Dai-me a casa vazia e simples onde a luz é preciosa. Dai-me a beleza intensa e nua do que é frugal. Quero comer devagar e gravemente como aquele que sabe o contorno carnudo e o peso grave das coisas.
Não quero possuir a terra mas ser um com ela. Não quero possuir nem dominar porque quero ser: esta é a necessidade.
Com veemência e fúria defendo a fidelidade ao estar terrestre. O mundo do ter perturba e paralisa e desvia em seus circuitos o estar, o viver, o ser. Dai-me a claridade daquilo que é exactamente o necessário.
Dai-me a limpeza de que não haja lucro. Que a vida seja limpa de todo o luxo e de todo o lixo. Chegou o tempo da nova aliança com a vida.
Inédito sem data
A casa que eu amei foi destroçada
A morte caminha no sossego do jardim
A vida sussurrada na folhagem
Subitamente quebrou-se não é minha
In Dual - 1972
Sophia de Mello Breyner Andresen
(1919-2004)
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Bom dia
ResponderEliminarEsta claridade é igual à de São Francisco e de outras almas brilhantes que se deixaram fundir na Luz de Deus e da natureza.
Viveram como se não nada tivessem e amaram mais do que sonharam.
`´E sempre bom encontrar escrita de qualidade: obrigada por no-la oferecer!
ResponderEliminarBom dia, querida Olinda, rrss
E são as rosas...os rios...os mares; são as pessoas na sua simplicidade...no seu sorriso....nos seus gestos, enfim...na sua humanidade que formam a" nossa casa" ; as paredes desmoram-se um dia, mas o que se viveu dentro delas ficará para sempre. Belas mensagens, amiga, para este início de ano, pois está na hora de começarmos a dar valor ao essencial e deixarmos para trás o supérfulo; é urgente que treinemos a cada dia o encantamento...o espanto por cada beleza que encontramos a cada passo do novo dia. Obrigada por este belo momento de reflexão. Saio daqui sempre mais rica, podes acreditar.
ResponderEliminarUm beijinho, querida Olinda.
Emília
O "ter" tem sido equivocada prioridade humana, em detrimento do cultivo da essência e da simplicidade. Bjs.
ResponderEliminarOlinda, Querida
ResponderEliminarA ambição humana é o facto de ter. Ter, possuir, subjugar, mas não resta nada espiritual. Os valores assim se perdem.
Mas quando desejamos o Amor, aí sentimos que somos gente igual e de igual merecimento.
Belíssimo para meditar.
Beijos
SOL
Na verdade
ResponderEliminarser não é ter
Ah, Olinda, é tudo tão límpido. A clareza e a luz da simplicidade não nos impede de ver o essencial, ainda somos vítimas de um sistema que nos oprime e diz que ser feliz é ter, ter muito, ter tudo, e desconsiderar a suavidade e a leveza do ser, o respeito à natureza e à toda gente.
ResponderEliminarUm texto reflexivo, simples e ao mesmo tempo profundo como são todos os que tu nos proporcionas.
Beijo!
;))
Em tempo: Sophia está para mim o mesmo que Clarice Lispector.
ResponderEliminarBeijo!
;))
Olinda, já vejo que tenho de ler Sophia: desconhecia estes tesouros!
ResponderEliminarBeijinhos
Olá, descobri hoje este Blog ;)
ResponderEliminarLindissimo texto......
Sónia
Taras e Manias
Querida amiga
ResponderEliminarVenho agradecer a sua presença lá no meu cantinho, obrigada pelo seu carinho.
Feliz 2014! Que este ano venha coberto de muita paz e amor!
Perdoe-me pelo meu silencio.
Tudo do melhor para você.
Abraço amigo!
Maria Alice
Oi Olinda vim conhecer seu blog e desejar a vc um maravilhoso fim de semana,bjs.
ResponderEliminarhttp://crismandarini.blogspot.com.br/
Magníficas escolhas.
ResponderEliminarNão conhecia nenhum dos textos.
Agradeço a partilha, por isso.
Olinda, minha amiga, tem um bom fim de semana.
Beijo.
Querida amiga
ResponderEliminarHoje faço um exercício de
"DESPOSSUIR".
Nada me pertence,
embora tudo faça parte de mim...
Desejo aos que amo, não bens materiais,
mas alegria...
A mais plena alegria...
Minha querida
ResponderEliminarQue o essencial seja o principal em todos nós. Um texto maravilhoso e tão verdadeiro.
votos de um Feliz 2014, pleno de amor e paz.
Um beijinho com carinho
Sonhadora