Anos depois da guerra, da fome, dos mortos, dos campos de concentração, dos casamentos, das separações, dos divórcios, dos livros, da política, do comunismo, ele telefonou. Sou eu. Ela reconheceu-o logo pela voz. Sou eu. Só queria ouvir a sua voz. Ela disse-lhe: Bom dia. Ele tinha medo como dantes, de tudo. A voz tinha estremecido, e foi nessa altura que ela reconheceu o sotaque da China do Norte.
Ele disse uma coisa sobre o irmão mais novo que ela não sabia: que o corpo dele nunca tinha sido encontrado, que ele tinha ficado sem sepultura. Ela não respondeu. Ele perguntou-lhe se ela ainda ali estava, ela disse que sim, que estava à espera que ele falasse. Ele disse que tinha deixado Sadec por causa dos estudos dos filhos, mas que ia para lá voltar mais tarde porque era o único sítio para onde lhe apetecia voltar.
Ele disse uma coisa sobre o irmão mais novo que ela não sabia: que o corpo dele nunca tinha sido encontrado, que ele tinha ficado sem sepultura. Ela não respondeu. Ele perguntou-lhe se ela ainda ali estava, ela disse que sim, que estava à espera que ele falasse. Ele disse que tinha deixado Sadec por causa dos estudos dos filhos, mas que ia para lá voltar mais tarde porque era o único sítio para onde lhe apetecia voltar.
Foi ela quem perguntou por Thanh, o que é que lhe aconteceu. Ele disse-lhe que nunca teve notícias de Thanh. Ela perguntou-lhe: nenhuma nunca? Ele disse, nunca. Ela perguntou-lhe qual era a opinião dele sobre isso. Ele disse-lhe que na sua opinião Thanh devia ter resolvido procurar a família na floresta do Sião e devia ter-se perdido e morrido aí, nessa floresta.
Ele disse que para ele era muito curioso que a história deles tivesse permanecido como era antes, que ainda a amava, que nunca poderia em toda a sua vida deixar de a amar. Que ia amá-la até à morte.
Ele ouviu-a a chorar ao telefone.
E depois continuou a ouvir chorar mais longe, do quarto dela sem dúvida, porque ela não desligou. E depois tentou continuar a ouvir. Ela já ali não estava. Tinha-se tornado invisível, inatingível. E ele chorou. Muito alto. Com todas as suas forças.
Extraí este texto das duas últimas páginas da obra de Marguerite Duras, 'O amante da China do Norte'. Nas palavras da autora, O livro poderia ter-se chamado "O Amor na Rua" ou "O Romance do Amante" ou "O Amante Recomeçado". No fim escolhemos entre estes dois títulos mais vastos, mais verdadeiros. "Escrevi este livro na felicidade louca de escrevê-lo".
Segundo o resumo, o livro conta a história da "criança": A criança, de 15 anos, tem uma mãe tentada a prostituir a filha e dois irmãos: o mais velho é violento e de mau carácter, o mais novo é medroso, um pouco atrasado mental. Não são ricos. Certo dia a criança, numa viagem pelo Mékong, encontra um jovem chinês de 27 anos, pertencente a uma família opulenta, e é amor à primeira vista. As origens separam-nos e a idade também, mas tal não os impede de viver uma intensa paixão que, embora contrária à sociedade que os rodeia e aos costumes familiares chineses, resistirá ao afastamento e à passagem dos anos. Esta história, que arrebata os sentidos e os corpos, tem, pois, a beleza, como diria a própria Marguerite Duras, da "soberana banalidade" do amor...
Voltarei a este livro e a esta história.
Para já, descubramos as semelhanças e as diferenças, os pontos de contacto, do texto acima transcrito com o meu texto do post anterior.
:)
Abraço
Olinda
Segundo o resumo, o livro conta a história da "criança": A criança, de 15 anos, tem uma mãe tentada a prostituir a filha e dois irmãos: o mais velho é violento e de mau carácter, o mais novo é medroso, um pouco atrasado mental. Não são ricos. Certo dia a criança, numa viagem pelo Mékong, encontra um jovem chinês de 27 anos, pertencente a uma família opulenta, e é amor à primeira vista. As origens separam-nos e a idade também, mas tal não os impede de viver uma intensa paixão que, embora contrária à sociedade que os rodeia e aos costumes familiares chineses, resistirá ao afastamento e à passagem dos anos. Esta história, que arrebata os sentidos e os corpos, tem, pois, a beleza, como diria a própria Marguerite Duras, da "soberana banalidade" do amor...
Voltarei a este livro e a esta história.
Para já, descubramos as semelhanças e as diferenças, os pontos de contacto, do texto acima transcrito com o meu texto do post anterior.
