Fevereiro soalheiro. Faz-me lembrar um outro, por oposição a este:
Chovia a potes. Não fazíamos ideia donde vinha tanta água, tanta trovoada. Elas ribombavam de tal modo que sentíamos a trepidação dentro do nosso próprio corpo. Escureceu, estava um nevoeiro inconcebível que só deixava adivinhar e mal as poderosas e altíssimas rochas do Tabuleirinho. Os relâmpagos cruzavam os céus sem cerimónia. Diz-se que eles vêm antes dos trovões mas nós, dentro da casa quase suspensa, não tínhamos noção da ordem das coisas. Sabíamos que lá em baixo, no vale, era a casa e a propriedade da nossa tia e que corríamos o risco de ir lá parar e da pior maneira. Por isso, só podíamos gritar por Santa Bárbara, a padroeira dessas horas de aflição. António, o meu irmão mais velho, pouco dado a essas crenças fez um riso de escárnio. Nisto, ouve-se um barulho que não augurava nada de bom. E percebemos do que se tratava: um pouco acima ficava uma grande ladeira e aquilo era uma quebrada, isto é, pedregulhos, pedras e pedrinhas, terra e lama, troncos e ramos de árvores vinham por aí abaixo em nossa direcção numa velocidade louca. E o António, no auge do desespero, espavorido, gritou: Agueeeenta, Santa Bárbara!
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Imagem: daqui
Que horror, fez-me lembrar aquela tragédia, já não me lembro se na Madeira ou nos Açores!
ResponderEliminarBeijinhos e esperemos que chova bem para a semana!
Trouxe - me a recordação das trovoadas de maio com os relâmpagos a cruzarem céus cinzentos , caindo pelas árvores que ficavam queimadas
ResponderEliminarHoje , o tempo resolveu mudar a rota
Um beijo , Olinda
Era sempre à Sta Bárbara que recorriamos quando trovoava; havia na minha aldeia um costume que com certeza não era caracteristico só de lá; os ramos de oliveira que levavamos à missa no dia de ramos eram cuidadosamente guardados pelas mães junto das lareiras e quando trovoava, lá ia um pedacinho para o fogo ao mesmo tempo que se rezava a Sta. Bárbara. Não sei se essa tradição se mantém, mas é natural que sim. Nunca tive medo de trovões, mas a maioria das crianças tinha, porque era costume dizer-se que a trovoada era Jesua a ralhar pelas asneiras que faziamos. Enfim...eu tinha mais medo das palmadas da minha mãe do que dos " raspanetes " de Jesus. Gostei da tua história , Olinda! Espero que estejas bem assim como todos os teus. Por aqui tudo está a correr normalmente. Beijinhos, amiga!
ResponderEliminarEmilia
Cada vez que chovia mais forte e a trovoada vinha, minha mãe rezava uma ladainha a Santa Bárbara. E tinha sempre um ramo benzido no Domingo de Ramos em casa para nos proteger.
ResponderEliminarAbraço
Santa Bárbara bendita
ResponderEliminarque no céu estais escrita
com um raminho de água benta
livrai-nos desta tormenta.
Acordavam-me, em criança, com esta oração. Eu sentia-me protegida no colo da minha avó e nos cobertores de lã. Olinda, lembro-me de amor.
Grata por me trazer à memória pedacinhos da minha história.
Beijinho.
Ora bem!
ResponderEliminare quem não se socorre de Santa Bárbara quando troveja?
beijo