segunda-feira, 15 de julho de 2013

Para lá do consciente...

Sentada na borda da cama avaliava a possibilidade de não tomar o comprimido. Tinham-me dito minutos antes: Tome este medicamento para ter uma noite descansadinha. Viremos acordá-la às 6h30. Pensava para comigo que preferia ter uma noite insone do que perder o controlo do meu tempo. Contudo, a situação não me permitia estar com esquisitices. Já eram 22h00 e, na realidade, permanecer em estado vígil não me beneficiaria em nada. E lá me decidi. Pareceu-me que tinham decorrido apenas uns minutos quando ouvi: São horas. Tome o seu banho, vista esta bata e ponha estas meias. Não ponha mais nada. Tome este comprimido e deite-se de novo. Depois viremos buscá-la. Fiz tudo o que me disseram, vagamente incomodada com o 'não ponha mais nada'... A partir daqui, ou talvez mais atrás, o tempo deixou de contar. Ouvi um pouco longinquamente: Vamos levá-la...Teremos percorrido um imenso corredor e descido dois pisos, provavelmente mais um corredor, mas para mim não contou, não aconteceu. Senti que descíamos uma pequena rampa (ilusão?) e entrávamos num espaço largo meio às escuras, talvez com uns pontos de luz difusos aqui e ali, com alguns obstáculos, uma espécie de parque de estacionamento aberto dos lados, num piso superior... Ali, disse eu: Isto está frio. Uma voz de mulher respondeu-me: Sim, isto é um bocado frio.Tinha a sensação de estarem ali duas presenças femininas. A seguir senti que me colocavam em cima algo quente, reconfortante. Voltei a manifestar-me: Agora está quentinho. Pareceu-me que avançavam comigo e que parávamos na parte do parque que tinha mais luz, mas sem a ver. (Estranho, penso eu agora). Uma voz, talvez a que me falara anteriormente, disse-me mansamente: Cheire isto. Cheirei... 






Pressenti a sua presença ou talvez me tenha falado baixinho. Dos confins de mim veio-me este pensamento: É a minha estrela d'alva... a minha aurora borealEsforcei-me por abrir os olhos. Tentei fixá-la e vi tudo distorcido. Tolamente, disse-lhe:

-Tens quatro olhos.

-Duuuh, mãe...

E riu. Riu, no seu riso fresco, entre aliviada e divertida.

Com isto, apercebi-me de que estava de novo no quarto, agora com uns fios que vinham não sei donde e um aparelhómetro à cabeceira.

E a contagem do meu tempo recomeçou...


Imagem: Internet

14 comentários:

  1. Felizmente , parece que tudo correu bem, rrss

    Desejo-lhe rápida e definitiva recuperação, querida Olinda. e deixo-lhe um enorme abraço

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  2. Olá Olinda,

    Comigo foi mais radical: 'Vou dar-lhe aqui uma coisinha para assistir à operação mais descontraída'. Acho que foi logo ali, nesse mesmo instante. Não me lembro de mais nada. Nada, nada, nada. Acordei no recobro, com a minha filha, o meu marido e o médico a olharem para mim. Não sentia as pernas, nem sabia onde é que elas estavam. Disseram-me que já me tinham contado o que tinha acontecido mas eu não tinha qualquer ideia disso.

    É um apagar perfeito.

    Espero que agora que já está bem acordada, esteja já tudo bem. Não digo que esteja pronta para outra porque isso não se deseja a ninguém.

    Boas melhoras.

    Beijinhos!

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  3. Terrível, essa sensação de perda de controle e vulnerabilidade. Também já a senti...
    Bjs

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  4. Quase real.....Percebi perfeitamente o que se passou.....Foi real, ou ficção...???

    "Melhoras"
    Beijo

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  5. Amo-te, mãe. Somos almas gémeas, estamos juntas desde sempre e para sempre.

    Carina

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  6. Quisera eu em cada blog deixar um
    comentário diferente de tudo aquilo,
    que tenho feito nessa caminhada de blogosfera.
    Quisera poder descrever minha ansiedade
    ou tristeza por não poder fazer aquilo , que todos fazem.
    Uma luta tenho travado comigo mesmo para não deixar de vez
    esse mundo , que amo mesmo sem face.
    Quero , que saiba todas palavras , que deixo nas minha visitas
    são de um amor brotado do fundo da alma.
    Que , Deus nunca tire de você
    a força de nenhum de seus membros .
    Hoje me sinto faltando um pedaço ,
    mais Deus ainda deixou o suficiente para mim poder caminhar
    mesmo ficando limitada ainda sou muito feliz.
    Que , as bençãos Divinas esteja presente
    em seus sonhos e sua caminhada.
    Obrigada pelo carinho por aceitar da forma ,
    que sou.
    Um Dia de benção e paz para sua vida
    beijos om meu eterno carinho,Evanir.

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  7. Parece que sofreu uma intervenção cirúrgica. E parece que correu bem. Descreve na perfeição o que sentimos quando começamos a acordar da anestesia. Espero e desejo que a recuperação seja rápida e sem sobressaltos.
    Um abraço

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  8. Querida Olinda
    Segui-te a par e passo, pois foi exactamente isso que me aconteceu há uns anos (poucos) quando fui submetida a uma cirurgia, com anestesia geral. Cheguei ao "quarto frio" ainda perfeitamente lúcida, mas apaguei logo de seguida. E bastante mais tarde - creio que no dia seguinte, de manhã - acordei no quarto.
    Foste operada mesmo, ou é ficção? Em qualquer dos casos parece que tudo correu bem...
    Devo desejar-te as melhoras?

    Para já deixo-te um beijinho muito GRANDE e toda a minha amizade.
    Mariazita

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  9. Querida amiga vim agradecer
    A sua presença carinhosa no meu cantinho
    Me dando força para seguir meu caminho
    Com serenidade paz e alegria.
    Tenha uma linda semana, coberta de muita paz e amor!
    Com carinho
    Abraço amigo!

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  10. Queridos amigos

    Muito obrigada pela vossa presença e paciência em lerem este meu texto.
    Estas são as minhas sensações em estado já de dormência antes de 'apagar' completamente o que aconteceu quando digo 'Cheirei...', pelo menos acho que foi esse o momento...Fui submetida a uma intervenção cirúrgica com anestesia geral há pouco mais de um mês. A recuperação está a correr bem.

    Abraços

    Olinda

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  11. Só hoje, li o texto. Agora é se recuperar bem. São meus votos, minha querida Olinda. Feliz semana!
    Beijos,
    da Lúcia

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    1. Amiga Lúcia

      Muito obrigada pelos seus votos.
      As coisas estão a correr bem. :)

      Beijinhos

      Olinda

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  12. Muito me alegra saber que tudo correu bem! É interessante ler o relato do seu (in)consciente, fui para dentro da narrativa, assim como caminhei pelos corredores, desci os pisos, tremi de frio na sala cirúrgica, vi as luzes lilázes, os azuis, vivenciando a situação. De modo que, qualquer que seja a sua escrita, o estilo, os fatos reais, inverossímeis, somos sempre tragados por ela!

    Um beijão, amiga Olinda!

    ;))

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    1. Querida amiga

      Fico comovida com a tua generosidade, com a atenção que dás aos temas que apresento no Xaile de Seda, trazendo-me sempre palavras amigas e de apreço.

      Agradeço todo o teu apoio, complementando os meus posts com informações preciosas e análises que me enriquecem.

      Em relação à operação tudo correu, graças a Deus. :)

      Beijinhos

      Olinda

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