Ao ler estes versos, senti que estava de novo perto do tempo dos Cancioneiros, dos Rimances, de uma poesia popular, atravessada aqui e ali por ecos de Florbela Espanca.
Nestes versos a sua autora - professora de Yoga - não projecta imagens da sua impassibilidade búdica, pois neles floresce e por vezes explode, um intenso hino à vida, às suas alegrias, tristezas e contradições.
Mapa emocional da vida da autora, estes versos são uma oferenda que ela generosamente fez de si e todos os que a lerem. E por isso merece o meu carinho.
Ana Hatherly - Novembro de 1997
Devaneios
Sonhei que possuía o mundo inteiro
num deslumbre de puras fantasias.
No pálido momento, o derradeiro,
reparo finalmente as mãos vazias.
Vivi do sentimento, na pureza
dum ideal sem par, todo brancura.
Revejo agora, sem ódio, com tristeza,
que tudo o que sonhei foi só loucura.
Relembro devaneios, rimas caídas
arrancadas para a rua
do livro que escrevi um dia.
Sofro, canto e choro amargamente.
Mas a dor indiferente
continua...
Maria do Carmo Santa-Rita
In: Os meus versos, pg. 73
Recebi este livro das mãos da autora, há já algum tempo. Hoje, dia em que se comemora a Poesia e tudo aquilo que ela nos traz de bom, permitindo-nos sonhar e expressar sentimentos, resolvi trazê-la ao nosso convívio.
Desejo-vos um excelente dia.
Abraço.