Sofro, Lídia, do medo do destino. [1]
Sofro, Lídia, do medo do destino.
Qualquer pequena cousa de onde pode
Brotar uma ordem nova em minha vida,
Lídia, me aterra.
Qualquer cousa, qual seja, que transforme
Meu plano curso de existência, embora
Para melhores cousas o transforme,
Por transformar
Odeio, e não o quero. Os deuses dessem
Que ininterrupta minha vida fosse
Uma planície sem relevos, indo
Até ao fim.
A glória embora eu nunca haurisse, ou nunca
Amor ou justa estima dessem-me outros,
Basta que a vida seja só a vida
E que eu a viva.
Sofro, Lídia, do medo do destino. [2]
Sofro, Lídia, do medo do destino.
A leve pedra que um momento ergue
As lisas rodas do meu carro, aterra
Meu coração.
Tudo quanto me ameace de mudar-me
Para melhor que seja, odeio e fujo.
Deixem-me os deuses minha vida sempre
Sem renovar
Meus dias, mas que um passe e outro passe
Ficando eu sempre quase o mesmo, indo
Para a velhice como um dia entra
No anoitecer.
Mais flores do que Flora pelos campos,
Nem dá de Apolo ao carro
Outro curso que Apolo...”
Ricardo Reis – in Obra de Fernando Pessoa.
Ed. - Assírio&Alvim
......................................................
Se como Lydia viesses cobrir meu rosto
Com o perfume de teus cabelos...
E como rosa abrupta
Te abrisses ao mistério de meus dedos...
Se meus olhos
Abrasassem como o sol da tua boca...
Se o grito e o mel povoassem meu deserto
Na glória de teu corpo...
Lírios em círio acesos
Luziriam no altar de meu desejo
E rosas e lírios te daria
Nas rosas e nos lírios que não ouso...
....................................................
Enfim, brisa de Verão. A que não resisto...
Depois de os rios transbordarem.
Aceitemos, por isso, Lydia, o destino
Das coisas perecíveis.
Sem indagar da Mentira
Ou da Verdade
A distância.
Apenas o perfume
E a glória de ser…
E sejamos!... Entre o espinho
E a rosa apenas um suspiro breve
E o devir do tempo. E o fluir leve
De nossos passos.
E o bordado de teus dedos
Entrelaçados. A desenharem sinfonias
E afagos. Harpejo de poeta
Soltando maduros bagos e
Pétalas no carmim
De teus lábios…
Manuel Veiga
Poemas de Ricardo Reis. Fernando Pessoa. (Edição Crítica de Luiz Fagundes Duarte.)
Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1994.
- 80.Poemas de Ricardo Reis. Fernando Pessoa. (Edição Crítica de Luiz Fagundes Duarte.)
Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1994.
- 80a.
Adoráveis poemas li essa noite aqui, querida Olinda!
ResponderEliminarRicardo Reis e nosso querido amigo Manuel Veiga! Maravilhosos!
Deixo para você - Olinda e Manuel - meus votos de uma Feliz Páscoa, alegria e paz!
Beijinhos a ambos!
Profundos poemas te mando. Te mando un beso.
ResponderEliminarJesus Ressuscitou, Aleluia!
ResponderEliminarFeliz Páscoa, querida amiga Olinda, a você e seus entes queridos!
Voltarei para comentar o post, vim cumprimentá-la pela Páscoa logo na manhãzinha.
Um Domingo abençoado com alegrias e chocolates... Paz, saúde no corpo e Amor no coração.
Seja feliz e abençoada!
Beijinhos festivos e fraternos na maior festa cristã
"Basta que a vida seja só a vida
EliminarE que eu a viva."
Boa noite de Páscoa, querida amiga Olinda;
Estamos comemorando a Vida hoje de forma especial.
O vídeo é uma delícia de se ouvir.
Gostei do paralelo poético estabelecido pelo poeta Manuel Veiga.
Você consegue "pescar" ou colher pérolas no virtual.
Bom passar por aqui agora no descanso vespertino.
Beijinhos
Lindos poemas e inspirações! FELIZ PÁSCOA, beijos, tudo de bom,chica
ResponderEliminarPassando, vendo, lendo, elogiando e agradecendo a partilha poética, deixando cumprimentos cordiais, bem como,
ResponderEliminar.
“” votos de um feliz domingo de Páscoa extensivo à sua família ””…
Belíssimos poemas.
ResponderEliminarQuerida amiga desejo para si e para a sua família uma alegre, doce e feliz Domingo de Páscoa
Beijinhos
Bom dia Olinda,
ResponderEliminarDois poemas maravilhosos em que a poesia prima pela beleza e qualidade a que tanto Ricardo Reis já nos habituou como Manuel Veiga se vem afirmando.
Gostei imenso.
Querida amiga desejo que a sua Páscoa tenha sido muito feliz.
Beijinhos e uma boa semana.
Ailime
Já conhecia os poemas em que o Manuel Veiga recria a Lydia, personagem dos poemas de Fernando Pessoa / Ricardo Reis.
ResponderEliminarE a excelência poética é a nota dominante.
Boa semana, amiga Olinda.
