falar
    de sua essência, sua alma. Muitas vezes, um poeta se guarda para que,
    suas palavras não o machuquem ou o levem a felicidade extrema!" - (Rosa de Sampa) - Aos poucos vou me instalando e voltando. Bjos felizes :)

    ResponderEliminar
  2. Muito belo o poema. Como tudo o que a Sophia de de Mello Breyner Andresen escreveu. Acredito que seja difícil descrever o nascimento de um poema. Mas também o que realmente importa é o poema, não a forma como ele nasceu.
    Um abraço e uma boa semana

    ResponderEliminar
  3. Caríssima Olinda,
    Fantástica a junção que fez! Eu, que sou do tempo em que Pessoa não fazia parte do programa,nem do meu,nem dos outros depois, vou ficando cada vez mais e mais assombrada com este homem, para já não falar do seu estro poético. Uma espécie de vidência a que não é estranha a premonição da sua morte. E se a ele lhe faltam "palavras" os que se seguem escrevem para sossegar o espírito " aprendendo a viver em pleno vento". Belo poema!
    Até já
    Beijinho!

    ResponderEliminar
  4. Sophia...sempre!
    Este é um belíssimo poema de Amor que ecoa na minha própria forma de amar aquele que me acompanha há 35 anos...

    Bjs

    ResponderEliminar
  5. Passando por este lindo blog para deixar um beijinho.

    É sempre bom ler Sophia de Mello Breyner. Gosto muito.

    Isabel Gomes

    ResponderEliminar
  6. Sophia é a Sophia. Marcante poesia, marcante pessoa.
    Bjo, amiga

    ResponderEliminar