A voz de minha bisavó
ecoou criança
nos porões do navio.
ecoou lamentos
de uma infância perdida.
A voz de minha avó
ecoou obediência
aos brancos-donos de tudo.
A voz de minha mãe
ecoou baixinho revolta
no fundo das cozinhas alheias
debaixo das trouxas
roupagens sujas dos brancos
pelo caminho empoeirado
rumo à favela
A minha voz ainda
ecoa versos perplexos
com rimas de sangue
e
fome.
A voz de minha filha
recolhe todas as nossas vozes
recolhe em si
as vozes mudas caladas
engasgadas nas gargantas.
A voz de minha filha
recolhe em si
a fala e o ato.
O ontem – o hoje – o agora.
Na voz de minha filha
se fará ouvir a ressonância
O eco da vida-liberdade.
Hoje, dia de homenagem à Língua Portuguesa, trago uma representante da Literatura Brasileira tendo em conta que o Brasil é o pais que maior contributo dá à manutenção do idioma, pelo número de falantes que apresenta.
O Português é ali Língua Oficial, o mesmo acontecendo nas cinco ex-colónias africanas - Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe. Não nos esqueçamos de Timor-Leste. E também da Guiné Equatorial, com as nuances que lhe conhecemos.
Sendo a Língua Portuguesa uma língua viva, desde a época dos Descobrimentos ela viajou pelos cinco continentes e, como resultado, foi adquirindo vários termos desses espaços podendo-se dizer que existem tantas variantes quantos os países que a têm como língua oficial.
Conceição Evaristo é uma linguista e escritora brasileira.
É uma das mais influentes literatas do movimento pós-modernista no Brasil, escrevendo nos gêneros da poesia, romance, conto e ensaio. Como pesquisadora-docente, seus trabalhos focavam na literatura comparada. daqui
Este poema não só foca um dos momentos mais tristes do passado esclavagista como também se centra no papel da Mulher, em especial a mulher escrava. E Vem até ao presente...
Velha Infância
Maria Monte_Os Tribalistas
*NOTA
O título - Um dos versos do poema-carta do poeta renascentista português António Ferreira, em defesa da Língua Portuguesa.
Tenham um dia agradável, meus amigos.
Abraços
Olinda
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Poema - daqui
Poema sobre a avó fascinante de ler, Gostei da música do vídeo
ResponderEliminar.
Um dia feliz ... abraço.
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
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"A voz de minha filha
ResponderEliminarrecolhe todas as nossas vozes"
Bom dia de paz, querida amiga Olinda!
A nova geração é bem assim, por sorte.
Quando nos calamos por cansaço, as novas mães gritam por nós contra toda espécie de injustiça.
Gosto muito da "velha infância "...
Uma vez postei sobre Conceição Evaristo.
Tenha um Dia das Mães abençoado e feliz!
Beijinhos
Li com emoção e com emoção no olhar me deixei ficar. Poema tão bonito
ResponderEliminarBeijinho na face
*
Hoje poema novo
*/*
Lindíssimo poema, bela homenagem e a velha infância adorei ! Parabéns às mamães! beijos, chica
ResponderEliminarInteressante poema que homenageia as mulheres da nossa vida
ResponderEliminarUm abraço.
