quarta-feira, 16 de março de 2022

Terras de bruma

Bruma seca, diz-se em Cabo Verde. O céu envolto numa espécie de névoa uniforme, um pó que, como diz o povo, vem do deserto do Saara. Também os ventos alísios são chamados, empiricamente, creio, para explicar esse fenómeno atmosférico. Dentro das casas um pó avermelhado toma posse do chão e dos móveis. Sempre de vassoura na mão, aspirador e panos de limpar pó... E quem sofre de problemas respiratórios está sempre com o credo na boca.

Os Açores chamados de Ilhas de Bruma no hino de Manuel Medeiros Ferreira em que ele nos dá conta da névoa que as envolve e, de forma poética, encontra-lhe beleza e magia: Hino não institucional dessas ilhas da macaronésia. E tanta coisa haveria ainda a dizer sobre elas...


 

Por cá, estamos submersos numa bruma persistente. O céu cinzento, por vezes avermelhado, traz-nos augúrios não muito sorridentes. Consta que também a culpa é do Saara que liberta o seu excesso de areias aqui para estas bandas, o que atesta a nossa proximidade com África. 

A bem dizer, parece que o tempo nos lê o coração. 

Por essa Europa fora a acção de pessoas inconsequentes lança-nos na maior das tristezas e horror pela falta de humanidade demonstrada nos últimos dias. 

Igualmente, em outros lugares do mundo vive-se em bruma permanente, nomeadamente, no Iémen... que vive a maior crise humanitária do mundo. Desde que a guerra civil eclodiu em 2014, a fome aguda, as chuvas torrenciais, as inundações, a crise de combustível, a praga de gafanhotos, a cólera e a Covid-19 devastaram o país. O financiamento insuficiente do Programa Mundial de Alimentos dificulta a assistência a milhões de iemenitas.

A guerra esquecida...8 anos de conflito e 700 ataques aéreos em um mês. 

O mundo é uma ilha, uma aldeia global. As distâncias já não contam.
Mesmo quando se diz que é dia aqui e noite ali.  

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15 comentários:

  1. E o céu, com a sua cor amarelada junta-se a nós na tristeza ao ver tanta desumanidade. Não pode estar azul o céu que nos cobre, muito menos azul cleste e cheio de estrelas alumiando o breu da noite. O coração da grande maioria dos seres humanos, no mundo inteiro, está
    escuro de tanta apreensão, de tanta dor, de tanto receio pelo que ainda pode acontecer. Por esse mundo fora, há intempéries que tudo destroem, há secas, há fome e o dinhheiro continua a ir para o armanento cada vez mais sofisticado que, ao menor descuido vai tudo pelos ares. Estamos nas mãos de um insano que nada tem a perder e que tudo fará para vencer, como se, em alguma guerra houvesse vencedores. Estamos envoltos em bruma e o céu parece entender que o azul celeste não combina com as cores negras da guerra e do sofrimento de tantos inocentes. Muito ainda haveria a dizer, querida Olinda, mas as palavras faltam-nos e há pouca vontade de procurar, dentro de nós, as mais apropriadas. Só consigo encontrar duas..desalento...impotência..
    Obrigada , querida Amiga, pelo desabafo e pela reflexão que nos levas a fazer. Continuaremos com o " credo na boca ", sabe-se lá até quando. Um beijinho e, apesar de tudo, que a serenidade vos acompanhe a todos
    Emilia

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  2. Bom.dia de Paz, querida amiga Olinda!
    Jamais vou entender, em base ao seu post, que muito se justifica na atualidade, as guerras silenciosas dos desprezos, das calúnias, do disse-me-disse... Dos egoísmos tenebrosos, da desumanidade dentre outros pela mesquinhez de caráter.
    O mundo está em guerra de muitas formas e vemos uns pelejando contra outros no seu mundinho tão pequeno e desprezível.
    Quanto mais se pode puxar o tapete do semelhante e demonstrar que se é o tal, mais estamos sordidamente fazendo, denegrindo sem piedade alguns e guerreando silenciosamente.
    E o mundo continua em guerra...
    Fome,cadáveres, absurdos e mais absurdos, amiga.
    Você fez muito bem em focar o que ninguém se incomoda, presos em nossos probleminhas banais, longe estamos de ser caridosos, fratenos.
    E o mundo continua em guerra...
    Sem palavras, querida
    A guerra começa em nós.
    Enquanto não deixarmos nossa prepotência, o mundo vai se destruindo por nós, pouco a pouco.
    Muito obrigada por nós fazer sairmos de nós e do nosso mundinho.
    Tenha dias abençoados de paz!
    Beijinhos com carinho de gratidão e estima

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  3. Querida Olinda
    Quantas guerras estão destruindo o mundo?
    E guerras silenciosas são muitas e só quem sofre são os inocentes.
    É lamentável!

