sábado, 1 de março de 2014

Contra os que negam o livre-arbítrio nas acções humanas



Vós, crédulos mortais, alucinados
De sonhos, de quimeras, de aparências,
Colheis por uso erradas consequências
Dos acontecimentos desastrados.

Se à perdição correis precipitados
Por cegas, por fogosas impaciências,
Indo a cair, gritais que são violências
De inexoráveis céus, de negros fados.

Se um celeste poder, tirano e duro,
Às vezes extorquisse as liberdades,
Que prestava, oh Razão, teu lume puro?

Não forçam corações as divindades:
Fado amigo não há, nem fado escuro;
Fados são as paixões, são as vontades.

        (1765-1805)

Poema e imagem:
Banco de Poesia Fernando Pessoa

11 comentários:

  1. Como está certo, o nosso Bocage! Culpamos " Deus e o mundo " por cada contratempo que nos aparece e não olhamos para as nossas acções que nem sempre são as mais sensatas. " por cegas, por fogosas impaciências" corremos precipitados, " alucinados de^sonhos, de quimeras. de aparências " e ainda falsas urgências, atropelando valores éticos sem o mínimo respeito pelos outros. Não há fado...não há destino, há sim vontades e nem sempre a elas atribuimos as consequências.. Muito bom, Olinda! Não conhecia e por isso muito obrigada pela partilha. Um beijinho
    Emília

    ResponderEliminar
  2. Querida Olinda
    Aqui está (mais) um poeta que "me enche as medidas"!
    Não tinha papas na língua, dizia o que pensava... e isso trouxe-lhe não poucos dissabores.
    Não há como não concordar com o Poeta - somos nós os responsáveis por nossos actos, tantas vezes impensados, e o remédio é arcar com as consequências.

    Muito obrigada pela tua presença na minha «CASA», o que é sempre, para mim, motivo de prazer.

    Bom fim de semana.
    Beijinhos

    ResponderEliminar
  3. É mais fácil culpar os céus por nossas desventuras, que assumir a responsabilidade por nossas próprias opções e atos. Um grande soneto de Bocage. Bjs.

    ResponderEliminar
  4. ✿•̃‿•̃✿

    Hello chère Olinda ❤ !!!
    Je te remercie pour ce beau poème ! J'aime beaucoup cette nouvelle publication.
    Bisous d'Asie vers le Portugal !

    ResponderEliminar
  5. Querida amiga

    As palavras
    inundadas de verdades,
    tem o dom
    de sobreviverem
    ao tempo.

    Que o amor nos vista a vida.

    ResponderEliminar
  6. Olá Olinda,
    ...e tão atual este soneto, de um Homem corrosivo e grande sonetista. Não é fácil dominar as palavras nos sonetos com tal fluência, por isso este, não morre...
    Beijinho grande, bom domingo!

    ResponderEliminar
  7. Começo por agradecer a visita pronta ao meu blog, cara amiga!
    O poeta setubalense era genial e ainda hoje se lê com prazer. Um abraço.

    .

    ResponderEliminar
  8. Excelente escolha.
    Boa semana
    Beijinhos
    Maria

    ResponderEliminar
  9. Muita razão tinha Bocage, mas o ser humano procura sempre desculpas para o que lhe corre mal!
    Beijinhos, uma semana maravilhosa para si!

    ResponderEliminar