segunda-feira, 24 de julho de 2017

A Princesa Perfeitíssima e as Misericórdias (ii)

Os historiadores atribuíram o título de Princesa Perfeitíssima a Leonor de Avis ou de Lencastre, inspirados no cognome de Príncipe Perfeito por que ficou conhecido D. João II, mas também pelas suas excelentes qualidades, reveladas, nomeadamente, nas áreas social e cultural.

Prometi, no post anterior, avançar um pouco mais neste tema e eis-me aqui a fazê-lo.

Ao abrir a obra "As Misericórdias", de Costa Goodolphim, de 1897, fac-similada, deparo-me com um prólogo dedicado à Caridade, que o autor pretende apresentar como sendo a força motriz da alma portuguesa. Um panegírico aos Reis, Rainhas e povo, excelsos na sua forma de praticar essa instituição. Vejamos algumas frases soltas da sua exposição, a qual começa com uma citação de Garrett, (penso que se tratará do nosso Almeida Garrett):

Em nenhum paiz da terra ha instituição philantropica superior ou igual. Garrett


Continuando com o prólogo:

As paginas d'este livro são tributo ao mais formoso sentimento do coração humano.

O que é a caridade?

A caridade não é só a esmola que se atira para o seio do desgraçado, quando nas praças e nas ruas nos dirige as suas supplicas.

A caridade tem como missão suprema dar conforto sem vexame, erguer os miseros sem orgulho, tratar o servo como amigo, o operario como irmão, porque todos são filhos do mesmo ramo.

Ao lado do povo, que com a sua grande alma vae com o seu obulo e o seu trabalho erguer e sustentar instituições sympáticas, no seu ideal perfeitamente humano, vimos as rainha e os reis portuguezes levantarem monumentos de caridade, páginas formosas d'esta virtude.

A alma portugueza é a mais compassiva e a mais alevantada no exercicio de piedosa romaria em busca dos afflictos.

Povo que tem alma tão grande e tão alevantada, como sempre aberto á dor alheia, como se propria fosse, esse povo é grande e tem o primeiro logar na historia da humanidade.

A seguir, comecei a ler o primeiro capítulo que é dedicado à Misericórdia de Lisboa cuja fundação, como vimos no primeiro post, é atribuída à Rainha Dona Leonor. Para o meu espanto, Costa Goodolphim põe a tónica em Frei Miguel de Contreiras, e coloca esta questão: 

Como se fundou a Misericórdia de Lisboa?

Tendo como fonte a Chronica da Santissima Trindade, o autor traça o perfil caritativo de Frei Miguel Contreiras, orador popular,  "pae dos pobres", que, vendo o desamparo em que se achavam muitos enfermos pelos adros das igrejas e arcos do Rocio, intentou fazer um hospital para os recolher e tratar, tendo sido ele o instituidor da irmandade da Misericórdia de Lisboa. Seguindo esta linha, ele foi a alma, a cabeça pensante, embora tivesse contado com companheiros cujos nomes são indicados no livro. Confessor da Rainha, pediu-lhe o seu apoio.

Mas, espantemo-mos de novo:

Aqui, o jornal i * diz que a história de Frei Miguel Contreiras é uma história mal contada, que o frade espanhol pode nunca ter existido e que não passará de uma fraude histórica.

E esta, hein?!!!

Voltarei.

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Obra citada: "As Misericórdias", de Costa Goodolphim.
Em bold - Excertos do Prólogo, pags: entre 5 e 13
De referir que o autor procura fazer uma análise
histórica através de outros documentos.

* A história do frade que é fraude

12 comentários:

  1. Olinda, é tão bom estudar a nossa História! Tenho, por exemplo, em espera, ali um livro sobre Isabel de Aragão.
    Beijinhos

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  2. Minha amiga obrigado por esta cultural partilha.
    Beijinhos
    Maria de
    Divagar Sobre Tudo um Pouco

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  3. Querida Olinda
    Que maravilha de postagem!!!
    Sabes? eu sou apaixonada por História, particularmente História de Portugal (isto já vem dos meus tempos de estudante...)
    Tudo que seja histórico - romances, filmes, documentários, palestras... apaixona-me!
    Por isso adorei esta postagem.

    Achei engraçada a "pergunta" que fazes no comentário no meu blog:
    "Por que será que a menina vivia dentro da concha e só cantava quando havia luar?"
    Porque o génio que tinha habitado a cabana, ciumento, lhe tinha lançado um feitiço - que ninguém a visse além dele. Como ele já tinha partido... a menina só podia escapulir-se à noite... :))))))))))
    Mas tudo isto era demasiado extenso para pôr num poema... rsrsrss - não achas?


    "Ver-nos-emos" em Setembro.
    Até lá desejo-te dias muito felizes.

    Votos de uma semana muito feliz.
    Beijinhos
    MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS


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  4. Estive a ler o que escreveu sobre Dona Leonor de Lencastre. É realmente uma figura fascinante e cheia de humanidade. Obrigada por toda esta informação partilhada.
    Uma boa semana. Um beijo.

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  5. Dois magníficos posts sobre as Misericórdias e Leonor Lencastre.
    Não sabia alguns pormenores, obrigado pela partilha.
    Olinda, um bom fim de semana.
    Beijo.

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  6. E cá estou eu para " aprender " muito sobre as misericórdias, pois desconhecia quase tudo o que aqui expões. Adorei saber o que pensavam sobre a caridade e concordo plenamente com esses conceitos; infelizmente, não é assim que ela se pratica. Quanto ao frei Miguel, é natural que apareçam todas essas dúvidas, pois todos querem ficar com os " louros " Acontecem muitos casos desses na história. Obrigada, querida amiga, pelas informações dadas sobre este assunto, para mim já tão esquecido. Um bom fim de semana. Beijinhos
    Emilia

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  7. Também cá venho aprender! Tenho verdadeiro fascínio por essas identidades dúbias ou falsas. Dediquei quase cinco anos da minha vida ao período a que costumamos chamar de Barroco, por causa deste fenómeno de autores/autoras...

    Beijinhos e aguardo o próximo «post»!

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  8. A Caridade é... Amor. Singelíssimo, belo, precioso o teu "desvendar" História com afectos.



    Beijo
    SOL

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  9. E uma história muito interessante...
    Atualmente, quando alguém está em dificuldades,
    recebe uns subsídios irrisórios...
    Vou acompanhar.
    Beijinho
    ~~~~

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  10. Gosto muito de ler sobre as histórias dos reis e rainhas
    Abraço

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  11. Olinda passei para desejar uma boa semana
    Beijinhos
    Maria de
    Divagar Sobre Tudo um Pouco

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  12. Já tinha lido mas, com as férias, festas da cidade e familiares em casa, adiei o comentário.
    Gostei imenso desta partilha, sobretudo pelos dados históricos que não conhecia. Muito interessante o prólogo e o pensamento de que está imbuído. Sempre gostei muito de história (graças a uma professora que tive) e é sempre fascinante a pesquisa documental, confrontando fontes para se tentar apurar a verdade histórica. Que, bem sabemos, depende de tantos fatores... Ocorreu-me, mesmo agora, que é, talvez, a primeira endoutrinação formal.
    Bjinho, Olinda

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