terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

E, longe de ti, o tempo era tempo,...





CISNE

Amei-te? Sim. Doidamente! 
Amei-te com esse amor 
Que traz vida e foi doente... 

À beira de ti, as horas 
Não eram horas: paravam. 
E, longe de ti, o tempo 
Era tempo, infelizmente... 

Ai! esse amor que traz vida, 
Cor, saúde... e foi doente! 

Porém, voltavas e, então, 
Os cardos davam camélias, 
Os alecrins, açucenas, 
As aves, brancos lilases, 
E as ruas, todas morenas, 
Eram tapetes de flores 
Onde havia musgo, apenas... 

E, enquanto subia a Lua, 
Nas asas do vento brando, 
O meu sangue ia passando 
Da minha mão para a tua! 

Por que te amei? 
                           — Ninguém sabe 
A causa daquele amor 
Que traz vida e foi doente. 

Talvez viesse da terra, 
Quando a terra lembra a carne. 
Talvez viesse da carne 
Quando a carne lembra a alma! 
Talvez viesse da noite 
Quando a noite lembra o dia. 

— Talvez viesse de mim. 
E da minha poesia...


Pedro Homem de Mello
In: Adeus



Sim, acontece não poucas vezes: Amor doente que poderá conduzir a situações de grande sofrimento. Um amor obsessivo que o autor, com o seu talento, tão bem descreve. 




Poeta lírico e autor de uma vasta obra, Pedro da Cunha Pimental Homem de Mello nasceu na cidade do Porto em 1904. Formou-se em Direito pela Universidade de Lisboa.Foi subdelegado do procurador da República, dedicou-se ao ensino, tendo sido director da Escola Comercial Mouzinho da Silveira.Pedro Homem de Mello foi também jornalis ta e estudioso das tradições populares e do folclore nacional, sobretudo do Norte, que durante anos divulgou num programa da RTP.Destaque também para a sua colaboração no movimento da revista literária “Presença”, fundada em Coimbra, em 1927.

Pedro Homem de Mello desenvolveu uma extensa obra poética, com a publicação de mais de 30 títulos e que vão desde a década de 30 até à década de 70. Ainda que seja um autor pouco divulgado, Pedro Homem de Mello assume o seu lugar no panorama cultural nacional.




Reveladores dessa dimensão são os prémios que recebeu: Prémio Antero de Quental (1939), Prémio Ocidente (1964), e o Prémio Nacional de Poesia em 1972.

Amália Rodrigues imortalizou algumas das suas palavras, particularmente os títulos “Povo que lavas no rio”, “O rapaz da camisola verde”, “Havemos de ir a Viana” e “Fria Claridade”, hoje temas incontornáveis no Fado.

Faleceu em 1984. Retirado de aqui


FRIA CLARIDADE




Quinzena do Amor
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Poema: Citador
1ª imagem: aqui
2ª imagem:

2 comentários:

  1. Estes amores obsessivos fazem-me medo.
    Gostei de ouvir a Amália.
    Um abraço

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  2. grande poeta, nem sempre considerado.
    gostei de ler aqui, Olinda

    um abraço

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