A LENDA
Conta-se que, antes de ser descoberto, Cabo Verde era de facto verde. Possuía uma vegetação espessa, cheia de arvores frondosas e vicejantes. A água era abundante e os terrenos pantanosos, o que de facto se verificava no tempo da descoberta dos portugueses, em 1460, segundo alguns dados.
Havia então dois seres nesse confim do meio do mundo, eleitos do senhor, que os criou à sua semelhança e feitio. Adão e Eva se chamavam eles, únicos seres inteligentes destas paragens hisperianas da Macaronésia.
O povo chamava-os, Ntóni e Ntónia.
Viviam numa grande clareira de Matu-l Engenho, actual planície da Assomada. Eram agricultores e criadores de gados. Viviam em abundância de pão, paz e tranquilidade, semeando e vivendo do fruto da sua sementeira, ate que um dia, por capricho da natureza, essa felicidade foi interrompida, não por uma serpente diabólica, como na Sagrada Escritura, mas por um abalo sísmico seguido de uma erupção vulcânica portentosa que dizimou quase toda a população da ilha, tornando a paisagem idílica de então num espectro desértico e lunar. As lavas e as magmas expelidas espalharam-se pela ilha cobrindo-a de um manto de desolação.
Os dois Elfos fugiram para a maior elevação da ilha de Santiago, que hoje se chama Piku Ntónia, a fim de se resguardarem de uma possível soterração. Entretanto, quando se encontravam num vale, entre uma serra e outra mais elevada, foram inexoravelmente surpreendidos por uma lava mais caprichosa que os petrificou, tornando-as em duas estátuas, postadas lado a lado que a população de Santa catarina chama Adon y Eva.”
PIKU NTÓNI
Para alem dessa lenda contada por Manuel Veiga in “ Cabo Verde: Insularidade e Literatura”, muitos outros mitos rodeiam a maior elevação da ilha de Santiago (e a terceira de Cabo Verde, com 1394 metros).
Diz-se, por exemplo que Piku Ntóni (ou Piku Ntónia, ou Pico de Antonio, ou Pico de Antonia ) é um vulcão de água que a qualquer altura pode arrebentar e inundar a ilha de Santiago e as nuvens que envolvem o seu pico no mês de Julho são interpretadas como sinal de bom ano agrícola, sob o olhar de Ntoni ku Ntonia, duas agulhas levantadas do chão.
fonte:aqui
Assomada
AUTOBIOGRAFIA
Nasci numa aldeia
à sombra de um sobrado
e da austera penumbra das montanhas
Ainda criança
galguei a orografia de Assomada
e fiz-me árvore do planalto
O serpentear das estradas
fez-me desembocar no mar
junto a uma cidade
enfeitiçada de azul e murmúrio
De costas para o mar
insinuei-me – para além da ilha –
na lenta e transparente caminhada das nuvens
para beijar loucamente
a neve com odor de carvão de Leipzig
Hoje sei quem sou
um simples signo de Adão e Eva
e do seu éden pétreo no Piku Ntoni
José Luiz Hoffer Almada, poeta cabo-verdiano, levou-me a querer saber o significado de Piku Ntoni.
Boa semana, meus amigos.
Abraços.
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Imagem: Net
Adorei a lenda e tão interessante achei teu post! Linda imagem dos picos de Antônia e ou Antônio! beijos, chica
ResponderEliminarQuerida Chica
EliminarMuito obrigada. Das lendas vão-se retirando algumas verdades, não é verdade?
Antónia e António, talvez tivessem existido mesmo. Ou então uma história parecida, cujos resquícios atravessaram os tempos. :)
Beijinhos
Olinda
Passe a redundância: "verdades" e "verdade" :)
EliminarAs lendas têm sempre algo de verdadeiro. Gostei muito de ler a autobiografia. Intensa e profunda a música/letra do vídeo.
ResponderEliminar.
Um dia feliz … cumprimentos.
