domingo, 3 de dezembro de 2017

Banquete de amor



Ao contrário dos outros quadros, que pareciam ter levado com lama e borra de café, este, este banquete de amor, consistia na cor. Uma mesa iluminada pelo sol - sobre a qual tinham sido colocados pratos, chávenas e copos - parecia transbordar de luz. A mesa e o banquete tinham sido colocados no plano mais próximo e, de todos os lados, o fundo parecia relegado para uma espécie de escuridão visível. O olhar regressou à mesa. Nos copos havia, não vinho, mas luz, e as bandejas tinham pratos de tons extremamente coloridos, como se o convidado tivesse trazido para aquele banquete um apetite, não de comida, mas do espectro inteiro de cor, iluminado por candeeiros de arcos celestiais. A comida não tinha forma. A comida não tinha forma. Tinha apenas cor, pastéis ardentes, clarinhos mas intensos. Uma magia de visionário fluía de uma ponta à outra da mesa, todos os pratos tendo sido transformados em abstracções de formas demasiado brilhantes, como se uma pessoa tivesse saído de um cinema e deparado com uma radiosa tarde de Verão no coração da cidade, onde todos os objectos estavam carregados de luz que os olhos não conseguiam processá-los. O quadro era como um flash, uma arte que cegava como uma catarata. Aquela comida disposta diante de nós era exactamente assim. Depois, reparei que a parte da frente da mesa parecia inclinada na direcção do observador, como se toda aquela luz, e estava prestes a tornar-se nosso.
In: Banquete de amor, Charles Baxter, página 79.


Excerto do livro que estou a ler e que se intitula Banquete de amor, como referido acima. Trata-se de um livro de histórias de amor mas, o mais interessante, é que tem um fio condutor: o personagem principal, Bradley, que, nas horas vagas se dedica à pintura. Foi ele que sugeriu ao narrador, escritor na trama e na vida real, a feitura do livro. Pelo tom algo coloquial dos contos não contava encontrar texto tão belo, uma prosa poética tão elevada. Também Bradley está a revelar-se muito interessante. O livro tem 267 páginas e ainda vou na 79. Talvez ainda me depare com mais surpresas agradáveis.

Pelo que leio na contracapa, o Banquete do amor é um verdadeiro festim, uma sumptuosa iguaria de literatura que reflecte sempre aquilo que mais nos delicia e atormenta, referindo entre outras considerações que esta deliciosa narrativa reflecte sobre histórias de amores extraordinários entre pessoas comuns.

Tenham um bom domingo e façam o favor de ser felizes, como dizia o saudoso Raúl Solnado.

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Obra referenciada: Banquete de amor, de Charles Baxter, Ed. Bico da Pena - 1ª edição, 2007.

1ª imagem:Link adress
2ª imagem: Link adress

7 comentários:

  1. Parece ser muito interessante.
    Abraço e bom Domingo

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  2. Querida Olinda
    Fiquei a degustar este excerto e já curiosa para conhecer todo o enredo pois me parece magnífico
    Beijos e uma feliz nova semana

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  3. Vou aproveitar a dica porque gosto destes livros com uma estética de excelente gosto. Obrigada, Olinda.
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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  4. gostei muito do texto. abriu o apetite...
    vou procurar adquirir o livro

    beijo

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  5. Querida Olinda
    Gostei imenso do trecho que nos apresentas.
    Não conheço o autor; está na altura de o procurar na livraria; parece-me um bom presente de Natal para a minha filhota - para depois eu ler :)))))))))

    Votos de uma boa semana.
    Beijinhos
    MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS

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  6. Gostei desta comparação , o amor e a mesa, os pratos, os copos, as pessoas à volta em delicioso convivio. Hoje, infelizmente há outros pormenores que interferem nesse banquete e o diálogo é substituido pelos olhares fixos na televisão, nos telemóveis ou tablets. Perdeu-se essa grande prova de amor que eram os jantares em familia com conversas misturadas a gargalhadas e , se ainda os há, o mutismo impera e a comida arrefece nos pratos; entre uma garfada e outra se tecla nos aparelhinhos como se estes fossem o prato principal do festim. E assim os " amores extraordinários entre pessoas comuns " vão perdendo aquela luz que iluminava o coração e fazia com que o amor se espalhasse por todos. Amor, amizade , afectos, não precisam de forma, mas precisam muito de ser regados com o melhor vinho que tivermos na adega e servidos nos pratos de porcelana fina, os melhores que pudermos por sobre a mesa. Lindo este pedaço do livro que escolheste para partilhares connosco. Gostei
    muito, Olinda! Obrigada. Beijinhos e desejo-te uma boa semana
    Emilia

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  7. Deve ser muito i nteressante.

    Há pouco li um do género, mas sobre música : um romance justamente premiado com o Goncourt.

    Boa semana , minha amiga, beijinho

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