    Tenha dias abençoados.

    Beijinhos 🌷

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  4. Aqui, no Algarve, está frio, o céu tem estado amarelo e não sentimos o vento...
    O Suão é o vento do Sul e só reparamos nele quando sopra quente e forte no verão, então, sentimos na pele o calor de África.
    As ilhas dos Açores são húmidas e chuvosas... São também um problema para quem tem alergias.
    Agora somos nós a passar por escassez de alimentos, com a seca e a guerra...
    Haja paciência e resiliência!... Beijos
    ~~~~~~~~~

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  5. Sim, é verdade, minha Amiga Olinda, que o mundo vive numa bruma permanente que nada tem de poético pois só impede que as pessoas se vejam umas às outras com amor e solidariedade. Está aí esta guerra e permanecem os conflitos sem fim à vista que se espalham por tantas partes do mundo.
    Ontem as areias do deserto andaram por cá tornando o céu amarelo (a cor do desespero que é nosso). Que esperança ainda nos resta?
    Cuide-se bem.
    Um beijo.

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  6. Gosto tanto desta cântico aos Açores!
    Quanto aos maus ventos que sopram, esperemos que acalmem em todos os sentidos.

    Abraço

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  7. O mundo está de de ponta-cabeça, Olinda.
    Só nos resta mesmo orar...
    Belíssima postagem que me levou a refletir.
    Um beijinho carinhoso
    Verena.

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  8. Boa tarde Olinda,
    Um artigo que diz bem de como o mundo anda às avessas com tantas guerras, (algumas caladas), com tanto sofrimento. E as brumas que naturalmente envolvem as ilhas e as outras que volta e meia, ao sabor do vento, invadem os céus!
    Estamos a atravessar momentos críticos sobre os quais nos sentimos impotentes para resolver.
    Como diz Graça Pires "que esperança nos resta"?
    Apenas confiar na providência divina.
    Um beijinho.
    Ailime

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  9. São tantas as brumas que invadem o nosso coração.
    Apesar de tanta destruição, mortes, dor e sofrimento não podemos perder a esperança de dias melhores, pois caso contrario, o desespero e desalento criam uma nuvem negra, que nos impedirá de seguir em frente.
    Beijinhos

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  10. Das brumas trazidas pelos ventos,chega-nos em fenômeno na passagem dos dias. Aprendemos a lidar com elas e até extrair-lhes algum encanto.

    Das brumas criadas pelos homens nocivos, vê-se a desumanidade desenhada no céu e no chão.
    Temos de usar uma aquarela de esperança a cada novo amanhecer e pintar as brumas tornando-as leves e passageiras.

    Grata pela reflexão mesclada ao alívio da canção.
    Bjsss, Olinda.
    Calu

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  11. A intolerância instala-se e propaga-se sob a forma de guerra.
    Muito mal vai o mundo que não consegue encontrar pontos de equilíbrio, em que todos tenham o seu espaço.
    Os efeitos devastadores da guerra são o pior resultado para os conflitos, onde quer que sejam.
    É urgente restabelecer a paz em todos os quadrantes.
    Abraço de amizade.
    Juvenal Nunes

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  12. Vivemos tempos tão estranhos que nada parece ficar na memória por muito tempo… e uma guerra ou uma monstruosidade parecem ter os seus cinco minutos de fama no lugar de ficarem bem presentes por forma a não haver hipótese alguma de se repetirem.
    Um texto tão bem escrito quanto importante, mesmo se a mensagem é dura porque nos confronta com a realidade e com o que não gostamos de sentir ou admitir.
    Abraço e bom fim de semana

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  13. "... parece que o tempo nos lê o coração."

    Parabéns querida Olinda , por mais um texto refletivo e lúcido sobre as brumas que pairam à nossa volta e que nos envolvem nesta imensa dor coletiva.
    A banalidade com que hoje se vê e se fala de guerra, fome, destruição, morte, torna tudo tão distante e os mesmo tempo tão próximo, nem sei explicar o que me faz sentir...talvez esta dor permanente que se vai refletindo no pouco que escrevo.
    Continuo em modo pausa por tempo indeterminado, mas vou aparecendo como prometi e fico muito feliz por a Olinda estar ENTRE NÓS! <3

    Grande beijinho com amizade e estima,
    Fê blue bird

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  14. De facto, oe tempos são brumosos... um texto de grande nivel bem ao jeito do belissimo XAILE DE SEDa

    Abraço

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  15. Muitas são as referências que são feitas aos tempos de outrora; algumas tão só para dizer do atraso do modo de viver. Mas as vantagens (praticamente invisíveis e silenciadas) não tem parança nos diálogos dos sábios da actualidade.
    ...Coisas de cientistas!
    Post adorável, actual e útil.
    Parabéns, Olinda.



    Beijo
    SOL da Esteva

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