Depois do " Reino das Casuarinas " onde o autor nos mostra " a sua utopia " ( que será também a de todos nós ),um reino onde o principal ministério seria o dos afectos, o da proximidade com os mais necessitados, o do trabalho em prol do cidadão, trazes um poema da Conceição Evaristo, muito bem escolhido para homenagear a nossa lingua portugues. Ela, neste poema recorda-nos o sofrimento atroz daqueles que foram feitos escravos, simplesmente pela cor da pele, um sofrimento que ficou entranhado nesse povo e, mesmo agora, em pleno seculo XXI, ainda é recordado com grande tristeza. Infelizmente, Amiga, pouco mudou, mesmo no Brasil, onde o preconceito ainda é latente; não sofrem chicotadas nas costas, mas na alma ainda são muitas. E aqui, no nosso Portugal? Continuam a achá-los inferiores e muitas vezes ouvimos : " não sou racista, mas..." E o trabalho escravo continua nesse nosso lindo Portugal, como temos visto pelas noticias, com chicotes a fazerem sangrar o coração daqueles que só querem trabalhar e que fugiram de situações indignas para qualquer ser humano. E o pior, Olinda, é que somos um pais de grande emigração, um país que tem cidadãos em cada canto do mundo e que infelizmente não trata bem aqueles que fizeram o mesmo. O homem custa a" meter na cabeça " que só existe uma raça, a " raça humana" e que todas as outras diferenças são caracteristica do individuo, um ser diferente de qualquer outro . Sabes, querida Amiga, o que muito me choca? É ver uma mãe passeando o seu filho, classificado de " anormal " tendo de enfrentar os olhares das pessoas que por eles passam, um olhar de espanto como se estivessem a ver uma coisa do outro mundo: e aqui, tenho de louvar o povo brasileiro que classifica estas crianças de excepcionais que pode até ser a mesma coisa, mas é muito mais terno, mais doce; e já que estamos perto do dia das Mães, aproveito para homenagear estas mães exepcionais, que cuidam dos seus filhos também excepcionais, com todo o amor tendo como única preocupação o preconceito dos outros e mais ainda o dia em que partirão e deixarão os seus queridos; sabem que, infelizmente eles deixarão de ser considerados PESSOAS com os mesmos direitos que as demais. E é assim a vida das mulheres, a vida das mães, com muito já conquistado, mas com muito ainda por conquistar. E é nessas, que ainda pouco têm, que sofrem todo o tipo de violências, que não tem um pão para dar aos filhos que temos de pensar todos os dias, mas especialmente no próximo Domingo, dia Da Mãe. Alonguei-me muito, mas não é dia da nossa língua? Então, usei-a bastante e só espero não a ter desprestigiado com algum erro. Beijinhos, obrigada pelos belos posts e já agora, desejo-te um dia da Mãe alegre e com muitos miminhos
ResponderEliminarEmilia 🌻 🎈 💝
Esqueci de te falar desta música, Olinda! Há muito que não a ouvia e matei as saudades , Obrigada! Beijinhos
ResponderEliminarEmilia
Excelente a sua forma de homenagear! Obrigada pela partilha!
ResponderEliminar.
Sem rumo. Refletindo...
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Beijo. Bom fim de semana.
Querida Olinda, que triste tema, mas que belíssimo poema de Conceição Evaristo. Sofrido, dolorido demais. Uma vergonha para o mundo, uma nódoa que ficou aqui, aí, no mundo, e até hoje não pagamos a conta que ficou pela escravidão da alma de um povo. Mas, contudo, um preconceito enorme ainda continua. Difícil de entender o porquê desse racismo, e não deixa de ser exasperante, nauseante tanta crueldade, enorme descaso não apenas pela cor da pele, mas pela condição socioeconômica de um povo. Brutalidade vergonhosa. E quem somos nós?
ResponderEliminarNada mais covarde do que racismo e preconceito. Uma postagem que será sempre oportuna. A vida inteira.
E, saindo de um assunto e entrando no outro, viva nossa Língua Portuguesa!
Votos de um ótimo fim de semana, querida Olinda!
Beijos, amiga, te aplaudo.
Lindo homenaje te mando un beso.
ResponderEliminarConfesso não me lembrar de ter deparado com trabalhos de Conceição Evaristo. Por isso li (mais) atentamente e com emoção me deixei ficar.
ResponderEliminar"[...] Na voz de minha filha
se fará ouvir a ressonância
O eco da vida-liberdade."
Assim seja.
Grato pela partilha e divulgação, Olinda.
Beijo
SOL da Esteva
Tão belo! Tão triste! Tão verdadeiro! A minha voz contém a voz de todos os que ecoaram lamentos, obediência e revolta. A elas me junto. Obrigada. Olinda, por trazer aqui a Conceição Evaristo.
ResponderEliminarTudo de bom Um beijo.
E no presente, assiste-se a um retrocesso em termos de direitos, liberdades e garantias, no universo feminino... quando em certas culturas, o ensino lhes é vedado, tal como um passeio a um parque... ou soltar os cabelos ao vento. No mundo mais civilizado... em tempos de crise... também é sempre o universo feminino o mais efectado em tantas vertentes... salarial, laboral, familiar...
ResponderEliminarQue poema incrível, que não conhecia... e como foi bom recordar este tema musical, que aprecio imenso!
Beijinhos! Feliz semana!
Ana