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
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É como diz, amigo Ricardo.
EliminarTambém creio nisso. Acontece algo no tempo,
depois passando de boca em boca começa a entrar no
âmbito da fantasia.
Abraço
Olinda
Querida Olinda, não vou pedir-te desculpas pela minha ausência e, principalmente, por vir aqui todos os dias e, sem falar nadinha, saio sorrateiramente, sem sequer te dizer " olá " . Sei que conheces a minha situação de avó de uma sapequinha que, mal começou a ir para o infantário ( infectario...segundo o pediatra ) precisou de ficar em casa doente e, claro, aos cuidados da vovó. Tenho a certeza que estou desculpada!
ResponderEliminarCabo Verde deveria ter sido mesmo muito verde, pois o nome foi dado por algum motivo, não é verdade? Depois , há sempre lendas que vão sendo criadas pelo povo ao longo dos tempos. Gostei muito de conhecer esta, dos dois primeiros habitantes, únicos nesse mundinho, a quem se chamou Adão e Eva, como nos é ensinado também pela religião Católica. Muito interessante, assim como o pico da Antónia e do Antonio com as duas " agulhas levantadas do chão ", Ntonio K Ntonia,como que a abençoar as colheitas . Gostei muito também do video e dos versos do poeta cabo-verdiano, José Luiz Hoffer. Muito obrigada, Olinda, pela partilha de tantos conhecimentos e espero que aí em casa estejam todos bem. Aprendo sempre muito, neste Xaile tão sedoso!!!!
Beijinhos
Emilia
Querida Emília
EliminarDesejo que a tua Sapequinha já esteja completamente boa. Com o Outono vêm sempre essas constipações e gripes.E quem tem pequeninos nos infantários, ao primeiro sinal, têm logo de ficar em casa.
Quanto ao tema do post, diz-se que foi dado esse nome ao arquipélago porque fica perto de um cabo com essa designação - cabo verde.
Talvez esta lenda seja uma mistura do que vem na Bíblia, os primeiros seres do paraíso terrestre, o Éden, com alguma história local. Ou então, uma forma de explicar a existência desse rochedo tão peculiar.:)
As lendas têm esse lado fantasioso que encanta.
Grata pelo teu comentário, minha amiga.
Beijinhos
Olinda
Que bela melodia!
ResponderEliminarEsta lenda de Cabo Verde foi uma boa recolha. Passar pelo Xaile de Seda é, para mim, gratificante e inevitável.
Beijos, Olinda e Manuel Veiga.
Querida Teresa
EliminarGrata pela presença e pelas palavras de apreço.
É sempre um prazer recebê-la aqui no "Xaile de Seda".
Beijinhos
Olinda
Agradeço a partilha pois desconhecia esta lenda!
ResponderEliminarAbraço
Rosa dos Ventos
EliminarEu é que agradeço a sua vinda e comentário.
Abraço.
Boa noite, querida Olinda,
ResponderEliminarvir aqui ao seu cantinho, é enriquecer culturalmente. Costumo dizer que todos os dias tenho que aprender pelo menos uma coisa nova, para me sentir feliz.
Hoje, aqui, fiquei a conhecer três, a lenda de PIKU NTÓNI , o poeta José Luiz Hoffer Almada e o cantor Mário Lucio.
Obrigada, um beijinho e bom fim de semana !
Grata pelas suas belas palavras, querida Fê. Fiquei a conhecer a lenda quando li o poema de José Luiz Hoffer Almada, aliás, fui em busca de Piku Ntóni. E gostei muito dessa explicação lendária.
EliminarE quis partilhá-la convosco.:)
Adoro esse som de Mário Lúcio. Já o conhecia e achei que ficaria bem aqui.