Um beijo.
Ricardo Reis amava Lydia e a ela dedicava belos poemas. Isto na imaginação de Fernando Pessoa. Mas Manuel Veiga também fez alguns poemas muito belos dedicados a Lydia, talvez também imaginária. Espero que o Manuel Veiga esteja bem. Não tem actualizado o blogue dele.
ResponderEliminarTudo de bom para si, minha Amiga Olinda.
Uma boa semana.
Um beijo.
Caríssima, Olinda,
ResponderEliminarsempre tirei o chapéu para o Manuel Veiga, ele o sabe. E os poemas dedicados a Lydia são primorosos, tão "fantasiosos" quantos os de Reis/Pessoa.
Uma boa semana, minha amiga!
Agradecida por tan hermosisimos poemas y por darme a conocer a Manuel Veiga, lo voy a seguir en su blog, no sé si algunas de sus obras está en español. Besos
ResponderEliminar" As miudezas históricas " como lhes chama Saramago interessam, sim, pois partindo dessas miudezas chegamos à história, neste caso a origem do nome da nossa linda Lisboa, cidade que encanta os portugueses e todos os que, de longe a visitam. Interessou-me também ver a grande paixão de Ricardo Reis por Lydia onde nestes poemas lhe desabafa o seu medo do destino e lhe pede que o ampare sempre. Já o nosso amigo José Veiga fala da mesma Lidia, como bem dizes, com palavras diferentes mas também de amor. Já tive oportunidade de ler alguns desses poemas e nestes que partilhas ele também desafafa mas não mostrando receio de aceitar o que a vida lhe trouxer, esquecendo aquilo que é " perecivel"" , bastando-lhes a vida com os afagos do amor. E assim é, Amiga, o que é perecivel vai, mas fica o que importa, o ser, o amor, os afectos. Gostei muito e, como a Graça, também eu estou preocupada com o nossa Amigo Manuel, pois há muito não aparece. Muito obrigada pelas informações que partilhas connosco, sempre muito enriquecedoras e espero que a tua Páscoa tenha sido de alegria e que assim continuem todos, alegres e com saúde. Beijinhos
ResponderEliminarEmilia
Tocantes versares nessa "colcha poética" deveras inspiradora.
ResponderEliminarUm abraço. Tudo de bom.
APON NA ARTE DA VIDA 💗 Textos para sentir e pensar & Nossos Vídeos no Youtube.
Gostei de reler estes excelentes poemas.
ResponderEliminarContinuação de boa semana.
Beijos.
Muito lindo!
ResponderEliminarBravo, querida Olinda! e como foi bom recordar Ricardo Reis!
ResponderEliminarE como foi excelente integrares os poemas com a mesma personagem, do Manuel Veiga, nosso querido e grande poeta ( agora mais enfraquecido) e que muito admiro
Parabéns. Um Beijo!
Grata pela partilha destas lindas poesias neste entrelaços de autores. Espeto que tenha tido um aPáscoa de Paz e renovação da fé e esperança. bjsss
ResponderEliminarDuas versões da essência do amor, que Lydia encarna, muito belas... foi um prazer mergulhar nestes dois apaixonantes universos poéticos, com o refrescante tema de José Afonso, por fundo musical!
ResponderEliminarEstimo que tenha passado uma excelente Páscoa, na companhia dos seus, Olinda! Aqui a Páscoa, foi passada pelos intervalos das festividades... para que a minha mãe pudesse usufruir do ambiente da mesma, ainda que fora de grandes aglomerações... mesmo com vacinas... o risco para os mais vulneráveis mantém-se... e se calhar para os saudáveis... mas isso não nos é dito... nem será tão cedo... de qualquer forma o grande número de problemas respiratórios continua em alta, transversalmente a todas as idades... o que me dá que pensar... que se calhar, não andarei tão errada quanto isso! Melhor continuar a prevenir, protegendo os mais frágeis, perante algo ainda relativamente recente que nos desestabiliza o sistema imunitário... do que não conseguir remediar!...
Um beijinho! Feliz fim de semana, com saúde e tranquilidade!
Ana
Muito Obrigado, Olinda por me misturares com o Ricardo Reis
ResponderEliminarlembro-te porém que não confundo latão (os meus poemas) com oiro de lei
agradeço também os comentários e as referencias pessoais
muito obrigado
Olá :)
ResponderEliminarQue momento bom
Gosto de Ricardo Reis, muito antes de gostar de Pessoa :)
Muito jovem fiquei "apaixonada " pelo livro Odes de Ricardo dos Reis.
" A flor que és, não a que dás, eu quero.
Porque me negas o que te não peço
Tempo há para negares
Depois de teres dado."
Lembro que na altura dos meus 13/14 anos ao ler , fiquei assim um pouco trocada das ideias :)
Quanto ao Manuel Veiga, gosto do que escreve já o leio faz anos e tenho ele cá casa.
Li o comentário dele e tive de sorrir.
Só um grande poeta para ter a humildade de achar que os seus poemas são latão!!
Aí aí caro Manuel os seus não são oiro de lei, são Amor.
Grata por tão excelente partilha
Abraço e brisas doces ****