domingo, 19 de abril de 2020

Liberdade





Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
Sol doira
Sem literatura
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como o tempo não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto é melhor, quanto há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,

Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

Mais que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...

Fernando Pessoa

  (1888-1935)


Meus amigos

Convido-os a ler e a interpretar este poema de conformidade  com a vossa disposição. Um pequeno exercício para testar este conceito de liberdade.

Mas, adivinho aqui um "quero lá saber" do Poeta, jogando com algumas ideias feitas, valorizando outras. Será? Não façam caso.

De vez em quando deixamo-nos envolver por um certo nihilismo. Permitamo-lo apenas por momentos. Como bem sabemos, dos fracos não reza a história.





Bom domingo.

Abraços.


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Poema - Citador
Imagem : aqui

24 comentários:

  1. Bom dia. Muito bom O poema. Vou ver o video!
    -
    Mundo ao contrário ...
    -
    Beijos e um excelente Domingo

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  2. Penso que já se chegou a um limite em que qualquer leitura, ou "peça" para estudar, ou filme para ver, ou poema para interpretar, se tornou numa canseira para o espírito e para a mente.

    Estar confinado a quatro paredes, quando por regras impostas, não é fácil de suportar. Tudo começa com um sorriso, mas ao fim de uns dias, semanas, meses, esse sorriso é mais amarelo que a cor... amarela.

    Mas claro. Um poema de Fernando Pessoa é sempre para uma leitura obrigatória
    .
    Um domingo feliz

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    1. Pronto, Rik@rdo. E fê-lo.:)
      Com a sua disposição de espírito.
      A mais não se é "obrigado", não é verdade ?
      Abraço

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    2. Olinda Melo

      Tão verdade... como ser verdade

      Retribuo o abraço

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  3. Olá, Olinda!

    Graças a ti e ao grande Fernando Pessoa iniciei o meu Domingo lendo, em voz alta, aceitando a tua sugestão, este excelente poema (Liberdade) do Mestre. Resta-me, pois, agradecer-te para valiosa partilha, querida amiga.

    Votos de um bom domingo com saúde e paz. Cuida-te, Olinda, que o vírus ainda está entre nós.

    Beijo.

    Pedro

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  4. Querida Olinda, tenho vindo cá todos os dias, mas não tenho deixado uma palavra sequer. Este poema é lindissimo, não conhecia, mas reflete com perfeição aquilo que todos nós, vez ou outra sentimos e eu não fujo à regra. Hoje, quando me levantei, fui à varanda do meu apartamento e ao ver um dia tão bonito, cheio de sol, apeteceu-me largar tudo e ir para o jardim em frente ao prédio onde moro, caminhar pelos vários canteiros e parar em cada um, admirando as lindas flores que têm; fiquei uns momentos lá, olhando e refletinho e o que senti foi precisamente o que Fernando Pessoa quis manifestar neste poema. Quando esta quarentena começou prometi a mim mesma fazer determinadas coisas aqui em casa, ler alguns dos livros que tenho em cima da mesa à espera que pegue neles e, comecei muito bem, Amiga, mas e agora? Especialmente hoje, acordei com a sensação de que nada disto interessa; para quê os livros? Para quê o estudo ? Para quê tanta formação e informação? Tudo acaba tão depressa...somos tão pequeninos perante determinados acontecimentos, como ê o caso deste virus que seria muito melhor encher a nossa alma com a beleza das flores, com a poesia que se vê num riacho que corre suavemente, nos passarinhos que agora começam a chilrear, nas árvores que se enchem com as primeiras flores. Tenho-me sentido assim, querida Olinda e, quando acabei de ler o poema, sorri para mim mesma, espantada com a coincidência. Não sei se foi propositado, mas, escolheste um tema que exprime o que muitos estão sentindo neste periodo de isolamento e de grande preocupação. Acredito que noutras alturas também sintamos este " quero lá saber ", pois o desânimo atinge-nos muitas vezes, mas, sabemos que não pode ser assim. O mundo não esta3 estruturadao para um comportamento destes e portanto há que " remar contra a maré ", levantar a cabeça e pensar que os desânimos são normais, mas passam. Tudo passa, Amiga e, sabes o que vou fazer agora? Deixar a varanda e terminar o almoço. Tem que ser! Espero que continuem todos bem aí em casa e obrigada pelo poema que me deste a conhecer. Um abraço do tamanho do mundo, carregadinho de amizade
    Emilia

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  5. não me revejo neste conceito "pessoano" de liberdade.
    que alguns considerarão, porventura, uma das suas lamentáveis "erupções" reaccionárias

    a Liberdade, com sua "irmã siamesa" - a Igualdade - é, desde Rousseau e a Revolução Francesa, liberdade social, que compromete e responsabiliza e não capricho de criança ou fisgada para a janela da vizinha.

    mas sejamos generosos! se os próprios deuses se "descuidam",
    como não perdoar ao poeta o descuido, a subir o Chiado, trocando as pernas (e as letras rss) depois de umas aguardentes a mais?...

    votos excelente saúde!
    abraço


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    1. Caro Manuel Veiga

      Nada mais reconfortante do que esse mergulho pelos ideais da Revolução Francesa, caminho tão bem preparado por iluministas como o citado. Mas há uma coisa de que não me esqueço. Trata-se do sofrimento causado durante esse processo, que ficou conhecido como "O Terror". Mas o que interessa é que os ideais ficaram e ainda bem. Poderemos fazê-los nossos sempre que quisermos. E, talvez, a Fraternidade não devesse ser esquecida .