Beijinhos
Olinda
Uma lenda muito interessante e cheia de elementos mágicos como são todas as lendas. O poema de José Luiz Hoffer Almada é muito belo: "galguei a orografia de Assomada e fiz-me árvore do planalto O serpentear das estradas
ResponderEliminarfez-me desembocar no mar junto a uma cidade enfeitiçada de azul e murmúrio. Que maravilha!
Um bom fim de semana, minha Amiga Olinda.
Um beijo.
Olá, querida amiga Graça
EliminarTambém eu fiquei presa nas palavras do poeta. Belíssima forma de falar da aldeia natal e de referir esse Pico com história.
Beijos
Olinda
OLá, minha querida!
ResponderEliminarAgradeço o aumento dos meus conhecimentos.
Espero ainda regressar a Cabo Verde e ir até ao Fogo e Brava.
Não esqueço a simpatia natural de um povo bonito e afãvbel.
Beijinho, bom fim de semana :)
Do Fogo a incandescência do vulcão. Da Brava, a fala mansa e as belas flores. E as duas ilhas ali tão perto.:)
EliminarGente boa e amorável.
Bjs
Olinda
Desconhecia, de todo, esta Lenda. Ganhei o meu dia nestes conhecimentos, em boa hora aqui desvendados.
ResponderEliminarMas acho esta lenda tornada fascinação...
Obrigado, Olinda, por esta dádiva.
Beijo
SOL da Esteva
Grata pelo belo comentário, Sol da Esteva.
EliminarLenda com todos os ingredientes para encantar. Um misto de imaginação e de história.
Abraço
Olinda
"Uma lenda Poética e encantadora "recreada" pela autora, numa escrita elegante e sugestiva tal como a amiga Olinda a apresenta..
ResponderEliminaro homem e as forças naturais a desenhar o rosto dos países.
a ilustração do poema, muito belo, é o complemento perfeito (ou se preferirem) o elemento formal onde "onde de corporizam" os elementos mágicos, que aatravessam a lenda
Gostei muito.
abraço.
Comentário a fazer jus ao Poeta Hoffer Almada e à lenda que envolve Piku Ntóni, com o seu quê de fantástico.
EliminarGrata, amigo Manuel.
Abraço
Olinda
Um belo poema e uma linda lenda.
ResponderEliminarQue bom seria, se realmente Piku Ntóni, deitasse água e tornasse a ilha de Santiago, num paraíso verde.
Bom fim de semana
Beijinhos
É mesmo, Maria. Ardente desejo de que o povo fez lenda, talvez uma prece aos deuses da chuva que prima pela ausência, normalmente.
EliminarObrigada pelo comentário.
Beijos
Olinda
Uma história linda ,a lenda continua a sobreviver.
ResponderEliminarAbraço
Olá, alfacinha
EliminarInteressante o seu comentário. As lendas têm o condão de fazerem as histórias permanecerem no tempo.
Abraço
Olinda
Boa tarde, Olinda! Gostei de conhecer a lenda cabo-verdiana. É interessante como há lendas semelhantes entre as várias culturas e os vários pontos do mundo! Um abraço :)
ResponderEliminarTem razão, Ana.
EliminarLendas e mitos são transversais a todas as sociedades, especialmente quando ainda o conhecimento se encontrava num estádio pouco ou nada elevado, em termos científicos.
Os feitos heróicos dos antepassados passavam geração em geração, contada pelos mais velhos até se transformarem em algo no âmbito do maravilhoso.
Grata pelo comentário.
Abraço.
Olinda
É unânime o fato de dizer que saímos daqui com mais bagagem cultural querida Olinda, sempre leio aqui inúmeras preciosidades! Dei um pulinho no link que deixaste, que verde!
ResponderEliminarO poema é muito lindo, também, da mesma forma o belo vídeo do cantor.
Desejo a você uma feliz semana, minha querida. Cuidando-se.
Beijinho!
Generosas palavras as suas, querida Taís. Obrigada. :)
EliminarAdorei o facto de ter gostado do post e da sua composição.
Bom fim de semana e muita saúde.
