a leitura dos dias faz-se a partir de vitrais de água
e sombra de palavras
paisagens cidades descobertas algures sobre os dedos
estrangulados na incerteza mineral da noite
onde o cansaço me devora impedindo-me de prosseguir
paisagens cidades descobertas algures sobre os dedos
estrangulados na incerteza mineral da noite
onde o cansaço me devora impedindo-me de prosseguir
e ao aproximar-me do centro vertiginoso da página
o movimento da mão torna-se lento e a caligrafia meticulosa
a sede devassa a escassez dos corpos
o monólogo embate
despenha-se pelas brancas margens da desolação
o movimento da mão torna-se lento e a caligrafia meticulosa
a sede devassa a escassez dos corpos
o monólogo embate
despenha-se pelas brancas margens da desolação
o enigma de escrever para me manter vivo
a memória desaguando a pouco e pouco no esquecimento perfeito
para que nada sobreviva fora deste corpo viandante
a memória desaguando a pouco e pouco no esquecimento perfeito
para que nada sobreviva fora deste corpo viandante
vou assinalar os percursos da ausência e as visões
doutros lugares de sossegados amarantos...alimentar a escrita
com o sangue de cidades e de facas engorduradas
onde os corpos adquirem a violência noctívaga da fala
desfazendo-se depois na carícia viscosa dos néons
doutros lugares de sossegados amarantos...alimentar a escrita
com o sangue de cidades e de facas engorduradas
onde os corpos adquirem a violência noctívaga da fala
desfazendo-se depois na carícia viscosa dos néons
mas existe sempre um qualquer lume eterno
um coração feliz à esquina dos sonhos
surge o deserto que toda a noite procurei
está em cima desta mesa de trabalho no meio de palavras
donde nascem indecifráveis sinais...irrompe
o movimento doutro corpo colado ao aparo da caneta
desprende-se da folha de papel agride-me e foge
deixando-me as mãos tolhidas num fio de tinta
um coração feliz à esquina dos sonhos
surge o deserto que toda a noite procurei
está em cima desta mesa de trabalho no meio de palavras
donde nascem indecifráveis sinais...irrompe
o movimento doutro corpo colado ao aparo da caneta
desprende-se da folha de papel agride-me e foge
deixando-me as mãos tolhidas num fio de tinta
In 'O Medo'
****
Alberto Raposo Pidwell Tavares, (1948-1997) um meteoro na poesia portuguesa do século XX. De formação artística, desenho, pintura.Um expatriado voluntário fixando-se em Bruxelas e um viajante (Sardenha, Córsega, Sicília, Grécia, Málaga, Catalunha e Amesterdão). Escreve em francês. Assume-se como autor de textos literários. Regressa definitivamente em 1975 a Portugal e escreve o seu primeiro livro em português: À Procura do Vento num Jardim d'Agosto. Morreu vítima de cancro, no dia 13 de Junho de 1997. Meses antes, no Coliseu dos Recreios (Lisboa), tinha anunciado esse dia: "caminho com os braços levantados, e com a ponta dos dedos acendo o firmamento da alma/ espero que o vento passe... escuro, lento, então, entrarei nele, cintilante, leve... e desapareço."
****
Deixo-vos com Al Berto. Um poeta intenso. Deste seu poema destaco estes versos e faço-os meus:
mas existe sempre um qualquer lume eterno
um coração feliz à esquina dos sonhos
um coração feliz à esquina dos sonhos
Da minha parte, procurarei dobrar essa esquina e ombrear com os meus sonhos. Será importante concretizá-los? Não sei. Enquanto sonhos alimentam-nos e levam-nos sempre com o espírito alto, olhando mais e mais além...
É onde reside a grandeza dos poetas. A partir das suas criações poderemos recriar mil e uma situações, interpretações, adaptações. E está tudo ali ao nosso dispor.
E já chove. Também faz falta, não é?
Abraço
Olinda
Bela escrita
ResponderEliminarna água
ao correr das marés
É muito importante vir aqui conhecer mais um pouco sobre os literatos expostos em seu blog.
ResponderEliminarAcabo de fazer isso, pois não conhecia nada desse autor.
Muito bom mesmo.
Iremos verificar e ler mais seus trabalhos.
Abraço
Boa noite, Olinda!
ResponderEliminarTens sempre na manga ou debaixo do xaile um manancial de grandes poetas para nos oferecer. Tenho este livro do Al Berto. Um fora de série. Boa semana...bem molhadinha e ventosa.
M. Emília
SAUDADES
ResponderEliminarSentada no chão
Entre pedras e folhas secas…
Olho ao longe e vejo-vos
Vejo os dois, que pensam
Que o mundo é só vosso
Sinto magia…
………………………….