      Fraquezas e fragilidades? Todos estamos sujeitos. Até os "deuses", como bem o reconhece. Mesmo quando se é Grande, a própria condição humana, intrínseca a cada um de nós, vem buscar a parte que lhe pertence .

      Saúde, meu amigo.
      Abraço

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    2. o que aí vai, amiga Olinda! ainda vou parar ao cadafalso...

      ou à fogueiras da Santa Inquisição, sei lá...
      esbirros, ou candidatos a tal, não lhe faltam!...
      uns valentões!

      abraço

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    3. Sempre brincalhão o meu amigo. :)

      Mais vale assim.

      Mas abre espaço para falarmos também da chamada "Santa Inquisição". Mas não. Ficará para um próximo post, se quiser abrilhantar este Xaile com os seus sempre interessantes comentários .

      Mas reparei que não publicou o meu comentário de ontem ...

      Assim não vale.

      Passe bem.

      Abraço

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    4. Peço desculpa pela quantidade anormal de adversativas que enferma este meu pequeno texto :)

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    5. por gentileza, minha amiga
      nem ontem nem hoje tiver o privilégio de receber
      qualquer comentário seu...

      se quiser ter o incómodo de enviar novamente
      fico muito grato. porque não publicaria, ora essa!

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    6. "tive o privilégio" em lugar de "tiver..."
      abraço

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  6. Este poema de Fernando Pessoa sobre a Liberdade é aquele poema que tantas vezes dissemos de cor como se fosse nosso…
    Uma boa semana, com muita saúde, minha Amiga Olinda.
    Um beijo.

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  7. Oi, Olinda. É um dos poemas que mais gosto do Pessoa, de vez em quando ele me vem à mente, inclusive dias atrás até havia pensado em postar em meu blog, eu realmente gosto muito do poema. E interessante ver por aqui, em teu espaço, uma música da cantora brasileira Priscilla, minha irmã é que gosta de algumas músicas da cantora. Espero que tu estejas bem, um beijo.

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  8. Não basta contemplar
    Não há vírus que protejam os desvalidos
    Abraço

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  9. A imortalidade é ganha na sua escrita tão atual agora quanto antes.

    Indicações com valor e seguidas, numa segunda leitura do poema. A cultura, fica e com ela, tudo o que de belo acarreta.

    Abraço e boa semana

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  10. Olinda, minha querida, embora eu não pense como o poeta nesse seu pensamento de liberdade, mesmo assim a respeito porque é 'seu direito', e discordo porque é o 'meu direito', defendo a 'minha' liberdade de pensamento, e não de outros.
    Entendo que o poeta em sua liberdade pensasse assim por uns momentos ou que fosse por grande espaço de tempo, o que não me parece. Liberdade é isso, eu vivo a minha, esteja em quarentena ou outra coisa qualquer, o meu pensamento não mudaria, manteria cada coisa em sua hora se possível fosse. E se tiver disponibilidade.
    Na vida as coisas supérfluas podem ser descartáveis, mas para uns o descartável é uma coisa, para outros é outra. Assim é a humanidade.
    Mas esse seu pensamento não invalida seus grandes poemas.
    Beijo, uma boa semana, cuide-se!

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    1. corrigindo: mesmo assim 'o' respeito porque é seu direito...(respeito o direito do poeta)
      Beijinho, Olinda!

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  11. Boa tarde de saúde, querida amiga Olinda!
    Um poema no estilo que gosto, livre, leve e solto e nem por isso leviano, certamente.
    Estou como ele diz em seus versos tão expressivos
    Pudera eu expressar por aqui com que leveza estou a ler seu post, minha amiga.
    Encontrei tanta coisa bem ao modo do meu ânimo do momento:crianças, rio, brisa, flor, música, livros... Luar, sol e Jesus. Ah! Tanto e tanto que podemos desfrutar com liberdade de não nos escravizar nem enfadar.
    Obrigada pelo post tão leve apesar do gabarito de Pessoa e seu que o organizou.
    Tenha dias abençoados!
    Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem

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  12. "Grande é a poesia, a bondade e as danças...
    Mas o melhor do mundo são as crianças,"

    Este sei de cor e gosto.

    Beijinhos, querida Olinda.

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  13. Bom dia Olinda,

    Embora não seja eu uma seguidora do seu blog,cá estou a ler Pessoa,e peço desculpas pela invasão à sua preciosa página.
    O poema e grandioso na essência,porém nosso Deus e superior a qualquer poeta, e as crianças são a alegria da vida elas não se cansam de nada, então vamos s ui portando esse confinamento como se crianças fossemos.
    Eu penso que confinamento e insatisfação não seja uma boa pedida.

    Abraço de paz, deixo-vos.

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  14. Caríssimos:

    Muito obrigada pela vossa presença, aqui, na leitura deste Poema de Fernando Pessoa, "Liberdade". Sabemos que não se trata de um conceito de Liberdade pela qual se lutou e continuamos a lutar.

    Apenas um pequeno exercício de interpretação para nos mantermos alerta sobre o que mais importa na nossa vida em família e num aspecto mais alargado, a Sociedade.

    Quero crer que assim o entenderam e "perdoaram" a Pessoa a sua liberdade poética, inscrita nesta Poesia de estilo "Cancioneiro" e como tal com características próprias.

    Votos de muita saúde.

    Abraços.

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