Beijinhos
Olinda
Bom dia de serenidade outonal, querida amiga Olinda!
ResponderEliminarVocê faz postagens tão lindas, com histórias, poesias e outros sempre com a mesma dedicação.
Não conhecia a lenda ou não me recordo de tê-la lido.
Aqui em meu Estado, temos o Frade e a Freira similar aos Ntóni e Ntónia.
Lembrei-me de imediato, embora totalmente diferente a história.
Sinto uma mensagem interessante na lenda como se Deus de fato protegesse aos amantes do bem e da paz. Assim se dá no real também.
Gostei muito de ler cedinho seu post, amiga.
Tenha uma nova Estação aconchegante!
Beijinhos com carinho de gratidão
Querida amiga Rosélia
EliminarPrimavera aí desse lado e Outono aqui. Duas belas estações do ano, cada uma com os seus encantos. :)
Gostei muito da leitura que faz da lenda, augurando protecção "aos amantes do bem e da paz".
Muito obrigada pelas palavras que dedica aos temas dos meus posts.
Tenha um excelente fim de semana com muita saúde.
Beijinhos
Olinda
Um post magnífico.
ResponderEliminarPela lenda e pelo poema, ambos cabo-verdianos.
Continuação de boa semana, amiga Olinda.
Beijo.
Muito obrigada, amigo Jaime, pela presença e comentário.
EliminarTenha um bom fim de semana.
Abraço
Olinda
Olá, amiga Olinda, gostei dessa sua postagem sobre Cabo Verde, que me fez lembrar do seu grande poeta, Jorge Barbosa, cabo-verdiano, que deixou publicados 4 livros de poemas. Depois de conhecer o poeta, passei a interessar-me mais pela cultura de Cabo Verde, daí os meus abraços para essa postagem.
ResponderEliminarSobre a poesia de Jorge Barbosa, um de seus poemas faz comparação de Cabo Verde com o Brasil, falando de suas pequenas ilhas e da dimensão do Brasil, dos poetas brasileiros, como Jorge de Lima, Manuel Bandeira de nossas principais cidades, tudo em comparação com Cabo Verde.
Um ótimo final de semana.
Um fraterno abraço.
Caro Pedro
EliminarGrata por nos ter trazido referências à Literatura cabo-verdiana na pessoa de Jorge Barbosa, autor que muito aprecio bem como à sua obra.
Fiquei a conhecer esse poema de Jorge Barbosa através de "Canto da Boca", Blogger. Adorei a comparação que ele faz de Cabo Verde e Brasil, nas suas devidas proporções.
Manuel Bandeira foi, realmente, de grande influência para a geração "Claridosa", a que pertencia Jorge Barbosa.
Muito obrigada.
Abraço
Olinda
mais uma postagem que me ensinou muito, Olinda! e que também encheu os olhos de beleza, pela imagem, que é linda, e pelas palavras. um abraço!
ResponderEliminarCaro Ulisses
EliminarGrata pelas suas belas palavras e por ter
apreciado os elementos constantes deste post.
Bom fim de semana.
Abraço
Olinda
Querida Olinda,
ResponderEliminarVenho aqui, desejar-lhe um feliz fim de semana e dar-lhe um grande e grato beijinho, pelas palavras lindas e carinhosas que deixou no meu blogue.
Estes afectos recíprocos, são para mim muito preciosos.
Bem-haja, minha amiga!
Querida Fê
EliminarMuito obrigada pela sua vinda, trazendo-me tão belas palavras.
Desejo-lhe um excelente fim de semana, com muita saúde.
Beijinhos.
Olinda
A Lenda tem coração
ResponderEliminarQue voga ao longo do Mar.
Cabo Verde é emoção
Que a Alma irá desvendar.
Beijo
SOL da Esteva
Linda essa quadra, Sol da Esteva,
ResponderEliminarcom sabor popular. :)
Obrigada.
Abraço
Olinda