-Olha, tenho uma coisa para te contar.
-Ai é? Então, conta lá!
-Hoje, ia a passar pela Biblioteca e resolvi entrar. Virei a esquina e encaminhei-me para o jardim que a circunda. Então, o que eu vejo? Uma senhora, de cabelos branquinhos, a puxar um carrinho de compras. Acho que não estava cheio nem pesado. Era antes uma forma de transportar as suas coisas. Tudo normal até aqui. Bem, um pouco antes de passar por ela, vi que ela se pôs-se a olhar para o chão, assim um pouco curvada. Passei, olhei e avancei. Depois doeu-me o coração, olhei para trás. Vejo que ela está ainda mais curvada, como quem anda à procura de lentes de contacto porque eu não via ali nada, à vista desarmada. Aproximei-me e perguntei-lhe, por descargo de consciência:
-Precisa de ajuda?
-Ó filha, caiu-me o arame...
Não percebi logo:
-O arame?
Um "sim" um pouco impaciente fez-se ouvir.
-A miúda ali atrás pôs-me um arame a segurar a sola do sapato...disse-me que aguentava e agora acho que caiu e não o encontro.
Lá fui eu, mas por mais que procurasse não via o arame.
Tive de voltar e disse-lho. Ela levantava e levantava o pé mal calçado a olhar para ele e eu a olhar para aquilo sem saber o que fazer. Por fim, tive uma inspiração. Ando sempre com um elástico no pulso para o caso de ter de prender o cabelo. Propus-lhe essa solução, isto é, de prender a sola ao sapato, com ele. E ela disse aflita:
-Ó filha, não! Agora vai ficar sem o seu elástico!
-Não se preocupe. Não me faz falta nenhuma. A senhora é que precisa prender essa sola senão ainda cai...Deixe-me fazer isso, sim? Olhe, o elástico é preto nem se nota.
Ajoelhei-me, meti o elástico por baixo, vi que ainda tinha uma folga e procurei dar um nó o mais apertado que consegui.
-Está a ver? Acho que consegue chegar a casa.
-Obrigada, filha. Deus lhe pague!
Eu encaminhei-me para o meu destino e ela lá foi avançando, arrastando o carrinho e levantando o pé uns bons centímetros do chão a cada passada. Olhei para trás uma e outra vez. Não estava convencida.
-Então, Robertina, fizeste o que te foi possível. Fizeste a tua boa acção do dia se é que já não tinhas feito outras que tais durante o dia!- disse-lhe eu.
-Eh pá, não. Depois, eu ali na Biblioteca, sentada, a folhear uma revista e a senhora a palmilhar com dificuldade o caminho até casa, sabe-se lá onde. Eu devia ter ido com ela...
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Imagem: Net
Olá Olinda
ResponderEliminarSão gestos assim que nos comove o coração.
Ainda existe pessoas que se preocupa com o próximo
Lindo conto amiga
Beijos
Uma pessoa que se interessa pelos outros. Coisa rara hoje em dia.
ResponderEliminarUm abraço e bom fim de semana
~º~*~º~*~º~*~º~*~º~*~º~*~º~*~º~*~º~*~º~
ResponderEliminarCoisas que, no momento, não nos ocorrem...
Gostei muito do texto, Olinda.
Uma chamada de atenção.
~~~ Grande abraço. ~~~
~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~
Qualquer ajuda é sempre boa, mesmo sendo incompleta.
ResponderEliminarOlinda, tem um bom fim de semana.
Abraço.
Boa tarde amiga
ResponderEliminarFeliz Natal!
abraço amigo!
Se desejar visite meu site. www.mariaalicecerqueira.com.br
Obrigada!
Maria Alice
Vinha só para visualizar o teu blogue e "tirar-lhe as medidas"... :)
ResponderEliminarImpossível: logo um texto que me saltou, que li e que me fez evocar alguns episódios que já vivenciei. Também não consigo ficar indiferente. Já é raro, este tipo de atitudes; de tal modo que já percebi a surpresa no olhar a quem perguntei se precisava de ajuda.
Obg pela tua visita. Apesar de, ultimamente, não conseguir ser assídua nos blogues (por isso também diminuo as minhas postagens), vou tentar vir com regularidade. Há por aqui um não sei que atraiu :)
Bjo, Olinda :)
Só sei que já engoli um sapo
ResponderEliminarmas não estou disponível para engolir uma rã
Bjs
Really?
Eliminarhahaha!!!
Ainda existem pessoas com um coração grande.
ResponderEliminarIsabel Sá
http://brilhos-da-moda.blogspot.pt
São pessoas como a Robertina que tornam o mundo melhor. Gostei tanto da história. Simplesmente inspiradora.
ResponderEliminarUm beijinho, Olinda
Uma pessoa exemplar , a Robertina!
ResponderEliminarBeijinhos para vós
Adorei a Robertina....mas ela que não se amofine,
ResponderEliminarpois há mais........a quem caiu o arame....
Maravilhoso, este bocadinho
Um Santo Natal
Beijo
Minha querida Olinda
ResponderEliminarVinha aqui só numa passagem rápida, dar-te um recado, mas não resisti a ler este lindo conto.
Enquanto houver "Robertinas" no mundo... há esperança de melhores dias. São cada vez menos vulgares, as "Robertinas", mas ainda vai aparecendo uma ou outra. Parabéns a ela, e a ti que no-la apresentaste!
O recado que te trazia era este: não precisas pedir o livro, eu encarrego-me de to mandar, ok?
Manda-me a tua morada, ou para onde o possa mandar, para o meu email:
maria.caiano@gmail.com
Beijinhos, querida.
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS
Muito obrigada, querida Mariazita.
EliminarFarei isso. Beijinhos.
Olinda
Olinda, as pessoas se surpreendem quando alguém lhes pergunta se precisam de ajuda. Só a disposição para auxiliar já faz um bem enorme ao coração de quem passa por dificuldades. E ainda existem muitos que, atentos, param com intenção de socorrer, o que nos leva a não perder a crença na humanidade. Bjs.
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