sexta-feira, 19 de maio de 2023

Clarinho, clarinho...

Um dia, os babilónios levantaram-se do chão, roubaram o fogo dos deuses e gravaram na pedra: - nenhum poder sobre a Terra é superior ao império da Lei...

E, entre eles, nomearam um Conselho de Sábios, para que assim vele...

Hammurabi, o legislador, não se conforma e proclama - Babilónicos, a lei sou eu!...

Obsequioso, o Conselho de Sábios: Grande Hammurabi, teu poder é imenso e sábia a tua lei desde que se conforme com a Lei maior que nós velamos...

E devolve uma, duas, três vezes as leis de Hammurabi. Que agreste barafusta, investindo: aclarem vossas decisões - quando não, serão todos escrutinados!...

E culpa o Conselho de Sábios pelo afundamento do barco...

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E um velho, cego e dando-se ares de profeta, murmura: clarinho, clarinho que até um cego vê!... E exorta: Babilónicos, não queiram ser escravos, nem bestas - o Povo é quem mais ordena!...

Manuel Veiga, in"Notícias de Babilónia e outras Metáforas"- pg 16


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Que livro é este? Publicado em 2015, ele é composto de textos de crítica político-social nos quais se reconhecem os intervenientes por estarmos a viver, na altura, a realidade neles descrita.

Entre os referidos textos, aparecem estas sátiras, tomando Babilónia, os babilónios e Hammurabi como protagonistas. A cereja no topo do bolo é uma entidade diferente em cada situação que, no fim, profere as suas exortações ou sentenças.

Duro e sem contemplações temos nesta obra um Manuel Veiga
versátil, analisando um dos momentos mais difíceis
 da nossa História, dos últimos tempos.




Presentemente, se não temos crises, inventamo-las. E assim passamos os dias em discussões estéreis, no diz-que-diz, em recriminações, em posturas deprimentes de personalidades institucionais que deviam estar a trabalhar para o bem comum.

Bom fim de semana, meus amigos.

Abraços.

Olinda 


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Imagem:
"Os Jardins Suspensos da Babilónia"...
nunca foram encontradas evidências arqueológicas 
irrefutáveis de sua existência.Daqui


15 comentários:

  1. Clarinho,clarinho....
    Belo e significativo texto do Manuel Veiga! Belo compartilhamento! beijos, ótimo fds! chica

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  2. Clarinho, clarinho mesmo
    .
    Saudações cordiais e poéticas.
    Feliz fim de semana
    .
    Pensamentos e Devaneios Poéticos
    .

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  3. Clarinho como a água, costuma-se dizer. Belo texto.
    *
    Uma Santa e feliz sexta feira.
    *
    A mulher não é só cama
    */*

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  4. Obrigado, amiga Olinda por ter lembrado o meu "velho" NOTÍCIAS DE BABILÓNIA, que infelizmente (como bem notou no seu excelente texto) mantém em muitos aspectos plena atualidade...
    um abraço, amiga.
    um dia destes voltou com regularidade aos comentários

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  5. Que forma interessante de narrar os acontencimentos. Adorei o fragmento que você compartilhou. Metáforas falam por si só. Bjsss Bom final de semana,

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  6. Bom dia de paz, querida amiga Olinda!
    Inventa-se de tudo na atualidade desde a difamação do próximo ao poder dos desgovernos.
    É tão clarinha, clarinha a mensagem poética do Manuel.
    Quem tiver olhos pra ver que veja...
    Quando 'um barco afunda" a culpa se põe no mais fraco... Hipocrisia social.
    Tenha dias abençoados!
    Beijinhos com carinho fraterno

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  7. " Clarinho, clarinho que até um cego vê ", clarinho como água ( quando não está poluída ) que qualquer barco afunda se as águas continuarem turbulentas e andamos há meses numa turbulência poltica tremenda. Um tal " diz-que - diz " que confunde o povo e que lhe tira qualquer interesse pelo que se passa entre os nossos lideres. Uma " fofoquice " tal que enche jornais revistas e noticiários , esquecendo-se assim, os verdadeiros problemas que afectam os portugueses; casos, casinhos que, se calhar pouco importam e anda-se semanas e semanas para tentar descobrir quem mente e nós, o povo, a tentar que o dinheiro estique para pôr o pão na mesa. Que dizer, querida Olinda? Que gostei de vir cá e encontrar aqui as palavras escritas pelo nosso Amigo Manuel e também as tuas, associando-as à actualidade " vergonhosa " que estamos a viver. Cenas muito tristes!!! Amiga, está a correr tudo bem por aqui e espero que aí em casa também esteja tudo bem. O Começar de novo vai continuar em pausa, mas, sempre que puder visitarei os amigos, certo? Não vou passear, mas, claro, estar e fazer as refeições com o meu irmão e amigos comuns é importante, ocupa tempo, mas sabe-me bem Um beijinho e obrigada pelo belo post. Boa noite!
    Emilia 🌻 🙏 🌹

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  8. Interessante a sua publicação de hoje.
    Um abraço.

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  9. Profunda reflexión te mando un beso.

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  10. Uma beleza de partilha Olinda que nos leva Olhar para perto e para dentro e encontrar uma realidade do que se vive aqui, ali e acolá. Bem claro crítico perfeito. Bravo Manuel!!!
    Abraços e feliz fim de semana.

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  11. "[...] clarinho, clarinho que até um cego vê!... [...]". O Manuel Veiga mostra-nos os caminhos que a (injusta) justiça leva.
    "[...] Até um cego vê[...]"!
    Grato pela partilha, Olinda.

    Beijo
    SOL da Esteva

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  12. Excelentes metáforas de Manuel Veiga e a constatação de que se mantém actual e pelo "andar da carruagem" que está continuamente a descarrilar, irá continuar assim.
    Mais uma publicação interessante, uma muito perspicaz chamada de atenção a este carnaval político que me faz sentir envergonhado por quem deveria estar e não está, neste país que adoro, mas onde vale tudo por um pedaço de poder, que normalmente dura pouco e eles* tendo noção, tratam de se aproveitar e bem.
    Resto de bom domingo, vir aqui é um grande prazer.
    Um kandando.

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  13. ...até os surdos percebem e "até um cego vê..."
    Como sempre, querida Olinda, um post brilhante mas com um semblante inconformado! Até onde?
    Um beijinho

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  14. Claríssimo! Muito interessante, que algum dia a humanidade aprenda.

    Um abraço. Tudo de bom.
    APON NA ARTE DA VIDA 💗 Textos para sentir e pensar & Nossos Vídeos no Youtube.

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  15. Gosto de estar aqui
    Mesmo em modo mais rápido encontro sempre algo que me aconchega. Abençoado Xaile de Sede.
    Muito merecida esta referencia ao Manuel Veiga...ele sabe das coisas melhor do que ninguém , Gosto dele.
    Abraço e brisas doces ****

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