:)
Abraço
Olinda
Li este livro há tanto, tanto tempo, que não me lembro já muito bem do conteúdo e o título parecia-me ser só "O Amante", de que aliás há adaptação ao cinema.
ResponderEliminarDe qualquer modo, Duras não é a minha escritora preferida.
Ao contrário de outra Marguerite, que escreveu um dos livros da minha vida "Memórias de Adriano"...pois, essa mesmo : Marguerite Yourcenar.
Minha querida , bom serão
Querida Olinda,
ResponderEliminarsem tempo para frequentar os blogues amigos, como gostaria, vejo que chego quase sempre tarde...
Estive a ler o «post» anterior e gostei muito do estilo e do enredo. Sobre Duras (ela preencheu um pouco a minha juventude) é bom revisitá-la e ver essa velha capa dos Livros do Brasil...ah o amor, quase incógnito e banal...
Beijinho
O amor é a banalidade menos banal de todas! Pelo menos, para quem o vive. E para quem o lê, na esrita magnífica de Marguerite Duras!
ResponderEliminarQue bom que trazes para nós mais uma novidade , não tinha visto ou lido nada dessa autora, estou a conhecer agora a Marguerite Duras, valeu pelo compartilhamento.
ResponderEliminarAbraço
Tenho vaga ideia de ter lido alguma obra de Marguerite Duras há muito tempo, não sei é qual... O amor, sempre o amor, em todas as épocas e ruas!
ResponderEliminarBeijinhos, bom dia!
Nunca li. Essa vasta colecção tinha excelentes obras, tenho algumas cá!
ResponderEliminarBeijinhos
Ai de quem não namora
ResponderEliminarpela vida fora
Bj
Querida Olinda
ResponderEliminarTrago-te um abraço apertado, envolto em muita ternura, para agradecer a tua presença e as tuas palavras, sempre cheias de carinho.
Há muitos anos li, de Marguerite Duras, "O Amante", de que gostei bastante (embora não seja a autora de que mais gosto...). Este que referes ainda não li, mas o assunto é semelhante; penso que os livros dela rondam sempre o mesmo ambiente e personagens dentro do mesmo estilo.
Bom fim de semana.
Beijinhos
Olinda, conheço esta escritora, mas, parece-me que ainda não li nada dela. Mais uma vez...estou a aprender muito aqui.Duas belas histórias de amor que, como também acontece na vida real não têm um final feliz, embora o amor tenha ficado e agora seja motivo de grande sofrimento . As semelhante, creio que são precisamente essas. A diferença é que numa os costumes, as tradições e os preconceitos não permitiram que estes dois jovens ficassem juntos e o resultado foi uma uma vida de infortúnio. Não tiveram força para contrariar o estabelecido, mas quem sabe, um dia a vida não os junta? No outro caso, penso que não soube cuidar do grande amor que sentia pela sua amada e, como acontece muitas vezes, fez julgamentos precipitados acusando ou duvidando sem ouvir a outra parte. Desconfiança por parte de uma pessoa que diz que ama é muito difícil de aceitar e assim ele a perdeu. Não sei...mas não acredito que ela volte. Agora...seria a destruição de mais vidas. Obrigada, Olinda por nos colocares na posição de " colaboradoras ", pois gostei do desafio. Belas histórias! Beijinhos e boa noite, amiga!
ResponderEliminarEmília
(•̃‿•̃)
ResponderEliminarUn petit bonjour chez toi Olinda
GROS BISOUS d'Asie ❀
et bon dimanche ღ !!!!
Olá.
ResponderEliminarBom dia de domingo para você.
Um abraço.
Sou absolutamente apaixonada por esse livro! Engoli-o em menos de dois dias. Me encantei com a geografia, e a forma como Marguerite se conta na história.
ResponderEliminarBeijos, amiga, ótima semana!!
;))
Um história envolvente onde a linguagem do amor nos prende a cada instante.
ResponderEliminarUma ótima sinopse e introdução, Olinda
Beijinho grande!
Uma história que, pelo excerto, vale a pena ler.
ResponderEliminarComo não li, vou comprar o livro.
Olinda, tem uma boa semana.
Beijo.
Minha querida
ResponderEliminarUma estória linda, não li, mas vou tentar encontrar o livro.
Um beijinho com carinho
Sonhadora
Uma autora do meu agrado.
ResponderEliminarbeijinhos
Olá Olinda!
ResponderEliminarDepois de um tempinho ausente, aqui estou pra ver as novidades.
Ainda não conhecia a obra de Marguerite Duras, a história parece fantástica.
Vou ver se consigo encontrar.
Beijos e ótima semana!
Com sua postagem despertou interesse pela leitura da obra. Parece muito bom o livro. Bjs.
ResponderEliminar