Amor lindo…
Amor partilhado…
Amor sentido…
Amor a dois…
………………………
E assim…
Olho para vós…
E sinto…
No vosso beijo
A Felicidade…
De quem tanto ama…
E de quem é amado…
Lili Laranjo (A vida é Amor:)
Também destacaria esses dois versos e a tuas palavras: " É onde reside a grandeza dos poetas. A partir das suas criações poderemos recriar mil e uma situações, interpretações, adaptações. E está tudo ali ao nosso dispor." E quanto aos sonho, Olinda, todos os dias sonhamos,, mas penso que não é importante que os realizemos todos; isso é exigir demais da vida; às vezes corremos demais para realizarmos sonhos difíceis de serem concretizados e perdemos pequenas realidades que, se observadas com cuidado nos deixariam felizes.Obrigada pela partilha, Olinda e vamos lá... vivendo um dia de cada vez, sem sonhar " alto demais, , tentando sempre fazer aquilo que nos mantenha vivos, aquilo que nos dê mais prazer. Um beijinho e boa noite, amiga.
ResponderEliminarEmília
É, dizem que faz falta... aqui, além, no campo, na horta, nos montes, sei lá, em muito sítio. Mas, a que cai em cima de mim, não podia ser para uma leira, para uma represa, para um lugar onde fizesse mais qualquer coisa do que... só molhar?!...
ResponderEliminarFico melhor a ler este poema.
abraço.
Destaco o feliz para Al Berto "surge o deserto que toda a noite procurei".
ResponderEliminarSim, é importante ter sonhos e objectivos, é mesmo o que, às vezes, nos arrasta para a frente.
Beijinhos ;)
Foi ele que disse uma frase extraordinária a um grupo de poetas mais jovens que se afirmavam como possuidores da continuação da poesia: "Ninguém é dono do futuro!".
ResponderEliminarGosto da sua poesia e admiro a coragem de ter assumido a sua orientação sexual num tempo em que era ainda complicado fazê-lo.
Querida Olinda, abraço grande
Bom recordar este poeta que já nos deixou. É bom os poetas não morrerem
ResponderEliminaratravés da sua obra.
Desejo que esteja bem.
Bj.
Irene Alves
Que linda apresentação! Um escritor que merece aplausos, pela mostra que nos ofereceu. Aliás, sua colocação final é um chamado à manutenção dos sonhos, tão preciosos. Bjs.
ResponderEliminarPoemas lentos e mornos das noites esquecidas em fios de tinta.
ResponderEliminarSimplesmente belos. Uma escrita envolvente e de muita suavidade. Ideias amadurecidas na cor das palavras e no contraste com os sentimentos do poeta.
Maravilhoso recordar estes cantos à vida.
Sempre com belos poemas, de bons autores.
ResponderEliminarVou pesquisar um pouco.
Bom fim de semana
Beijo
É curioso como sempre fui avessa à poesia, mas tenho vindo a descobrir aqui e noutro blog excelentes autores e estou a começar a gostar! Acho que a poesia requer tempo, abertura e paciência.
ResponderEliminarBeijinhos
Arrebatador, fez o que está na alma do poeta: dar vida, sentido, sentimento e movimento ao mundo. Tudo existe, mas sem a poesia, tudo seria opaco!
ResponderEliminarUm beijo, amiga e tenhas uma ótima semana!
;))
“À esquina dos sonhos”,
ResponderEliminarEmbriagada por medronhos
Deito a manta e aconhego
No feitiço de um ´chamego
Debaixo de chuva miudinha
Passeio minh`alma quentinha!
Do resto do mundo em desassossego
Solto-me em puro desapego...
Meu beijinho menina (O)linda
Desejo a você uma semana de paz e realizaçãoes
ResponderEliminarsemeia amor e carinho no decorrer dessa semana
verá a diferença em sua vida.
È agradavel sermos benevolente com nossa familia
amigos afinal somos todos irmãos.
Podemos escolher entre o bem e o mal
tudo depende de nós.
Eu já deixai tantas mensagens semeando amor
por onde passei nem por isso recebi de todos
os frutos das sementes que plantei.
Uns leram guardaram no fundo do coração
por outros passei despercebida.
Uma certeza eu tenho não passei
despercebida aos olhos de quem
tem amizade verdadeira e muito menos
passei despercebida aos olhos do Pai.
Podemos escolher o que semear ,
mas somos obrigados a colher
aquilo que semeamos.
Plantemos amor colheremos fatalmente
a sonhada felicidade.
Uma abençoada semana de me suas mãos me ajuda a caminhar
o resto é o nada diante de Deus.
Paz e luz , Evanir.
Oi Olinda!
ResponderEliminarPreciosos, maravilhosos...
Não imagino como seria o universo sem a poesia.
Bela postagem!
Estive off por isso a demora em estar aqui.
Cá de volta estou eu.
Beijos!
Enorme artista!
ResponderEliminarGosto tanto deste poema...
bjs