segunda-feira, 24 de maio de 2021

Não Posso Adiar o Amor

Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas

Não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes
amor e ódio

Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação

Não posso adiar o coração

António Ramos Rosa,
in: Viagem Através de 
uma Nebulosa






A atitude crítica que permanentemente exercitou sobre a sua própria palavra como sobre a palavra alheia faz de A.R.R. um dos mais esclarecidos críticos portugueses contemporâneos (...)enquanto poeta faz da ignorância e da radical suspensão de todos os saberes e hábitos adquiridos o único método para a eclosão da sua palavra poética. Na verdade, a procura da palavra justa para dizer as «coisas nuas» e a reflexão sobre a realidade e a possibilidade dessa palavra é, talvez, o único tema desta poesia, na qual é, no entanto, possível assinalar diferentes fases: recortando-se duma problemática neo-realista de solidariedade para com o destino dos homens e do mundo, O Grito Claro (1958) e Viagem Através de Uma Nebulosa (1960) utilizam uma linguagem e uma vivência ainda devedoras dessa estética, combinadas com uma imagética herdada do surrealismo. Mais aqui








Boa semana, meus amigos.

Abraços.


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Poema - Citador
Imagem: daqui

21 comentários:

  1. Olá, amiga Olinda, gostei muito de ler esse poema de António Ramos Rosa, que, felizmente, pude conhecer por seu intermédio.
    Obrigado pela partilha!
    Uma ótima semana com os cuidados com a saúde.
    Grande abraço.

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  2. Olá, querida amiga Olinda!
    Temos adiado o Amor... Ou melhor, temos esperado para manifestação sensível do Amor a alguns que amamos. Por esta razão necessária, estamos sufocando o sentimento que em nós habita e não pode ser ignorado.
    Não, não podemos adiar abraços, Amor e coração em hipótese alguma. Estamos indo na contramão da nossa natureza, amiga.
    Um poema forte como deve ser a característica do autor que você me apresentou (que me lembre).
    Tenha uma nova semana abençoada!
    Beijinhos carinhosos e fraternos

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  3. Querida Olinda, que belo poema escolhestes! Gosto muito de frases que se repetem no poema, dá muita força: "Não posso adiar..."
    Também não conhecia o poeta António Ramos Rosa - aplausos!
    Bela postagem, amiga.
    Uma feliz semana pra você,
    beijinho.


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  4. Uma excelente escolha, amiga Olinda. Adorei o poema.
    Abraço, saúde e uma boa semana

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  5. Poema lindíssimo que me fascinou ler. Gosto muito de ouvir Nininho Vaz Maia. Existem males que vêm por bem. Assim aconteceu com o Nininho.
    .
    Cumprimentos poéticos
    .
    Pensamentos e Devaneios Poéticos
    .

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  6. António Ramos Rosa é um poeta de excelência.
    Infelizmente andamos com muitos abraços adiados!

    Abraço

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  7. Que linda poesia compartilhada,Olinda! Gostei muito! Que tua semana seja bem linda também! beijos, chica

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  8. António Ramos Rosa. O poeta fantástico que eu adoro ler e que tanto me inspirou. Este poema é para sabermos de cor e não esquecermos as palavras que nele são ditas. Como adiar os abraços que o coração reclama?
    Cuide-se bem, minha Amiga Olinda.
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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  9. Não se pode mesmo adiar o amor.
    Um poema lindo de um poeta que muito aprecio.
    Boa semana
    Beijinhos

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  10. Uma publicação belíssima! Adorei a musica! 🌹
    -
    Se o mundo rodasse numa esfera colorida
    -
    Beijo e uma excelente semana...

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  11. Há adiamentos impossíveis.
    Excelente poema de António Ramos Rosa. Vem sempre a propósito.

    Não adio, deixo o abraço, querida amiga Olinda.

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  12. Este poema de A. Ramos Rosa traduz e essência da vida!
    Na verdade, não se pode adiar o amor, o abraço, o grito libertador, o coração, a vida! SUBLIME!...
    Ramos Rosa, um poeta único no seu estilo no seu registo sempre libertador!

    Um abraço!

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  13. Querida Olinda, eu creio que nós, seres humanos, não adiamos o amor, não adiamos a amizade, quando esses sentimentos são verdadeiros e fortes; eles estão dentro de nós e aí ficam para sempre, mesmo que as pessoas a quem dedicamos esses sentimentos, já não estejam entre nós. O que nós fazemos, Amiga, é " adiar" as manifestações desse amor, desse afecto pelos Amigos; demoramos tanto a mostrar aos outros o quanto são importantes para nós, adiamos vezes sem conta aquela visita a um amigo que está doente, a um parente idoso que há anos está acamado, a outros que, não sendo de familia, também sentem a nossa falta; vamos adiando, adiando, até que chega a triste noticia e aí...vem aquele remorso....
    A pandemia tem-nos obrigado a adiar os abraços, os beijos, os afagos e até as visitas, mas, o que faziamos antes dela? Adiavamos tudo, com a desculpa de falta de tempo e parece-me que, quando esta " cruz " desaparecer, os adiamentos vão continuar. Sinceramente, Olinda, com todo este confinamento, tenho medo de me habituar a esta distância obrigatória e perder essa vontade tão natural de abraçar as pessoas.
    É muito tempo já e o que continuamos a ver é a distância entre as pessoas, por enquanto necessária, que não se cumprimentam e mal se ouvem por causa da máscara Uma situação triste que vai terminar, mas, espero, sinceramente que não acabe de vez com a nossa capacidade de mostrar aos outros o amor que lhes dedicamos. Um poema muito bonito, Olinda que nos deve levar a pensar que o essencial não pode ser adiado
    Um beijinho e obrigada pelo belo momento. Um bom fim de semana, com SAÚDE para todos.
    Emilia

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  14. O amor é lindo. Amar é sublime. Que em todas as "batalhas" vença o AMOR.
    .
    Um domingo feliz … abraço
    .
    Pensamentos e Devaneios Poéticos
    .

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  15. Boa tarde, amiga Olinda.
    Admiro a poesia de António Ramos Rosa, este seu poema é um apelo, um grito que não devemos esquecer.
    Vou finalizar acrescentando, se me permite, uma pequeno texto dele, para mim, a mais bela definição de amor:

    "O amor cerra os olhos, não para ver mas para absorver: a obscura transparência, a espessura das sombras ligeiras, a ondulação ardente: a alegria. Um cavalo corre na lenta velocidade das artérias. O amor conhece-se sobre a terra coroada: animal das águas, animal do fogo, animal do ar: a matéria é só uma, terrestre e divina. "

    Um beijinho, feliz semana !

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  16. A vida é inadiável, até porque a grande ceifadora é implacável e está sempre à espreita.
    O poema reflete, também, uma evidente duplicidade, intrínseca a todo o ser humano.
    Abraço amigo.
    Juvenal Nunes

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  17. A passar por cá, hoje, para desejar uma ótima semana!

    Isabel Sá  
    Brilhos da Moda

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